Em 2006 o INIAV iniciou um programa de investigação que visa o melhoramento genético do castanheiro para a resistência a stresses bióticos, com especial enfoque para doença da tinta, uma doença radicular provocada pelo oomiceta Phytophthora cinnamomi, integrando desde o início as abordagens mais recentes de Genómica e de Biotecnologia Vegetal. A doença da tinta continua a ser uma ameaça para a cultura do castanheiro, responsável pela baixa produtividade dos soutos portugueses.
O melhoramento genético baseia-se em cruzamentos controlados entre a espécie europeia (Castanea sativa), muito sensível a Phytophthora cinnamomi e as espécies asiáticas resistentes Castanea crenata e C. mollissima. O objetivo primordial do programa de investigação tem sido tentar descodificar os mecanismos de resistência das espécies asiáticas, através de uma abordagem conjunta de transcriptómica, mapeamento genético e histopatologia, para transferência do conhecimento para o melhoramento da resistência da espécie europeia.
Além deste objetivo de investigação básica ou fundamental, o programa também possui uma forte componente aplicada, orientada para o mercado. Até agora, foram selecionados sete novos genótipos que demonstraram resistência melhorada a P. cinnamomi, após a inoculação de raízes de réplicas de cada genótipo, obtidas por micropropagação (clonagem). Dentre esses, três genótipos com aptidão para porta-enxerto, já estão inscritos no Registo de Variedades de Fruteiras na 2ª Edição de 2023 da DGA e um deles, SC1202 – Variedade RIVERA, tem um pedido de proteção submetido ao Community Plant Variety Office (CPVO).
Foi também criada uma unidade piloto de investigação em castanheiro no concelho de Marvão, com o objetivo de transferir para a economia real os produtos resultantes do programa de investigação, nomeadamente a nova geração de porta-enxertos de castanheiro com resistência melhorada à doença da tinta, selecionados dos cruzamentos controlados, bem como ampliar a estrutura regional de formação e transferência de conhecimento numa região do interior que enfrenta ameaças significativas de stresses abióticos e bióticos, sendo essencial abordagens inovadoras para ajudar a reverter a tendência de despovoamento da região e a tornar mais atrativa para jovens agricultores.
Nesta unidade piloto iniciou-se a produção em massa das novas variedades e foi também instalado um campo de ensaio, onde se faz a avaliação da sua taxa de desenvolvimento, bem como são desenvolvidos estudos de otimização de dotações de rega e compatibilidade de enxertia com as principais variedades de castanha com interesse comercial (Figura 1).
Figura 1. Produção de castanheiros melhorados para resistência à doença da tinta, obtidos de cruzamentos controlados e multiplicados por micropropagação
Figura 2. Pipeline para a micropropagação de variedades melhoradas de castanheiro
Para além de possuirmos novas variedades melhoradas, com aptidão para porta-enxerto, selecionadas dos cruzamentos controlados e um protocolo de produção otimizado para a sua micropropagação, (Figura 2), selecionámos também um conjunto de genes candidatos de resistência P. cinnamomi, nos transcriptomas de C. crenata, que estão a ser validados por transformação genética e, no futuro próximo, através do sistema CRISPR/Cas9. Entre esses genes está o gene Ginkbilobin2-like, que codifica uma proteína antifúngica, supostamente relacionada com as defesas constitutivas e induzidas em C. crenata, o castanheiro japonês, devido aos seus altos níveis de expressão observados nesta espécie, após inoculação com P. cinnamomi (…).
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Autoria: Rita Lourenço Costa, investigadora coordenadora. INIAV I.P. – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. Avenida da República, Quinta do Marquês 2780-159 Oeiras. PORTUGAL
e-mail: rita.lcosta@iniav.pt