Introdução

A Turquia e a China detinham, em 2011, 46 % da produção mundial de marmelo. Portugal encontrava-se em 9º lugar a nível da produção mundial (13955t), com uma produtividade média de 10t/ha.

Tem-se verificado alguma expansão da cultura do marmeleiro no país, uma vez que em 2001, a produtividade média era de 7t/ha e o marmelo português não surgia no “ranking” das produções a nível mundial. Os resultados obtidos no pomar do Centro Hortofrutícola da ESAB permitem-nos considerar a cultura do marmeleiro como uma alternativa às culturas tradicionais do Alentejo, especialmente se o produto for destinado à indústria.

Generalidades sobre a cultura do marmeleiro

O marmeleiro já era cultivado na Babilónia desde a antiguidade (4000 a. C). Parece ser autóctone da Europa Meridional ou das orlas meridionais do Mar Cáspio (https://www.infoagro.com). Atualmente encontra-se de forma natural, no Centro e Sudoeste da Ásia (Arménia, Turquistão, Síria, etc.). Os gregos conheciam uma variedade comum que obtiveram na cidade de Cydon, em Creta e daí o seu nome científico (Cydonia oblonga Miller ou Cydonia vulgaris Persoon) (Silva, 2010). Pertence à família Rosaceae, subfamília Pomoideae e género Cydonia.

Hoje em dia ainda existem formas selvagens do marmeleiro nalgumas regiões do sul da Grécia, Itália e França. Continua a ser cultivado por toda a Europa. A planta possui porte arbustivo ou arbóreo, com de 4 a 6 m de altura, com o tronco tortuoso, de epiderme lisa, acinzentada, que forma escamas, que se desprendem, com a idade. A copa é irregular e os ramos jovens são tomentosos. As folhas são caducas, alternas, de 5 a 10 cm de comprimento e 4 a 6 cm de largura, com forma ovada ou elítica e de pecíolo curto. A página superior é verde escura, glabra e a inferior verde esbranquiçada e tomentosa (https://www.infoagro.com/). O sistema radicular é superficial e fasciculado. As flores são brancas ou rosadas, solitárias, surgem nas axilas das folhas, medem 3-7 cm de diâmetro, têm 5 pétalas, 5 sépalas e 20 estames (Pio et al., 2005 cit. in Neto, 2013). A floração ocorre na primavera, de março a maio. O fruto é um pomo, piriforme, pubescente, de cor amarelodourado, muito aromático, com 10 a 12 cm de diâmetro e 6 a 9 cm de altura, com ápice em forma de umbigo. A polpa é amarelada e ácida, contendo numerosas sementes, semelhantes às da macieira, apresentando coloração castanha escura. Devido à sua elevada dureza, acidez e adstringência (devido à presença de taninos,mucilagens e pectinas) não é normalmente consumido em fresco. Pode ser consumido cozido ou assado, com açúcar, ou depois de transformado em marmelada, geleia, compota, etc.

Os árabes utilizaram o marmeleiro para fins medicinais, dado o seu conteúdo em mucilagem (https://www.infoagro.com). O marmeleiro também é utilizado como porta-enxerto de pereira (Pyrus communis L.) e de nespereira (Eriobotrya japonica Lindl.) (Silva, 2010) e como planta ornamental com flor e para sebes, porque admite bem o corte. É uma espécie bem adaptada ao clima temperado e ao clima mediterrânico (as temperaturas ideais para o seu desenvolvimento situam-se ente os 20º C e os 25º C), de invernos longos e verões quentes. Pode cultivar-se nas mesmas regiões onde se cultiva a videira, embora resista a temperaturas mais baixas. Nas fases de desenvolvimento vegetativo e de frutificação é exigente em temperaturas altas e luminosidade acentuada. É uma das fruteiras mais exigentes em luminosidade (https://www.infoagro.com/). As geadas tardias e os ventos fortes prejudicam o crescimento dos ramos novos, a floração e a fecundação. É pouco exigente em horas de frio, exige de 100 a 500 h, segundo a cultivar. Requere locais arejados, excessos de humidade na estação quente são prejudiciais por provocarem o aparecimento de doenças criptogâmicas.

