Introdução: O lúpulo é uma cultura apaixonante. Só uma pessoa que se aproxime de um campo de lúpulo no fim do verão, pode entender o sentido da expressão anterior.
Ainda assim, o futuro da cultura em Portugal parece estar traçado. No presente restam dois produtores com campos de dimensão comercial. A menos que eles nos surpreendam com enorme resiliência face à adversidade, e mantenham os seus campos em produção, vamos perder mais uma paisagem agrícola que só esta cultura consegue criar.
A expectativa de entrada de novos produtores é reduzida. O investimento inicial é enorme, não estando ao alcance da maior parte dos pequenos e médios investidores no setor agrícola. Contudo, algumas zonas de Portugal têm condições ambientais muito satisfatórias para produzir lúpulo, sendo possível competir com produtividade e qualidade com os maiores países produtores. A Bralupulo (Produtores de Lúpulo de Bragança e Braga, C.R.L) e o Centro de Investigação de Montanha do Instituto Politécnico de Bragança têm criado diversas iniciativas com vista a alertar os governantes regionais e nacionais, bem como o público em geral, para a importância de salvar esta cultura do destino mais provável, o desaparecimento do território nacional. Assim, neste texto faz-se uma breve descrição da situação da cultura, do potencial ecológico nacional para o seu cultivo e anunciam-se as III Jornadas do Lúpulo e da Cerveja que se vão realizar em Bragança nos dias 20 e 21 de julho de 2023.
Situação da cultura do lúpulo
Nas décadas de 1970 e 1980, a produção de lúpulo em Portugal foi suficiente para praticamente satisfazer as necessidades da indústria cervejeira nacional. A estagnação dos preços do lúpulo nos mercados mundiais e o aumento dos fatores de produção foram reduzindo progressivamente as margens brutas dos produtores. Esta situação, associada à perda de competitividade geral do meio rural em face do número de empregos crescente em meio urbano, levou ao abandono da cultura.
O cultivo de lúpulo pelos processos tradicionais tem elevada necessidade de mão de obra e exige a permanência constante do agricultor na exploração. Não é comprável ao cultivo de castanheiro, oliveira ou amendoeira que pode ser feito como atividade de fim-de-semana por pessoas com outras atividades profissionais. Por esta razão, a cultura do lúpulo foi mais penalizada com a perda de população no meio rural.
Em Portugal assiste-se atualmente a um movimento interessante de microprodutores
Neste momento existem dois produtores de lúpulo de dimensão comercial situados na região de Bragança, explorando ambos aproximadamente 6 ha. A sua dimensão permitiu-lhe ter capacidade para amortizar os equipamentos e mecanizar integralmente os processos de cultivo reduzindo, dessa forma, a dependência de mão de obra externa (…).
Manuel Ângelo Rodrigues, CIMO/SusTEC – Instituto Politécnico de Bragança
António A. Rodrigues, Bralupulo (Produtores de Lúpulo de Bragança e Braga, C.R.L)
Referências
FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) FAOSTAT: Crops and livestock products.
Disponível online: https://www.fao.org/faostat/en/#data/QCL
(consultado em 20 de junho de 2023).





