O projeto de investigação “Mel I.D. – Autenticação da origem botânica do mel: metodologias inovadoras baseadas na análise de DNA do pólen e de compostos voláteis com vista à caracterização e valorização de méis portugueses”, recentemente aprovado para financiamento pelo Programa Apícola Nacional, tem como objetivo principal a valorização dos méis nacionais, com particular destaque para os méis monoflorais.

O mel é um produto natural muito apreciado a nível mundial, não só pelo seu sabor e valor nutricional, como também pelos benefícios para a saúde que lhe são atribuídos. Nas últimas décadas, os consumidores estão cada vez mais informados e conscientes destes benefícios, pelo que o seu consumo tem vindo a aumentar. No entanto, devido a esta elevada procura, o mel é cada vez mais alvo de adulterações realizadas por motivos económicos e considerado um dos alimentos mais propensos a fraudes (Comissão Europeia, 2023). Um dos tipos mais relevantes de adulteração do mel é a rotulagem incorreta por falsa declaração da origem botânica ou geográfica (Soares et al., 2017). De acordo com a sua origem botânica, o mel pode ser classificado como monofloral ou multifloral, sendo produzidos por abelhas que predominantemente forrageiam uma planta ou uma grande variedade de plantas, respetivamente. Os méis monoflorais e multiflorais têm geralmente diferente valor comercial, sendo que os primeiros são frequentemente preferidos pelo consumidor, o que tende a conduzir ao aumento do seu valor comercial.

Determinação da origem botânica

Atualmente, a determinação da origem botânica é tradicionalmente feita com base na análise melissopalinológica. No entanto, esta apresenta desvantagens, tais como ser considerada trabalhosa e demorada, necessitar de conhecimento especializado e experiente, necessitar de palinotecas representativas e que incluam as espécies de interesse, a morfologia do grão de pólen ser variável ou difícil de diferenciar entre algumas espécies do mesmo género, e ser uma técnica com baixo poder de resolução no que respeita à identificação da espécie (Hebda e Cinnappa, 1990; Davies e Fall, 2001; Bruni et al., 2015). Considerando as dificuldades associadas a esta técnica tradicional (melissopalinologia) e ao custo por análise, têm sido propostas novas metodologias analíticas para determinação da origem botânica, incluindo técnicas de cromatografia e avaliação do perfil fitoquímico, espectroscopia, e biologia molecular. Entre estas, as técnicas com base na análise de DNA dos grãos de pólen têm sido referidas como as mais promissoras.
Até à data, têm sido realizados trabalhos que utilizam diferentes técnicas para alcançar este objetivo. Em trabalhos anteriores foi proposto um método de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real acoplado a análise de high-resolution melting (HRM) dirigido em particular à autenticação de méis de rosmaninho (diferenciação de diferentes espécies do género Lavandula) (Soares et al., 2018). No entanto, a aplicação de PCR em tempo real apenas permite focar num número limitado de espécies, sendo necessário o desenvolvimento de metodologias para cada tipo de mel/família de plantas.

Desta forma, nos últimos anos têm surgido alguns trabalhos que propõem a utilização de metodologias mais recentes e avançadas, nomeadamente “Next Generation Sequencing” (NGS), que permitem a sequenciação massiva de várias sequências e amostras em simultâneo. A aplicação de “DNA metabarcoding” para a identificação de espécies de plantas em misturas de grãos de pólen tem sido alvo de vários trabalhos desde 2015, principalmente no âmbito de investigação ecológica, monitorização ambiental, comportamento forrageiro de abelhas, estudos de polinização, entre outros (Bell et al., 2016; Sickel et al., 2015). Contudo, a sua aplicação para a determinação da origem botânica do mel é ainda escassa e por isso é necessária a realização de trabalhos de investigação neste âmbito (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de junho 2024

Autoria: Mónica Honrado¹,²,³, Andreia Quaresma¹,²,4,5,6, M. Alice Pinto¹,²,*, Pedro João Rodrigues³, José Rufino Amaro²,³, Getúlio Igrejas³, Dinis Silva³, Bruno Martins³, Joana S. Amaral¹,²*

¹ CIMO, Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Sta. Apolónia, 5300-253 Bragança.
² SusTEC, Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Sta. Apolónia, 5300-253 Bragança.
³ LAQV-REQUIMTE & Department of Chemistry, University of Aveiro, Campus Universitário de Santiago, Aveiro, 3810-193, Portugal.
4 Departamento de Biologia, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 4169-007 Porto, Portugal.
5 CIBIO, InBIO Laboratório Associado, Campus de Vairão, Universidade do Porto, 4485-661 Vairão.
6 BIOPOLIS Program in Genomics, Biodiversity and Land Planning, CIBIO, 4485-661 Vairão.
7 Research Centre in Digitalization and Intelligent Robotics (CeDRI), Instituto Politécnico de Bragança, Bragança.
8 Fenapícola, Federação Nacional de Cooperativas Apícolas e de Produtores de Mel, FCRL, Lisboa.

*Coordenação científica e correspondência: Joana Amaral (jamaral@ipb.pt) e Alice Pinto (apinto@ipb.pt)