Beatriz Cochofel Caldeira Brand Manager – ATLAS MGA

No ano em que o mote da OviBeja para mais uma edição é “Comunicar, Um Grande Desafio para a Agricultura”, vimos recuperar esta matéria e procurar dar uma perspetiva otimista dos principais desafios e oportunidades pelos quais passa o setor em termos de comunicação, desmistificando alguns pressupostos acerca do mundo rural.

Aproveitando a intervenção do Presidente da Comissão Organizadora da OVIBEJA, Rui Garrido, no âmbito da divulgação da 39ª edição desta feira daremos início à explanação do tema:

“A comunicação é um dos temas mais prementes tendo em conta que é fundamental estreitar laços entre o campo e a cidade e sedimentar o conhecimento sobre o mundo rural e o papel da agricultura como garante da alimentação humana e da fixação de pessoas no território. Por outro lado, e ainda do ponto de vista dos desafios, é importante estimular a comunicação para dentro, ou seja, entre agricultores e as associações que os representam de modo a facilitar a transferência de conhecimento de novas tecnologias, assim como o reforço do apoio técnico de modo a que o setor possa ter uma voz mais ativa e mais assertiva.”

De facto existe ainda um fosso muito grande entre a perceção no meio urbano do trabalho levado a cabo pelos agricultores em Portugal e a realidade de como as suas práticas são cada vez mais concebidas tendo por base a evolução tecnológica e a atenção pela sustentabilidade dos recursos.

Se não vejamos dois exemplos destes equívocos vulgarizados em ambiente urbano e que não têm coincidência com aquilo que é a realidade do meio rural: o impacto ambiental da pecuária e a sobre-exploração de recursos (nomeadamente hídricos) pela agricultura.

Impacto ambiental da pecuária

Acerca do impacto ambiental da pecuária convém, antes de mais, relembrar que “onde há produção pecuária, há pessoas que investem na proteção da terra, evitando o seu abandono, degradação, instabilidade hidrogeológica e perda de biodiversidade”.

Sabemos que a produção de gado para carne é considerada responsável por avultadas emissões de gases efeitos estufa para a atmosfera. Todavia, consultando estudos recentes divulgados pela Comissão Europeia (1), podemos averiguar que na Europa, a pecuária criada para a produção de carne é responsável por 7,2% face à média mundial de 14,5%.

Podemos perguntar-nos então: de onde vêm os restantes 85%/90%?

Grande parte do aquecimento global vem do uso de combustíveis fósseis para a energia utilizada na indústria, no sector residencial e nos transportes. Por exemplo, sabia que o consumo médio anual de carne de uma pessoa corresponde a cerca de 400kg de emissão de CO2 por contraposição a 500kg de CO2 lançados para atmosfera por passageiro de um voo de ida/volta Roma – Bruxelas?

Culpar estes importantes agentes económicos, ambientais e de saúde pública de serem os principais responsáveis pelas alterações climáticas, após os esforços continuados para manter os negócios agropecuários correspondendo às mais rigorosas e pesadas regulamentações, revela-se injusto e fora de contexto.

E, portanto, neste caso revela-se aqui também uma oportunidade de comunicação. Se é verdade que poderá existir um desconhecimento generalizado daquilo que são atualmente as explorações pecuárias, muitas vezes assente numa visão idílica da produção pecuária praticada antigamente. Mais verdade é ainda que, cabe ao setor e aos seus intervenientes dar a conhecer as boas práticas atuais assentes em inovação tecnológica que permite utilizar menos recursos e ser mais eficiente.

Sobre-exploração de recursos (nomeadamente hídricos) pela agricultura

A agricultura ocupa cerca de metade da superfície terrestre da UE, pelo que funciona em estreita relação com o ambiente. Por um lado, depende de vários recursos naturais — isto é, o solo, a água, o ar e a biodiversidade — e é fortemente influenciada pelo clima. Por outro, a agricultura molda o ambiente em que é praticada, não só através da forma como utiliza os recursos naturais, mas também criando e preservando paisagens que traduzem a nossa diversidade europeia e proporcionam habitats essenciais para a vida selvagem. (2)

O mundo está a evoluir rapidamente e o mesmo acontece com os desafios com que se defrontam não só os agricultores mas as nossas sociedades no seu conjunto.

Como tal, agricultores, investigadores, técnicos e empresas do setor da rega têm-se dedicado afincadamente ao tema do uso sustentável da água na agricultura, quer através da gestão sustentável, quer pela utilização eficiente da água e da energia na agricultura.

Exemplo disso é o uso de tecnologias de informação na rega, a aplicação de energias renováveis em sistemas de distribuição de água ou mesmo a utilização de águas residuais tratadas na agricultura.

Uma vez mais, podemos encontrar aqui um bom exemplo de como o agricultor deve posicionar-se como um “guardião da natureza”, desmistificando a ideia de principal responsável pelo gasto de recursos. O setor encontra aqui uma oportunidade para mostrar como tem promovido o equilíbrio entre o ambiente e a sustentabilidade económica, divulgando-o.

Assim sendo, o mote da desmistificação de pressupostos sobre a agricultura está lançado. O caminho deverá passar por continuar a investir em práticas agropecuárias sustentáveis que agreguem valor económico, social e ambiental e, por outro lado, promover cada vez mais o diálogo entre os agricultores e os intervenientes ao longo de toda a cadeia através de uma estratégia concertada para a cooperação e a comunicação entre eles.

“A nova vida no campo propõe valores sustentáveis que tendem a fazer do produtor rural um empreendedor que cuida das suas atividades com orientações e foco no crescimento sustentável, além da inserção no mundo globalizado, o que faz da comunicação um instrumento imprescindível.” (3)

Para investigações futuras, deixamos a análise sobre a comunicação para dentro do setor, promovendo a importância da cooperação e da transferência de conhecimento entre pares e a divulgação de boas práticas de gestão, tecnológicas e ambientais.

1 EU – COM (2020) 381 final; FAO (2013), Tackling Climate Change Through Livestock

2 EU – COM (2017) O futuro da alimentação e da agricultura — Comunicação sobre a Política Agrícola Comum após 2020

3 Comasetto & D. Savoldi (2012) – A Comunicação como fator para a sucessão e transformação na agricultura familiar 

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