Paulo Fardilha Diretor geral da Agroglobal

Ligado à organização da Agroglobal desde a primeira edição, Paulo Fardilha é desde fevereiro deste ano diretor geral da Agroglobal no CNEMA, a par de outros projetos que desenvolve a título individual.

Paulo Fardilha – Diretor da Agroglobal

Acredita que a mudança da Agroglobal será vantajosa para todos os intervenientes, registando-se já uma forte manifestação de interesse por parte das empresas do setor relativamente à edição de 2023. Falta pouco menos de um ano por isso os preparativos estão em marcha. E para quem enaltecia a Agroglobal pelos campos de demonstração fica a certeza de que são para continuar, alguns no recinto exterior do CNEMA, outros numa área bastante próxima e com acesso direto, do mesmo modo que irão manter-se as ações de demonstração com máquinas agrícolas, florestais e veículos todo-o-terreno.

Em primeiro lugar trace-nos um perfil profissional do Eng.º Paulo Fardilha.

Iniciei a minha atividade profissional em 1991, na Valinveste – Investimento e Gestão Agrícola, Lda. – após ter realizado um estágio curricular na empresa, no âmbito do curso de Produção Agrícola da Escola Superior Agrária de Santarém, no verão de 1990. Em janeiro de 1991 o Eng.º Pedro Torres desafiou-me a criar o departamento de regas e espaços verdes dentro da Valinveste, desafio que aceitei e desenvolvi durante sete anos.

Findo esse período assumi funções de gestão e fui responsável pelos projetos de adaptação de parcelas ao regadio, implementando sistemas de rega tipo “center pivot”, nas novas áreas de exploração da empresa.

Ao longo dos anos fui assumindo cada vez mais responsabilidades na gestão da principal atividade da empresa, a produção de milho grão e sua comercialização, embora durante alguns anos também tenhamos produzido tomate para a indústria (enquanto funcionou a DAI em Coruche).

Em 2009 a Valinveste realizou a primeira edição do que seria a futura Agroglobal, em cuja organização estive envolvido até 2021. Como é público, em setembro de 2021 os organizadores da Agroglobal, Eng.º Pedro Torres e Eng.º Manuel Paim anunciaram a última edição da Feira em Porto de Muge e a respetiva transferência para a alçada do CNEMA, em Santarém. Nessa altura o presidente da CAP, entidade responsável pelo CNEMA, convidou-me a assumir a liderança da organização da IX edição da Agroglobal, o que implicou a cessação de funções na Valinveste no final de janeiro deste ano. No dia seguinte assumi o cargo de diretor geral da Agroglobal no CNEMA.

Atualmente mantenho esta atividade, principalmente em Angola, com uma empresa própria e em permanência, para instalação de sistemas de rega e apoio agronómico a projetos agrícolas de regadio.

Para terminar, o meu perfil profissional nunca poderá ser desligado da influência de 31 anos de atividade na Valinveste ao lado do Eng.º Pedro Torres. Os sucessos e alguns insucessos ao longo de todos estes anos, permitiram-me uma aprendizagem profissional que me dão a confiança necessária para abraçar este grande desafio, a Agroglobal 2023.

Com que sentimento assumiu a responsabilidade da coordenação da organização da Agroglobal 2023?

É precisamente com o sentimento de muita responsabilidade que assumo a gestão deste evento, onde a cada dois anos se juntam as principais empresas ligadas ao agronegócio. Hoje é um evento marcante para todo o setor “Agro” que conta com o apoio e o envolvimento crescente das várias empresas que sempre dinamizaram a Agroglobal. Desta forma, entendi que poderia dar um contributo com a minha experiência nas edições anteriores a esta mudança de local e de organização.

Que vantagens podem advir para a Agroglobal pelo facto de passar a ser organizada dentro de uma estrutura como o CNEMA?

Embora a moldura que todos nós guardamos dos campos ao lado do rio Tejo seja irreplicável, a realização deste evento naquele local era cada vez mais difícil, devido à sua dimensão e potencial de crescimento. Por isso, acredito que para um evento que se quer cada vez mais profissional as vantagens desta mudança superam as desvantagens.

A passagem para o CNEMA tem como primeira vantagem os acessos ao evento dada a sua localização no centro do país, com fácil ligação às principais autoestradas. Para além disso, a partir da cidade de Santarém a deslocação até ao evento poderá ser feita de comboio ou autocarro e as várias zonas de estacionamento existentes, permitem outro tipo de conforto aos visitantes.

Já está definida a data da Agroglobal 2023?

Sim, será nos dias 5, 6 e 7 de setembro.

A esta distância, como estão a correr os preparativos? Qual tem sido a manifestação de interesse por parte das empresas?

Os preparativos e as adaptações necessárias nas infraestruturas existentes no CNEMA para a realização da próxima Agroglobal estão a desenrolar-se conforme planeado e a partir deste mês entrarão num ritmo mais acelerado.

Após a fase de planeamento, adaptação da estrutura existente e o reforço da equipa na organização dos campos de demonstração, iniciámos os contactos comerciais com as empresas.

Podemos desde já afirmar que após conhecerem o projeto as empresas manifestaram desde logo todo o interesse em marcar presença e em envolverem-se nas atividades que irão desenvolver-se na Agroglobal de 2023. Inclusivamente algumas destas empresas já apresentaram propostas para novas atividades a realizar durante o evento.

