Exmo. Senhor Secretário de Estado da Agricultura
- Eng.º João Moura
Queremos, em primeiro lugar, agradecer a sua presença no Dia Aberto Merino e a forma tão disponível com que participou nos esclarecimentos e debate que tivemos durante a tarde, sobre a Língua Azul.
Consideramos que foram atingidos, de forma plena, todos os objetivos que tinham sido definidos pela Direção e equipa técnica da ANCORME, para este dia.
O período da manhã foi dedicado à apresentação de trabalhos realizados nos Livros Genealógicos e respetivos Programas de Melhoramento das Raças Merina Branca e Merina Preta, com especial incidência sobre os resultados relativos ao Teste de Performance em Estação de Machos, o primeiro realizado pela ANCORME, finalizado no passado dia 21 de outubro e com apresentação e exposição do extraordinário conjunto de machos deste teste.
Congratulamos, igualmente, com a presença da Exma. Senhora Diretora da DGAV, Dra. Susana Pombo, Eng.o Joaquim Capoulas, Vice-presidente da CAP e o Dr. João Palmeiro, em representação da União dos ADS’s, e beneficiámos de toda a disponibilidade para debaterem e discutir este tema.
Assim, como resumo da sessão, queremos aqui deixar-lhe as nossas serias preocupações e sugestões sobre este tema:
• Está-se a viver, no campo, uma situação dramática, com várias mortes de animais adultos, mas igualmente com grandes perdas nas parições que, tipicamente, se realizam neste período (aborto, nados-mortos e grande mortalidade peri-natal).
• É prioritário que todos os criadores realizem as declarações de Língua Azul que ocorrem nas suas explorações, através do documento existente, mas é igualmente fundamental que os técnicos do Ministério da Agricultura acompanhem de perto a situação, realizando visitas de campo e fazendo um acompanhamento mais próximo. Isto coloca, novamente, a evidência da falta de recursos na estrutura da DGAV que urge reforçar, conforme alertas de há anos.
• Julgamos essencial dar maior atenção à coordenação e rede entre os vários agentes do sistema sanitário, nomeadamente a DGAV, as OPSA e os respetivos Médicos Veterinários executores, pois, em surtos como este (e que antecipamos como cada vez mais frequentes no futuro) é essencial haver maior informação epidemiológica, maior capacidade de antecipação e maior celeridade nas medidas que evitem os atrasos que, como se percebe, ocorreram.
• A ajuda de 1 milhão de euros, anunciada pelo Senhor Secretário de Estado, deverá chegar rapidamente às organizações dos produtores, de forma inequívoca e imediatamente aplicada em benefício das situações mais dramáticas.
• Tal como acontece no resto da Europa, o Estado Português tem de assumir o pagamento integral da vacina. O processo de desinsetização dos efetivos deve ser comparticipado.
• Devem ser pensadas compensações pela morte de animais com Língua Azul e pelos animais que, não morrendo, ficaram afetados, apresentando morbilidade. A perda de produtividade das explorações tem de ser reposta através de uma medida de apoio especifica, devendo, no caso das raças autóctones, ser majorada.
• O IFAP tem de receber diretrizes claras para não penalizar os criadores que, por este motivo de morte de animais por Língua Azul, se vejam impedidos do cumprimento dos encabeçamentos nas medidas que se relacionam com animais.
• Reforço urgente e reorganização do SIRCA.
• Apesar de, conforme anunciou, estar a ser criado um sistema de monitorização do vetor, o Estado Português deverá ter uma posição mais proativa, quer na previsão da chegada de uma nove estirpe, quer na negociação com a indústria farmacêutica sobre novas vacinas que venham a fazer falta.
• No que se refere aos ovinos de raças autóctones, deverá ser considerada uma derrogação para a obrigatoriedade do cumprimento de intervalos entre partos inferiores a 18 meses.
• Além da urgência momentânea, parece-nos evidente a necessidade de começar, desde já, a planificar as medidas a executar no início de 2025, nomeadamente uma campanha de vacinação robusta, atempada e sem interrupções por falta de vacina, que inclua os vários serotipos em circulação e antecipando a eventualidade de outros em que o risco é iminente, nomeadamente o serotipo 8. Os Serviços Oficiais deverão, igualmente, avaliar a extensão da vacina aos outros ruminantes para que não se mantenham como reservatório da doença.
Porque na ANCORME entendemos que o futuro se constrói trabalhando em equipa e de forma organizada, apresentamos a nossa disponibilidade total para encontrar soluções. Uma vez mais agradecemos a disponibilidade para estar junto dos criadores neste momento tão importante, o DIA ABERTO MERINO, e pedimos que atenda para os pontos que lhe deixamos e que consideramos, neste momento, como fundamentais para a produção Ovina Nacional.
Apresentamos os nossos melhores cumprimentos,
- Tiago Perloiro Évora | 5 novembro | 2024 | Diretor Geral da ANCORME
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