O marmeleiro adapta-se a diferentes tipos de solo, dos mais férteis até aos mais pobres, desde que sejam frescos e com reação ligeiramente ácida. Os valores extremos de pH oscilam entre 5,6 e 7,2 (https://www.infoagro.com). Embora seja pouco exigente em relação aos solos, prefere os franco-argilosos, os argilo-arenosos, bem drenados, bastante férteis, ricos em matéria orgânica e que retenham uma quantidade moderada de humidade. Apresenta problemas de clorose férrica em solos com mais do que 8 % de calcário ativo (https://www.infoagro.com). Pode vegetar junto das ribeiras, sem que o excesso de humidade o prejudique, e ainda em terrenos de regadio ou de sequeiro. É muito tolerante ao encharcamento e asfixia radicular, sendo utilizado como porta-enxerto devido a este fato. As zonas de potencial expansão do marmeleiro são o Ribatejo e Oeste, Centro e Sudoeste do Alentejo, Sul da Beira Litoral e, em menor escala, o distrito de Vila Real.

Adaptabilidade da espécie à região do Alentejo
No Centro Hortofrutícola da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja, existe um pequeno pomar demonstrativo que foi plantado em 1996, com uma área de 0,067 hectares, onde estão instaladas as cultivares Gigante de Vranja e Portugal, num compasso de 6 x 4 m, conduzidas em vaso.

Fig.1: Cultivar Portugal
Fig.2: Cultivar Gigante de Vranja

Cultivares
Descrevem-se em seguida, as principais características das cultivares.
Portugal (Fig.1)
Árvore: bom vigor e porte a tender para a verticalidade. É muito produtiva. Fruto: bom calibre e forma arredondada. A epiderme é de cor amarelo limão com alguma pubescência esbranquiçada. A polpa é amarelada, consistente, pouco adocicada, ácida e algo adstringente. É perfumado quando bem maduro.
Gigante de Vranja (Fig.2)
Árvore: grande vigor e porte vertical. É muito produtiva. Fruto: grande calibre e forma oblonga. A epiderme é de cor amarelo limão, algo brilhante. A polpa é amarelada, consistente, adocicada e de sabor agradável. É muito perfumado quando bem maduro.

Estados fenológicos
Verifica-se que a cultivar Gigante de Vranja é mais precoce do que a cultivar Portugal, iniciando o abrolhamento no início de fevereiro, enquanto esta última, o inicia em meados de fevereiro. O vingamento e o desenvolvimento do fruto também ocorrem mais cedo na cultivar Gigante de Vranja, assim como, a maturação e colheita, que se verificam a partir da segunda quinzena de setembro nesta cultivar, e apenas a partir do início de outubro na cultivar Portugal. A produtividade média da cultivar Gigante de Vranja é de 18,5 t ha-1 e a da cultivar Portugal é de 12 t ha-1.

Práticas culturais
Descrevem-se em seguida, as principais técnicas culturais realizadas no pomar. A rega é localizada (gota-a-gota), sendo a dotação de 1800 a 2250 m3/ha/ano. A aplicação dos fertilizantes é feita através da fertirrega. O controlo de infestantes é realizado na linha com herbicida de contacto, 2 vezes por ano, e na entrelinha mantem-se o enrelvamento permanente com infestantes espontâneas, que são controladas através de destroçamento realizado com um destroçador de martelos. Na altura da poda de frutificação, que se realiza de fins de dezembro a meados de janeiro, faz-se o destroçamento da lenha da poda, conjuntamente com as infestantes. A poda de frutificação consiste em retirar alguns ramos e rebaixar a árvore, com o objetivo de estimular os ramos do ano, que conduzirão à frutificação. Retiram-se os ramos que podem alterar o equilíbrio ou ramos que se sobreponham sobre os outros. Todos os anos se eliminam os ramos ladrões.

Acidentes fisiológicos
Por vezes pode surgir o escaldão dos frutos, cuja intensidade depende das temperaturas, que normalmente são muito altas durante o verão nesta região. A cultivar mais sensível é a Portugal, apesar de também afetar a cultivar Gigante de Vranja. No entanto, nunca houve situações graves provocadas pelo escaldão no pomar em estudo.

Pragas e Doenças
As pragas mais comuns são os afídeos (Aphis pomi De Geer), o bichado-da-fruta (Cydia pomonella L.) e a mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitata Wied). Esta praga é a que tem causado maiores prejuízos, especialmente na cultivar Portugal. A doença mais importante é a entomosporiose [Entomosporium maculatum (Lév.)], que é um fungo que se manifesta através de lesões necróticas circulares nas folhas, frutos e ramos. Ocorre com temperaturas de 20 a 25º C, impede o desenvolvimento normal da planta e a produção de frutos de alta qualidade, podendo causar graves prejuízos, quando não é convenientemente controlada.

AUTORIA:

REGATO, Mariana Duarte; GUERREIRO, Idália Manuela; REGATO, José Eduardo. Instituto Politécnico de Beja/Escola Superior Agrária

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