Introdução

A doença da murchidão do pinheiro (DMP) é uma das maiores ameaças para as florestas de coníferas em todo o mundo, resultando num impacto socioeconómico e ecológico severo nos países afetados. A DMP foi inicialmente detetada em países asiáticos (1905, Japão; 1982-88, China, Coreia do Sul e Taiwan), chegando à Europa e a Portugal em 1999, com a sua deteção na península de Setúbal (Mota et al., 1999).

Posteriormente, foi assinalada na ilha da Madeira (Fonseca et al., 2012) e em Espanha (Abelleira et al., 2011), não havendo até hoje nenhuma deteção noutro país europeu. A identificação do agente causal da DMP, o nemátode da madeira do pinheiro (NMP), Bursaphelenchus xylophilus, em Portugal levou de imediato à atuação concertada das autoridades nacionais e europeias para a tomada de decisões estratégicas de controlo da dispersão do NMP. Como consequência, foi implementado o plano estratégico de controlo da DMP por parte das autoridades da administração pública, como a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) em articulação com unidades de I&D, Federações e Organizações de Produtores Florestais.

A atual estratégia nacional de combate à DMP desenvolve-se em diferentes frentes, nomeadamente, na prospeção, amostragem e abate de árvores em declínio; na instalação de armadilhas para o controlo do insetovetor do NMP; no tratamento térmico da madeira destinada à circulação dentro e fora de Portugal; na fiscalização do cumprimento das normativas em vigor por parte das autoridades competentes; na promoção de ações de informação e sensibilização dos público-salvo; e no investimento em investigação científica nas diferentes vertentes com o objetivo de ampliar o conhecimento acerca da DMP e desenvolver soluções práticas e aplicáveis ao seu combate (Rodrigues et al., 2013).

Os sintomas associados à DMP incluem a redução da produção de resina, amarelecimento e murchidão das agulhas, e secura parcial ou total da copa (Figura 1). Contudo, esta sintomatologia poderá ser igualmente provocada por outros fatores bióticos ou abióticos (como sucede com as árvores afogueadas), obrigando, portanto, à necessária verificação da presença do NMP em laboratórios designados para a função (e.g., NemaINIAV, sendo o INIAV o Laboratório Nacional de Referência para a Sanidade Vegetal).

Interações Biológicas na DMP

A DMP resulta de uma complexa interação biológica entre três agentes muito distintos: o NMP, B. xylophilus; o seu inseto-vetor, Monochamus spp. (Coleoptera: Cerambycidae) que permite o transporte e dispersão do NMP; e a árvore hospedeira, maioritariamente Pinus spp. (e.g., pinheiro bravo, P. pinaster) (Figura 2). A infeção pelo NMP ocorre através da alimentação do inseto-vetor em árvores saudáveis (conhecida por transmissão primária). O NMP entra na árvore e dispersa-se pelo sistema vascular e canais resinosos, alimentando-se das células vivas do parênquima (fase fitófaga do NMP). O ciclo de vida do nemátode é composto por 4 estados juvenis (J1 -J4 ) até finalmente passar para o estado adulto, com machos e fêmeas (…).

→ Leia o artigo completo na edição de março de 2021.

Autoria:

Cláudia Vicente1,2 e Maria de Lurdes Inácio1

1INIAV, I.P. – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Quinta do Marquês, 2780-159 Oeiras, Portugal

2MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, Instituto de Investigação e Formação Avançada, Universidade de Évora, Pólo da Mitra, Ap. 94, 7006-554 Évora, Portugal


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