A conferência Agroinovar, realizada recentemente no Algarve, mais precisamente em Loulé, destacou-se como um ponto de encontro fundamental para o setor agrícola da região.

A recente conferência Agroinovar, realizada em Loulé, reuniu importantes intervenientes do setor agrícola algarvio, como Miguel Vieira Lopes (AGROGES), Joel Guerreiro (ASCAL), José Oliveira (AlgarOrange), Afonso Nascimento (FEDAGRI), Nuno Serra (CONFAGRI CCRL) e Luís Ribeiro (novobanco).

O Algarve tem potencial para ser um exemplo de sucesso na agricultura portuguesa, mas para isso é fundamental uma maior união entre os agentes do setor e um reforço das políticas públicas que incentivem a produção, a valorização dos produtos locais e a redução dos custos de contexto. Esta foi a mensagem-chave transmitida por Nuno Serra, Secretário-Geral da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI), numa recente intervenção em Loulé, onde destacou a importância da Federação da Agricultura Algarvia (FEDAGRI) e a necessidade de dar voz às regiões.

Segundo Nuno Serra, a FEDAGRI tem desempenhado um papel fundamental na unificação das vontades do setor agrícola algarvio. “O primeiro grande desafio começa a ser ultrapassado quando se começa a notar uma região com uma só voz”, afirmou, sublinhando que apenas através da junção de esforços e da representatividade conjunta será possível avançar com soluções concretas para os desafios da agricultura no Algarve.

Assimetrias regionais e a necessidade de políticas públicas ajustadas

O Algarve, apesar de ser uma região de grande potencial, enfrenta desigualdades internas que dificultam a implementação de políticas eficazes. Serra alertou para a importância do conhecimento local na formulação de estratégias agrícolas. “A dificuldade de fazermos políticas públicas realistas obriga a um conhecimento profundo por parte das pessoas que as elaboram”, destacou.

A água foi um dos temas centrais abordados, sendo apontada como um fator crítico para a sustentabilidade da produção agrícola na região. O Secretário-Geral da Confagri  frisou que “a água sem políticas públicas adequadas não é suficiente” e que são necessárias medidas que garantam o abastecimento e a utilização eficiente dos recursos hídricos.

Valorização dos produtos locais e competitividade

A capacidade de produção e a diversidade agrícola do Algarve foram destacadas como pontos fortes da região. Nuno Serra deu um exemplo prático da riqueza local ao descrever uma refeição algarvia composta exclusivamente por produtos da região, desde o pão ao medronho. “Quantas regiões do país podem dizer o mesmo?”, questionou, reforçando a necessidade de uma maior promoção dos produtos locais e da educação dos consumidores para a escolha de produtos nacionais.

No entanto, a concorrência com outros países, particularmente Espanha, impõe desafios adicionais aos agricultores portugueses. “Os nossos agricultores são verdadeiros heróis”, disse Serra, destacando as dificuldades enfrentadas devido aos custos elevados da energia, combustíveis e fitofármacos em comparação com os seus vizinhos espanhóis. Para mitigar estas diferenças, defendeu políticas públicas que reduzam os custos de contexto e incentivem o investimento no setor.

Produzir mais e melhor para reduzir a dependência externa

Outro ponto abordado foi a necessidade de aumentar a produção nacional para reduzir a dependência das importações. “Se exportarmos muito e produzirmos pouco, teremos de importar mais. A solução passa por incentivar a produção interna com políticas adequadas”, afirmou.

Para isso, Serra defendeu que o Estado tem um papel fundamental na promoção da produção nacional e na educação do consumidor. “É preciso que o consumidor perceba que a laranja do Algarve é melhor do que a que vem de Marrocos”, enfatizou.

O Algarve “tem tudo para ser um sucesso”, concluiu Serra, reforçando que o caminho está a ser trilhado, mas exige continuidade, investimento e uma maior valorização dos produtos e produtores locais. “Agora é preciso chatear o governo”, frisou, alertando para a necessidade de pressão política e institucional para que as mudanças aconteçam efetivamente. Com o setor organizado e políticas bem direcionadas, o futuro da agricultura algarvia pode ser promissor.

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