Mesmo 30 anos depois da sua constituição, o propósito de atuação da ANIPLA – Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas – continua o mesmo: alimentar uma população em crescendo, com a qualidade e quantidade necessárias, num rigoroso respeito para com a natureza, a fauna, a flora, os ecossistemas, o mundo, o planeta. Claro que nestas três décadas houve necessariamente um ajuste à forma como o atingir. É isso que nos explica em entrevista a presidente da direção da Associação, Felisbela Campos.

O que é hoje a ANIPLA, 30 anos após a sua criação?

É certo que muito mudou desde a criação da Associação, em 1992, e que os objetivos foram progressivamente sendo ajustados e adaptados às necessidades de um setor em constante evolução. Contudo, e mesmo perante um paradigma de agricultura em permanente evolução, sentimos que o propósito de atuação da ANIPLA e aquilo que representa nos dias de hoje, continua a poder ser resumido com uma missão essencial: alimentar uma população em crescendo, com a qualidade e quantidade necessárias, num rigoroso respeito para com a natureza, a fauna, a flora, os ecossistemas, o mundo, o planeta. Acreditamos que por muito que mude, o respeito pelas boas práticas, a consciencialização para a preservação do planeta e da biodiversidade e para a importância de alimentar uma população global de forma sustentável continuam a ser missões fundamentais da ANIPLA, presentes há 30 anos quando nasceu e para sempre vincadas no seu futuro enquanto associação representante da indústria e dos seus profissionais.

Quais foram os momentos mais marcantes para o setor ao longo destas três décadas?

Entre assinaturas de acordos, protocolos, normativas europeias, o assinalar de datas fundamentais para o planeta, entre outras iniciativas, são muitos os momentos que marcam estes 30 anos de trabalho da Associação. Contudo, há fatores que se destacam com maior impacto na evolução geral da atividade agrícola nas últimas décadas: o exemplar avanço da tecnologia aplicada à agricultura – que tem colocado à disposição de todo o setor, as mais avançadas maquinarias, tecnologias e ferramentas de trabalho; a crescente exigência regulamentar – que confere confiança e segurança sobre a forma como os nossos alimentos são produzidos e, consequentemente, sobre o que chega à mesa das famílias portuguesas; a tomada de consciência por parte dos intervenientes no setor da proteção vegetal e a crescente aposta na formação profissional, mantendo todo o setor a par das exigências e preparando-o para o escrupuloso cumprimento das boas práticas; e ainda, bastante mais recente, uma crescente curiosidade da sociedade civil sobre o papel determinante da prática agrícola para a atividade económica, aproximando o mundo urbano do mundo rural, estreitando distâncias e contribuindo para uma crescente consciencialização social.

De entre muitas conquistas alcançadas nestes 30 anos destacamos a criação do Valorfito

De entre muitas conquistas alcançadas nestes 30 anos destacamos a criação do Valorfito, pela ANIPLA e Groquifar em 2006, onde a ANIPLA detém 87,5% do capital social, que então sob a Direção de Armando Murta e atualmente de António Lopes Dias, dá um imenso contributo para a sustentabilidade do setor; a formação e sensibilização do setor produtivo, junto de mais de 55 mil agricultores e técnicos para a importância da adoção da proteção integrada e para o uso de práticas agrícolas que promovem a Biodiversidade; os inúmeros congressos, seminários e fóruns que lançaram importantes temas do setor agrícola, alertando a sociedade portuguesa para a importância desta atividade que nos permite a todos alimentar o nosso dia a dia; os estudos de impactos realizados pela ANIPLA, em 2016 e 2020 antecipando as repercussões económicas da retirada de um vasto conjunto substâncias ativas (s.a.) e o efeito das metas definidas no pacto ecológico europeu nas principais culturas em Portugal.

As próprias empresas associadas da ANIPLA também mudaram ao longo deste período?

Claro que sim, 30 anos são feitos de inúmeras sinergias, de um envolvimento entre os diferentes agentes que atuam na defesa da produção alimentar e dos produtores agrícolas, por isso, três décadas de trabalho são sinónimo de uma enorme evolução para todos; de uma eficácia cada vez maior no trabalho em parceria e de uma progressiva e cada vez mais sólida extensão do papel das empresas associadas da ANIPLA na defesa do setor agrícola e dos seus profissionais. É um caminho feito de diferentes projetos, mas, sem dúvida, de muita evolução e crescimento conjunto.

Atualmente a indústria disponibiliza tecnologias inovadoras e complementares em vários âmbitos, como a biotecnologia, os biopesticidas e ferramentas de precisão, que ajudam os agricultores a superar os atuais e futuros desafios e aumentam a sua capacidade no combate às pragas, doenças e infestantes, não descurando o ambiente e a parte social.

Porquê a campanha ’30 anos, 30 passos’?

