A The Navigator Company protege esta espécie, que tem cada vez tem mais interesse económico, e também promove a tradição da sua apanha pela comunidade.
O medronheiro é uma espécie que tem cada vez mais interesse para investimento e existe um pouco por todo o país, mas é mais abundante no sul, nas serras do Caldeirão e de Monchique. É nesta última que fica a propriedade de Águas Alves, da The Navigator Company, empresa mentora do projeto Produtores Florestais, onde a cada outono decorre a iniciativa “Reviver Tradições”.
O primeiro evento aconteceu em 2017 e, desde então, só foi interrompido em 2020, devido às restrições da pandemia. “A Companhia lançou o desafio à Misericórdia, por sabermos que a apanha do fruto para produção de aguardente caseira é uma tradição muito enraizada nesta zona. O medronho faz parte da cultura. Nós temos o fruto, a Santa Casa e a Câmara Municipal trazem as pessoas. É um evento muito acarinhado pela Navigator e que vai ao encontro dos seus valores e do seu propósito”, explica Vânia Oliveira, Responsável de Aproveitamento de Terras da Empresa.
Joaquim Avelino, 87 anos, é um dos utentes do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Monchique que a The Navigator Company acolheu este ano em Águas Alves, na quinta edição da iniciativa. “Apanho medronho desde criança. Não é fácil, mas eu gosto. Quando era novo, magro e levezinho, corria os medronheiros todos, mesmo aqueles onde os outros não chegavam”, recorda, enquanto vai enchendo o seu balde, que leva pendurado a tiracolo com um cinto. O cãibo (vara comprida com gancho na ponta) ajuda-o a puxar os ramos mais altos para alcançar todos os frutos maduros. O dia é de trabalho, mas também de convívio e de partilha de recordações, experiências e saberes.
Vantagens do medronheiro para os ecossistemas florestais
Em 400 hectares de encostas, metade da área corresponde a zonas de medronheiros e sobreiros. “São quase todos medronheiros naturais, que já existiam na propriedade, quando foi adquirida em 2000. A Navigator tem feito uma gestão seletiva de matos, através da qual promove a regeneração natural do sobreiro e do medronheiro. Estes são habitats sensíveis, que têm uma importância vital em termos de sustentabilidade e de biodiversidade. Os medronhos são muito procurados por várias espécies de aves e mamíferos, porque frutificam no outono e inverno, quando há menos alimento”, explica Vânia Oliveira. “Além disso, como também florescem nesta altura, ao contrário da maior parte das plantas, são importantes para as abelhas e outros polinizadores. Neste momento [outubro], já tem as flores que hão de dar os frutos do próximo ano. Entre outubro e fevereiro têm sempre flor e fruto”, revela.
Também há medronheiros plantados em Águas Alves, bem como em muitas outras propriedades geridas pela Navigator. “Quando projetamos plantações de eucalipto, há sempre faixas de proteção e descontinuidade, onde são plantadas outras espécies que incluem, muitas vezes, o medronheiro”, esclarece Vânia Oliveira.
Medronheiros para produção
A procura de medronheiro é crescente nas zonas do interior do país, nomeadamente nas beiras. “Sempre houve ali medronheiros, mas não era uma cultura tão presente como no sul. Hoje, há várias empresas a produzir licores e compotas a partir do medronho, para além da tradicional aguardente”, confirma Vânia Oliveira. “Consciente desta procura do mercado, a Companhia plantou recentemente oito hectares de medronheiros na sua propriedade da Caniceira, na zona de Abrantes. Esta plantação tem em vista a produção e comercialização do fruto”, revela.
Ainda é cedo para avaliar resultados, porque o medronheiro só começa a frutificar seis anos após a plantação. Mas Vânia Oliveira pode adiantar algumas das características da espécie (Arbutus unedo) para quem possa ter interesse em plantá-la para investimento:
- Depois de plantado, pode precisar de alguma adubação;
- Anualmente, necessita de podas para garantir uma melhor produção e de forma a facilitar a colheita (evita que os arbustos cresçam demasiado);
- É uma espécie que se adapta facilmente a qualquer tipo de solo.
- Se o objetivo for transformar o fruto em aguardente, em vez de o comercializar fresco, a despesa da apanha e respetivo transporte até à adega representa cerca de 56% do valor de produção. Um número que está indicado no folheto “Medronho, Guia de Apoio ao Empreendedor” – que encontra no site do Centro de Competências dos Recursos Silvestres (CCRES), onde também pode descobrir-se a capacidade de produção de cada arbusto: até 15 quilos de fruto por ano, situando-se a média entre os sete e os nove quilos. Por outro lado, são necessários cerca de sete quilos de fruto para produzir um litro de aguardente.