Os microrganismos do solo intervêm numa série de processos fundamentais para a saúde e fertilidade do solo, assim como para a sustentação da vida e crescimento das plantas. As práticas agrícolas devem favorecer a sua ação.

Saiba mais sobre a importância dos microrganismos do solo:

1. O solo como habitat para a vida microbiana

O solo é constituído por partículas como areia, limo, argila, ar, água e matéria orgânica. As partículas de solo associam-se e formam os agregados. Entre os agregados ficam espaços vazios de diferentes dimensões (estrutura do solo) onde se movimenta a água e o ar, e crescem as raízes das plantas.

O desenvolvimento dos microrganismos do solo ocorre preferencialmente associado às raízes das plantas, pois é onde encontram maior disponibilidade dos nutrientes de que precisam para o seu crescimento (rizodeposição).

O solo oferece uma enorme diversidade de micro-habitats, que são nichos de crescimento para os diferentes microrganismos. Num solo saudável encontramos uma enorme biodiversidade.

2. A Biodiversidade do solo

Numa colher de solo existem mais microrganismos do que habitantes na Terra. No solo encontra-se cerca de 25% da diversidade da vida terrestre. São números impressionantes que resultam da sua dimensão microscópica e das características do solo como suporte de vida.

3. O papel dos microrganismos do solo, e porque são importantes

Os microrganismos são importantes para muitas das funções do solo. Um dos principais papéis dos microrganismos do solo consiste na sua capacidade em transformar a matéria orgânica em matéria inorgânica (mineralização) e assim disponibilizar os nutrientes necessários para o crescimento das plantas. Para além disso, fazem a fixação de azoto atmosférico, contribuem para a agregação das partículas do solo, e desta forma contribuem para a estabilidade da sua estrutura, degradam pesticidas, produzem compostos reguladores do crescimento das plantas, e contribuem ainda para o sequestro de carbono. Para além disso, da interacção entre eles e as raízes das plantas podem resultar vários benefícios para o crescimento vegetal.

4. Os perigos da perda de biodiversidade no solo

Quando a biodiversidade se reduz as possibilidades de interacção são menores. Para além disso perde-se redundância e complementaridade de acção entre os organismos, e altera-se a estrutura das comunidades. Pode conduzir à dominância de microrganismos prejudiciais, por perda do seu controlo por parte de outros. Este processo resulta em perda de funções do solo, e um ecossistema mais frágil e menos resiliente.

5. Atividade microbiana e a agricultura

Na intensificação sustentável dos sistemas produtivos é fundamental não introduzir distorções que comprometam a lógica ecológica da produção agrícola. Apesar do nosso relativo desconhecimento sobre os microrganismos do solo, sabemos que determinadas práticas agrícolas são claramente lesivas da actividade e biodiversidade microbiana e como tal devem ser evitadas ou minimizadas. A sua adequação de forma a capitalizar os benefícios dos microrganismos do solo é possível e praticada com sucesso em alguns sistemas agrícolas.

6. Efeito da mobilização nos microrganismos do solo

A mobilização intensiva do solo destrói a sua porosidade natural uniformizando habitats e quebrando a rede de micélios dos fungos. No caso dos fungos micorrízicos arbusculares, inviabiliza a rápida colonização da planta hospedeira, comprometendo a bioprotecção contra stresses bióticos e abióticos que podem conferir.

7. Efeito das culturas nos microrganismos do solo

A diversidade de culturas está diretamente relacionada com a diversidade microbiana do solo. Cada planta tem associado à sua rizosfera um grupo relativamente específico de microrganismos, pelo que um sistema de monocultura conduz a grandes desequilíbrios na comunidade microbiana do solo.

O uso de rotação de culturas ou culturas de cobertura, entre outras vantagens, contribui de forma significativa para a biodiversidade do solo. Nas culturas permanentes, as plantas que crescem na entrelinha podem desempenhar esse papel.

8. Microrganismos nativos versus inóculos comerciais

Nos últimos anos tem-se assistido ao desenvolvimento de diversos inóculos comercias de microrganismos. Estes inóculos poderão ser úteis em casos muito específicos, mas a sua aplicação massiva não é isenta de riscos para o ecossistema. Os microrganismos nativos de cada local estão seguramente mais adaptados, encerram maior diversidade e não têm custos, sendo que podem ser favorecidos pela adopção de técnicas culturais adequadas.

Autoria: Isabel Brito
Professora Auxiliar Universidade de Évora – MED/CHANGE