Sou um “Jovem Agricultor” ou “Jovem Empresário Rural”, como preferirem, aqui no Baixo Mondego, zona de minifúndio e em alguns casos até nanofúndio.
Sou gestor da exploração agrícola da minha família, iniciada pelo meu visavô, impulsionada pelo meu avô e continuada pelo meu pai.
Hoje contamos com duas explorações agrícolas, esta, aqui no baixo mondego, construída pelo meu avô, a Quinta do Calhau, e outra, construída pelo meu pai, em outra zona do país.
Aqui, na Quinta do Calhau, até 2014 produzíamos arroz e milho, arroz em 90% da área e os restantes 10% com milho, após 2016 passámos a produzir apenas milho grão, essencialmente para ração animal.
O nosso principal objetivo é produzir sempre focados nos 3 pilares da sustentabilidade, por isso, produzimos em modo de produção integrada e o nosso milho é também certificado em GLOBALG.A.P.
O baixo mondego tem solos de 1ª a 4ª, a jusante de Montemor temos solos bastante pantanosos, logo a cultura predominante é o arroz, talvez seja a zona onde se produza o melhor arroz carolino de Portugal. A montante de Montemor, os solos começam a ficar mais arenosos, onde a cultura predominante é o milho.
A Quinta do Calhau está junto à cidade de Coimbra, onde os solos são ainda mais arenosos, temos solos de 1ª a 4ª, a maior parte da área é de 4ª (bastante arenosos). Está localizada no perímetro de emparcelamento da Margem Esquerda, junto ao rio Mondego, logo, água não falta, costumo dizer, quando faltar água no Mondego, (único rio realmente português, onde podemos fazer uma melhor gestão da água), como estarão as outras zonas agrícolas do país?Estou a dias de terminar a colheita de 2024 e já conto com dados concretos para alguns lotes com solos de 4ª, o ano passado foi o melhor ano dos últimos 4, produzimos cerca de 16 t/ha, este ano, uns lotes passaram a 14t/ha e outros a 15t/ha.
Este ano continuámos com ataque severo de lagarta rosca, o normal nesta zona, mas além da lagarta rosca, apareceu-nos pela primeira vez, Pirale do milho e o vírus do nanismo, no meu caso, não foram os causadores da baixa produtividade.
No ano passado retirámos milho com humidade entre os 16% e os 18%, este ano estamos a colher milho com humidade entre os 20% e 23%, o que nos vai causar um custo acrescido na secagem.
Além da humidade do cereal, tem chovido um a dois dias por semana, o que mantém o nível da água do rio sempre a cima do nível do solo, o que acredito que influencie nas drenagens do solo, atrasando e dificultando ainda mais a colheita.
A meu ver, a perda de produtividade terá sido pela redução de horas de luz, este verão tivemos várias semanas com manhãs e até alguns dias inteiros bastante nublados.
É verdade que, na agricultura cada ano é um ano.
Para mim, o problema mais grave a afetar os agricultores do baixo mondego são as alterações climáticas, temos sofrido bastante prejuízos com as tempestades de mudança de estação…
As tempestades de mudança de estação inverno-primavera causam atrasos na sementeira, as tempestades de mudança de estação verão-outono, além de atrasarem a colheita, derrubam e destroem por completo o milho e o arroz.
Tem acontecido três em três anos.
Em 2018 a tempestade Leslie devastou o Baixo Mondego, em 2021 foi pior que a anterior deixando um rasto de destruição e prejuízo enorme, agora a tempestade KIRK que também deixou alguns danos…
A agricultura é uma empresa a céu aberto, sujeita a todas as adversidades climáticas, onde todos os anos corremos o risco de perdas parciais ou até mesmo perdas totais das culturas.
A agricultura é como o jogo da sorte, sabemos que vamos gastar para instalar a cultura, sem saber se vamos obter lucro ou no pior dos casos, obter o retorno do investimento.
Está-se a aproximar o fim das colheitas e sabemos que daqui a poucos meses, começa tudo de novo.
Nós, agricultores do Baixo Mondego somos de facto bastante resilientes…
- Tito Calhau – Jovem Agricultor
- Empresa: Calhau – Agrícola
- Exploração Agrícola: Quinta do Calhau