Quais serão as principais mudanças em relação à localização e organização anteriores? De que forma é que a mudança vai ser “minimizada” para continuar a atrair empresas, expositores, participantes (…)?

Em relação à localização destacam-se os acessos, o estacionamento e um conjunto de infraestruturas instaladas no recinto de forma permanente e adaptadas a este tipo de eventos.

Quanto à organização, eu fui a única pessoa que transitou das edições anteriores mas encontrei uma estrutura humana bastante motivada para receber a Agroglobal e com bastante experiência na organização de eventos. Tal como nas outras edições, será necessário recorrer a serviços externos para conseguirmos responder aos trabalhos que um evento com tantas especificidades exige.

Quanto a “minimizar” a mudança, não sei se o caminho será esse, mas antes sermos “Cada Vez Mais – Agroglobal”, tal como já está indicado no site.

Os campos de demonstração têm sido um dos grandes atrativos da Agroglobal. São para continuar nos mesmos moldes? Nesse caso em que localização?

Os campos de demonstração são para continuar, alguns no recinto exterior do CNEMA, outros numa área exterior ao recinto, mas bastante próximo e com acesso direto. Já estamos a trabalhar com as empresas que normalmente desenvolvem estas atividades, nas culturas permanentes e nas culturas anuais. De igual modo, iremos também manter ações de demonstração com máquinas agrícolas, florestais e veículos todo-o-terreno.

Num contexto difícil a nível mundial, e embora não seja possível fazer muitas previsões, como é que vê a evolução da agricultura no nosso país?

Portugal, embora seja um país pequeno em dimensão territorial, tem uma multiplicidade de sistemas culturais e de ecossistemas muito apreciáveis e distintos. A agricultura que se pratica a sul é muito diferente da que se pratica a norte e o mesmo acontece do litoral para o interior. Por isso, é importante saber fazer uma agricultura adequada ao território, na certeza de que as dificuldades que se vêm agravando, tanto pelas alterações climáticas, como agora pela instabilidade criada com a guerra na Ucrânia, obriguem a um reforçado investimento nas novas tecnologias e, sobretudo, numa correta utilização dos recursos, como a água e o próprio solo. Ou seja, temos de dirigir o foco para maximizar a eficiência na produção. Necessitamos de maior capacidade de armazenamento de água e que seja permitida a sua utilização para fins agrícolas, sem esquecer as necessidades para consumo humano, produção e comercialização de energia.

De igual modo, será também importante intensificar ainda mais algumas culturas, a fim de reduzirmos a nossa dependência do exterior. Isso implica investir não apenas em conhecimento, mas também em infraestruturas de armazenamento de água, que permitam reduzir a nossa dependência das chuvas, evitando-se assim o desperdício de água que todos os anos “deixamos” escoar para o mar. No limite, com uma infraestrutura que permita um “transvase” do Norte para o Sul do país.

Dado que está ligado à organização da Agroglobal desde a primeira edição, como vê o impacto da mesma na agricultura nacional ao longo destes anos e o que é que ainda pode acrescentar?

A Agroglobal foi concebida em 2009 na sua primeira edição como “Feira do Milho”, em 2010 como “Feira do Milho e das Grandes Culturas” e só nos anos seguintes como Agroglobal – Nós Semeamos.

O primeiro evento, em 2009 nasceu da vontade do Eng.º Pedro Torres juntar as empresas que operavam no setor do agronegócio. Numa altura em que todo o setor manifestava descontentamento com os seus resultados, procurou-se criar um evento que de alguma forma elevasse a autoestima dos seus profissionais. Ao longo das várias edições da Agroglobal foi sendo atingido o propósito de que os profissionais do setor agro fossem criando relações que culminassem em negócios.

Hoje podemos afirmar que a Agroglobal atingiu os seus primeiros objetivos. Este é um evento que marcou, e marcará sempre, o setor agro e o próprio país, pela sua génese que desde a primeira edição colocou o conhecimento e o vanguardismo ao serviço do progresso da agricultura.

Surgiu assim uma dinâmica virada para os profissionais, agricultores, prestadores de serviços, cientistas, novas tecnologias, fatores de produção, e muitos outros, como os bancos, seguros, consultoras, empresas de estudos e projetos, etc. É, sem dúvida uma feira para profissionais. São três dias de encontro entre empresas, técnicos e empresários, de todos os setores, que se interligam e misturam no vasto universo que constitui o setor agroflorestal, pecuário e de conservação que envolve a agricultura.

Mesmo durante a pandemia o evento de 2020, embora diferente, marcou presença e mostrou a importância de todo o setor num período com muitas condicionantes para o dia-a-dia de todos nós.

Mas os desafios continuam, a guerra na Ucrânia, com a instabilidade à escala global, a implementação do PEPAC, já em 2023 e as novidades ao nível tecnológico não param!

Por isso, a IX edição da Agroglobal faz cada vez mais sentido, envolvendo mais empresas do agronegócio e apenas um caminho: “Cada Vez Mais Agroglobal” (…).

→ Entrevista completa publicada na edição de outubro 2022 da Revista Voz do Campo.

Artigo relacionado:

5 a 7 de setembro: Agroglobal 2023