Opinião de Rita Fernandes, Secretária-Geral da Horpozim (Associação Empresarial Hortícola)

Será que valorizamos a produção e os produtores? É uma questão que colocamos diariamente quando debatemos os valores pagos à produção que muitas vezes não cobrem os custos. Fazemos essa mesma pergunta quando sabemos que, estatisticamente, a média de idades dos agricultores em Portugal ronda os 64 anos. Reforçamos a mesma pergunta quando nos deparamos com o crescente aumento de casos de doenças psicológicas associadas à atividade, denotando claramente o desgaste dessa profissão.

E é devido a esta forte pressão, desgaste emocional e físico e condições de trabalho adversas que consideramos que este setor deveria ser considerado como uma atividade de desgaste rápido. Costuma-se dizer que o agricultor é um investidor de risco: planta e não sabe se vai colher, paga e não sabe o que (e se) irá receber. Sabemos que a oferta e a procura ditam o mercado, sempre assim foi, no entanto, é crucial para este setor que haja uma intervenção estruturante e medidas que apoiem quem efetivamente produz. Os apoios que são distribuídos no âmbito da PAC com objetivos claros de diminuir os custos unitários da produção na venda ao consumidor, continuam a promover não a produção unitária, mas sim a área, agudizando o desfasamento das realidades produtivas dos minifúndios. Para além disso é um setor que não é muito transparente relativamente às diferentes cadeias inerentes: conseguimos saber a que preço é vendido ao consumidor determinado produto mas não é do conhecimento público quanto recebeu o agricultor que o produziu, gerando uma enorme entropia entre os intervenientes.

Para além de tudo isto, emergem agora os ditos “radicalistas verdes” que apontam muitas vezes o dedo à agricultura e agricultores, quando na realidade é esta atividade que cuida da natureza, do ambiente e da paisagem. A agricultura sempre esteve e estará lado a lado com a natureza e o diálogo para a transição climática deverá sempre contar com a participação dos agricultores que são ainda os principais prejudicados nas alterações climáticas que se vivem.

Por isso, do ponto de vista dos agricultores, a resposta é um claro NÃO, não há valorização desta atividade e dos intervenientes, aqueles que diariamente, sem férias, fins-de-semana e feriados, vão mais um dia para o campo para produzir alimento para todos nós.

Recordo-me de há uns anos numa sessão numa associação de agricultores, reparava num painel que estava exposto e sobre o que mantinha aqueles agricultores na atividade e 79% respondiam que era apenas por gosto pessoal e os restantes respondiam que seria por herança, imposição ou até por considerarem que não tinham outra escolha. Dos muitos inquiridos, apenas 1 considerou que estava na atividade por a considerar rentável. Às vezes pergunto-me se esse agricultor ainda estará na atividade! A verdade é que o nível de exigência físico e mental atual deste setor coloca o agricultor numa posição que só conseguirá manter a atividade se houver uma entrega total, saber que não há horários nem dias de pausa, e essa dedicação tem que ser valorizada e respeitada.

Acredito assim, que o futuro do setor agrícola reside na valorização da atividade através da informação do consumidor sobre a produção nacional, sobre a agricultura no geral, sobre as boas práticas que são promovidas, gerando assim maior interesse neste setor, sobretudo das próximas gerações para que possamos caminhar não só para a autonomia alimentar bem como a geração de riqueza: financeira, ambiental e social.

→ Leia este e outros artigos na Revista Voz do Campo: edição de julho 2024