São vários e importantes os desafios que os gestores dos vários sistemas agrários Mediterrânicos estão, e continuarão, a ter que enfrentar para conseguir produzir mais, de uma forma economicamente eficiente e cuidando do ambiente que é de todos e para todos.

O melhoramento de plantas desempenha um papel fundamental na garantia da produção de alimentos e de alimentos saudáveis, ao mesmo tempo que otimiza a utilização dos recursos e minimiza os impactos ambientais. A crescente demanda por parte de uma população mundial cada vez maior aumenta ainda mais a necessidade de obtenção de variedades melhoradas (Boller e Kölliker, 2016). Neste sentido, e em particular para o setor pratense e forrageiro, com o objetivo de contribuir para a sua capacitação o Polo de Elvas do Instituto Nacional de Investigação Agrária a Veterinária, I.P. (Estação de Melhoramento de Plantas) há 76 anos que desenvolve programas de melhoramento genético de diversas espécies com aptidão pratense e/ou forrageira com o principal objetivo de obter novas variedades. As metas e critérios de seleção de cada programa são definidos de forma a corresponderem às diferentes exigências do mercado, aos condicionalismos caraterísticos de cada época e às perspetivas de evolução dos diferentes sistemas agrários. Para se atingirem as metas propostas, os melhoradores devem manter-se em estreita colaboração com o setor empresarial produtivo, a indústria e a distribuição.

Os cereais forrageiros e leguminosas dos géneros Vicia e Lathyrus foram as primeiras espécies vegetais a serem sujeitas a técnicas de melhoramento no INIAV-Elvas. Da execução destes programas resultou a disponibilização para o mercado, através da sua inscrição no Catálogo Nacional de Variedades (CNV), de duas variedades de ervilhaca-de-cachos-roxos, uma ervilhaca-vermelha, três ervilhaca-vulgar, uma aveia e um triticale forrageiro. Estas variedades mantêm-se competitivas, i.e., são comercializadas com sucesso. Até à atualidade, mais vinte outras variedades de espécies pratenses e/ou forrageiras foram inscritas no CNV (dezoito leguminosa e duas gramíneas). Dentre estas permitimo-nos destacar:

i) As duas variedades de trevo-da-pérsia-de-flores-grandes, Maral e Resal, por serem desta espécie as mais cultivadas na Europa;
ii) As cinco variedades de trevo-subterrâneo (Davel, Romel, Dom Pedro, Dom Sancho e Dom Dinis) por ser a espécie que maior persistência revela ter nas pastagens de sequeiro do Mediterrâneo. Destas cinco variedades, as três últimas, que foram inscritas em 2016, resultaram da execução de um projeto realizado no âmbito de uma parceria público-privada entre o INIAV e a empresa Fertiprado, parceria financiada pelo programa ProDeR; iii) As variedades Arga (Biserrula) e Cetus (Serradela-brava) por serem leguminosas de ressementeira natural porque têm elevada percentagem de sementes duras, por se adaptarem bem a solos de solução ácida e por apresentarem tolerância à seca. Estas duas variedades e ainda a variedade Ara (Serradela-cultivada) foram também obtidas no âmbito do projeto ProDeR anteriormente referido.

Uma nova variedade de trevo-vesiculoso e uma de trevo-rosa em avaliação pelo CNV
Atualmente, encontram-se em avaliação pelo CNV uma nova variedade de trevo-vesiculoso e uma de trevo-rosa e prevê-se propor a inscrição de novas variedades de trevo-da-pérsia, trevo-isthmocarpo, trevo-vesiculoso e bersim.

A maioria destas espécies melhoradas pelo INIAV-Elvas fazem parte da composição de diferentes misturas biodiversas para pastagens e forragens comercializadas não só em Portugal mas noutros países europeus.

Estão em execução diferentes linhas de investigação que englobam, maioritariamente espécies leguminosas porque estão reconhecidos os benefícios da sua utilização, mas também de gramíneas. De gramíneas e leguminosas estão em estudo espécies, até ao momento, menos estudadas com indícios que possam contribuir para a mitigação das alterações climáticas.

Paralelamente aos trabalhos de melhoramento de plantas em que também se avaliam parâmetros relativos ao valor nutricional da “erva”, realizam-se estudos de técnicas de produção vegetal porque é fundamental conhecer o comportamento das diferentes espécies e variedades em extreme e em misturas, em ambientes diversos e sujeitos a diferentes regimes de pastoreio. Nesse sentido, e para dar alguns exemplos, desenvolveu-se o projeto PersLeg–persistência de leguminosas pratenses, parceria entre a Fertiprado, o INIAV e Consulai, (cofinanciado pela medida 4.1 “Cooperação para a Inovação” do PRODER), com o objetivo de validar o comportamento e palatibilidade de variedades na fase final do processo de melhoramento obtidas pelo INIAV e pela Fertiprado. Para tal, avaliou-se o comportamento de diferentes linhas em mistura e em extreme. Avaliou-se a capacidade produtiva e persistência no campo, em dois anos, em extreme ou em mistura biodiversa e registou-se a preferência de ovinos e de bovinos em pastoreio.

Para estudar a adaptabilidade das novas variedades, em condições reais e validar o valor da produção herbácea, faz-se em colaboração com a Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos e com a Fertiprado, o acompanhamento de quatro parcelas que correspondem a diferentes composições na mistura de sementes e foram instaladas em 2015.

Autoria:
Teresa Carita, João Paulo Carneiro e Nuno Simões (INIAV-Elvas)

Referência Bibliográficas
Boller, B. e Kölliker, R. (2016). Plant Breeding: the Art of Bringing Science to Life. Abstracts of the 20th EUCARPIA General Congress, 29 Aug – 1 Sep 2016, ETH Zurich, Switzerland. Zenodo. (Acesso em: 7/3/2018)

→ Leia o artigo completo na edição de abril de 2018.

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