A elaboração do Plano de Rega de Alqueva teve início nos anos 50, mas foi só em 2002 que se encerraram as comportas da Barragem e se deu início ao enchimento da Albufeira.
Nestes 20 anos muitas foram as obras feitas e os milhares de hectares regados. A paisagem do Alentejo ganhou novas cores e culturas, a região ajudou a que o país se tornasse autossuficiente na produção de azeite e no seu todo, Alqueva contribui para acrescentar ao Produto Interno Bruto do Alentejo cerca de 500 Milhões de Euros anualmente.
Entretanto, em 1995 foi criada a EDIA – Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas de Alqueva S.A., presidida por José Pedro Salema desde 2013. É precisamente o presidente do Conselho de Administração da EDIA quem nos fala destes 20 anos e projeta o que ainda pode ser esperado.
- 69 barragens e reservatórios
- 47 estações elevatórias
- 2002 km de canais e condutas
- 120 000 ha de área de regadio
20 anos de Alqueva, quais foram os principais marcos ao longo deste período?
Podemos identificar muitos marcos históricos ao longo do tempo: A ligação de Alqueva às albufeiras de abastecimento público, a entrada em funcionamento das centrais hidroelétricas, o primeiro enchimento da albufeira de Alqueva a consequente descarga controlada, a entrada em funcionamento do primeiro bloco de rega, etc. Mas o maior marco que Alqueva atingiu após o encerramento das suas comportas foi um número: 97%. Este é sem dúvida o maior marco e representa a esmagadora adesão dos agricultores aos novos desafios que uma moderna agricultura exigia.
Como é que os agricultores olhavam para Alqueva nessa altura e como olham hoje?
Penso que há 20 anos todos sabíamos que Alqueva viria a mudar a agricultura nesta região. Só não se imaginava como seria rápida essa mudança. As décadas de indefinição sobre se Alqueva alguma vez viria a ser construído, trouxeram alguma prudência nas expetativas, mas quando a Barragem se construiu, aí tudo mudou. E o que era ceticismo, deu lugar a certezas que fizeram avançar grandes investimentos da transição da agricultura de sequeiro para regadio.
De resto a EDIA nunca teve dúvidas. Numa sondagem realizada nos anos 90, quase 100% da população do Alentejo era favorável a Alqueva. E mesmo a nível nacional, essa percentagem era muito elevada, a rondar os 80%.
Que grandes oportunidades Alqueva veio proporcionar ao país?
Acho que estão à vista de toda a gente. A primeira grande oportunidade foi a alteração do modelo cultural agrícola da região servida por Alqueva. A água permitiu estabelecer culturas, nomeadamente as permanentes, que de outra forma seria impossível desenvolver aqui. Com essas novas culturas, o contributo que a região deu ao país foi, e é, enorme. Desde logo a autossuficiência em azeite. Portugal, numa década, passou de deficitário e importador de azeite, a excedentário e exportador de azeite. O mesmo se está a passar com a amêndoa. Mas outras culturas marcaram a diferença, como sejam o melão, a cebola ou os alhos. Se bem que em área bem menor, o cultivo destes produtos, a maior parte para exportação, veio aumentar significativamente a produção nacional.
Tudo isto para não falar das outras valências do Empreendimento. O Turismo e a produção de energia elétrica. Duas atividades que exponenciam a região, e com ela, o país.
Como se caracteriza hoje o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva?
Alqueva é um projeto dinâmico e evolutivo. Desde a sua conceção, nos anos 50, que tem vindo a receber valiosos contributos técnicos, de gestão e ambientais, que fazem dele um projeto único, quer na sua filosofia, quer na sua intervenção no terreno, caracterizado pela sua eficiência e sustentabilidade.
O facto de se ter atrasado em algumas décadas a construção deste Empreendimento, veio permitir incorporar na sua conceção a melhor e mais moderna tecnologia disponível, fazendo dele um exemplo de modernidade a nível mundial.
Em suma, o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva é o garante do futuro nesta região.
Qual o peso da valência agrícola de Alqueva?
O projeto de Alqueva, ou melhor, o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, deverá ser avaliado nas suas plenas valências, embora a agricultura seja a que mais pesa no Produto Interno Bruto, que se estima num acréscimo anual de 250 Milhões de euros.
A montante e a jusante outras atividades vêm contribuir com outro tanto. A produção de Energia; o Turismo, hotelaria e restauração; as prestações de serviços agrícolas; os serviços de projetistas; transportes, etc.
Em resumo, Alqueva, no seu todo, contribui para acrescentar ao Produto Interno Bruto do Alentejo cerca de 500 Milhões de Euros anualmente.
Qual tem sido a dinâmica entre a EDIA e os produtores/empresários?
A EDIA é a entidade designada pelo Governo que, para além de conceber, construir e promover o Projeto de Alqueva, é também a entidade que o gere. Esta competência leva a que a EDIA mantenha uma relação muito próxima com os seus clientes, leia-se agricultores e/ou empresas agrícolas.
De facto, essa relação de proximidade tem tradução na própria orgânica da Empresa que transportou para o campo as suas delegações de proximidade espalhadas pelos blocos de rega afetos ao Projeto.
São cinco as áreas desconcentradas da EDIA para que o acesso do agricultor ao apoio de que necessita se encontre o mais próximo possível da sua exploração. São relações, diria, pessoais. Cara a cara. Onde os técnicos da EDIA conhecem cada interlocutor e vice-versa.
Para além desta política de proximidade e gestão das áreas regadas, a EDIA dispõe de um departamento específico de apoio ao cliente. Aqui, cada cliente encontra as respostas para as suas questões ao mesmo tempo que é orientado para departamentos técnicos específicos, se for esse o caso.
Para além de tudo isto, a EDIA esforça-se por divulgar junto dos seus clientes toda a informação útil para uma gestão sustentável das explorações incluídas nos perímetros de rega de Alqueva.
Uma das preocupações constantes dos produtores/regantes é o preço da água. Face ao crescente aumento do preço da energia, o que é que os regantes de Alqueva podem esperar?
O preço da energia não é indissociável do balanço final da exploração do EFMA. O preço final da água a fornecer aos agricultores é da competência exclusiva do acionista da EDIA, ou seja, o Estado. No entanto sempre posso dizer que a energia representa a maior fatia na composição do custo da água. Sendo a EDIA uma empresa pública e sendo o projeto também ele público, o preço final a pagar pelos clientes não incorpora margens de lucro para a entidade que explora o sistema, neste caso, a EDIA (…).
→ Leia a entrevista completa na edição de março 2022 da Revista Voz do Campo.