A campanha 30 anos, 30 passos, surge para celebrar uma data muito marcante para a ANIPLA. São já três décadas ao serviço da agricultura nacional e de um apoio contínuo e constante à indústria e aos seus profissionais, que sentimos que merecia ser assinalado e partilhado de forma informativa com toda a comunidade – desde a opinião pública, até parceiros, órgãos de comunicação social e muito mais. Assim, propusemo-nos a embarcar numa viagem ao longo de todo este ano, com paragem num conjunto de 30 momentos que, de alguma forma, determinaram o rumo da agricultura em Portugal e marcaram de forma ímpar a forma de produzir alimentos. Para relembrar 30 anos de trabalho e, por consequência, 30 anos de marcos, trouxemos para o diálogo um conjunto de personalidades e testemunhos que de alguma forma estiveram envolvidos em diferentes operações em prol de melhorias para o setor agrícola como um todo e são essas pessoas que vamos escutar ao longo do ano, através das nossas redes sociais e plataformas de comunicação. Muito além de celebrar, o objetivo é contribuir para uma maior informação do público em geral e para uma partilha do que representa o papel fundamental da ANIPLA na forma como hoje nos alimentamos e como continuaremos a alimentar-nos no futuro.

Aconteceu recentemente mais uma entrega dos prémios Valorfito, o que gostaria de destacar em relação a esta edição?

2021 foi um ano marcante para o Valorfito, quando após dois anos de pandemia, o sistema superou todos os seus resultados na recolha de embalagens usadas. Em 2021, a taxa de retoma de global aumentou e o Valorfito recolheu, pela primeira vez, mais de 500 toneladas de embalagens vazias de Produtos Fitofarmacêuticos, Sementes e Biocidas (que colocaram a taxa de retoma global acima dos 45%, num crescimento de 6,3% face às recolhas de 2020).

Há ainda que assinalar que no ano de 2021 a contribuição do Valorfito para a prevenção de emissão de CO2 para a atmosfera, por via do encaminhamento dos resíduos de embalagem para reciclagem e valorização foi de 753 t de CO2 eq, ou seja, apresentou um crescimento de 2,4% face ao ano anterior. Esta quantidade, que corresponde a 1927 barris ou 262 toneladas de petróleo reflete o contributo fundamental do setor agrícola para o combate às alterações climáticas.

Por tudo isto a edição deste ano de entrega de prémios Valorfito foi ainda mais especial para todos os envolvidos nesta missão de proteger o planeta e assegurar a sustentabilidade do sistema. Foi um momento em que tivemos o privilégio e o prazer de fazer justiça relativamente a um dos grandes pilares do sistema Valorfito, os pontos de retoma, e ainda de dar conta dos excelentes resultados obtidos, premiando alguns dos principais pontos. Foi também um momento importante para estabelecer novas metas, relembrar os principais desafios que o setor enfrenta e reforçar os principais passos para, no futuro, conseguir atingir os tão desejados 60% de retoma global, que constitui, sem dúvida, um dos nossos principais objetivos num futuro próximo. Parece algo longínquo e difícil, mas não vamos desistir e contaremos com o empenho de todos para alcançar. As contas vão fazer-se no final, com o habitual empenho de todos.

O recente relatório do Eurostat revela que Portugal se encontra no segundo lugar dos países europeus com maior redução de vendas de produtos fitofarmacêuticos (entre 2011 e 2020). O que é que estes dados podem significar para a agricultura portuguesa?

A resposta é óbvia e os números não nos deixam mentir: segundo o relatório publicado recentemente pelo Eurostat, entre 2011 e 2020, 11 dos 16 estados-membros registaram uma redução muito expressiva nas vendas de produtos fitofarmacêuticos. O que só significa uma coisa: a agricultura está a modernizar-se dia após dia, em prol de um planeta mais seguro e onde todos nos alimentamos de forma sustentável; a formação de profissionais e a sua capacitação para o uso de técnicas cada vez mais eficientes e avançadas é uma constante e hoje estamos aptos para produzir mais e melhor, otimizando recursos e garantindo a sanidade vegetal.

Face a este dado e ao atual contexto mundial, que desafios têm pela frente os associados da ANIPLA a curto prazo?

Avizinham-se tempos delicados para o setor da agricultura e alimentação, com enormes desafios. O atual contexto mundial está a obrigar-nos a refletir profundamente sobre a questão da dependência alimentar externa e sobre os constrangimentos impostos à produção a nível europeu, pelo que é importante reforçar o esforço e trabalho conjunto para contribuir para a solução e transformação necessária à Agricultura.

Os novos órgãos sociais da ANIPLA recentemente eleitos para o triénio 2022/2024 terão como base de trabalho três linhas fundamentais; a inovação, a transformação digital e a sustentabilidade, e assim contribuir de forma inteligente e eficiente para a mudança.

João Cardoso – Diretor Executivo da Anipla

O papel de Indústria fitofarmacêutica é parte da solução no cumprimento das exigências do pacto ecológico europeu e das suas estratégias, e anunciámos já os nossos compromissos até 2030. Entre as medidas principais, está um investimento a nível europeu de mais 14 mil milhões de euros em novas tecnologias e produtos mais sustentáveis até 2030.

Inovação e Investimento, Economia Circular e Proteção das Pessoas e do Ambiente constituem os três eixos centrais destes compromissos, que passam por investir, a nível europeu, 10 mil milhões de euros em inovação em tecnologias digitais e de de precisão e 4 mil milhões de euros em inovação em biopesticidas; aumentar a taxa de retoma dos resíduos de embalagens de produtos fitofarmacêuticos para 75%; e formar os agricultores na implementação da proteção integrada, proteção da água e importância dos equipamentos de proteção individual.

Para liderar a implementação desta estratégia para o próximo triénio, a ANIPLA nomeou um novo Diretor Executivo, João Cardoso.

→ Leia a entrevista completa na edição de julho 2022 da Revista Voz do Campo.