O medronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie de origem mediterrânica que se distribui, espontaneamente, um pouco por todo o território nacional e muitas vezes consociado com espécies florestais como o pinheiro, o sobreiro e o eucalipto.

Há cerca de 25 anos instalaram-se as primeiras plantações ordenadas com plantas provenientes de semente ou de propagação vegetativa (clones). O medronheiro passou a ocupar áreas, além das de aptidão florestal, com aptidão agrícola e apareceram os primeiros pomares. As produtividades espectáveis passaram a ser maiores e houve que dar resposta ao tipo de operações culturais a adotar, as normais em fruticultura, onde a poda se integra.

A poda é sempre uma operação cultural que preocupa os produtores, mas tem de ser encarada como mais uma, que isoladamente não resolve todos os problemas.

No medronheiro, como espécie frutícola, estamos a dar os primeiros passos e para que a poda seja uma operação de rotina temos, ainda, de percorrer algum caminho e os conhecimentos adquiridos em outras espécies poderão ser uma grande ajuda. O prof. Vieira Natividade, na primeira metade do século passado, escreveu muito sobre poda de fruteiras e os seus ensinamentos ainda hoje são atuais e deverão nortear o nosso trabalho. Vieira Natividade (1937) estabeleceu os princípios da poda de acordo com a fase da vida da árvore e referiu:

• podar é cortar com um fim bem definido;

• mais do que a habilidade manual de cortar, tem importância conhecer a árvore, avaliar as suas deficiências, interpretar as suas reações, conhecer os seus processos biológicos;

• o segredo da poda consiste apenas em ajustar a técnica a cada caso particular;

• não existe um sistema que sirva para todos os casos; a árvore é um ser vivo. Temos de conhecer a planta, definir os objetivos e decidir as medidas a adotar em cada uma das fases da sua vida e em cada situação.

Algumas características do medronheiro que condicionam a poda

Só conhecendo a planta podemos tomar decisões e prever as respostas às intervenções que sobre ela temos; o medronheiro é diferente de todas as fruteiras temperadas cultivadas no nosso país:

a. Arbusto ou pequena árvore de folha persistente, de copa geralmente oval; na maioria das áreas que têm aptidão florestal e de baixa fertilidade é pouco vigoroso, mas quando instalado em solos profundos férteis e sem problemas de secura rapidamente se desenvolve e atinge vários metros de altura;
b. Sem grande dominância apical, os lançamentos que têm origem nos gomos terminais não adquirem maior comprimento do que aqueles que tiveram origem em gomos axilares da base dos ramos;
c. Na madeira mais velha possui gomos dormentes que após um stress (poda intensa ou destruição de parte da parte aérea pelo fogo) têm abrolhamento e dão origem a novos lançamentos (figura 1);
d. Grande capacidade de se regenerar a partir da torga. As raízes mais grossas possuem reservas e gomos dormentes e quando sujeito a uma crise surgem novos lançamentos a partir deles;
e. Os cachos de flores têm origem em gomos terminais prontos (formam-se no mesmo ano em que evoluem) ou seja frutifica sempre em ramos novos (figura 2);
f. Da floração à colheita decorrem 10 a 12 meses; é comum a época de colheita coincidir com a floração que vai produzir frutos no ano seguinte;
g. Os frutos são bagas pequenas (peso inferior a 20 g) com maturação escalonada mesmo ao nível do cacho sendo necessário fazer várias passagens para se colher a totalidade da produção;
h. A maturação e a floração ocorrem, normalmente, entre outubro e dezembro; existem também plantas que em determinadas condições têm frutos maduros em agosto.

O que pretendemos com a poda

Em cada planta e em cada situação devemos definir os objetivos, tendo como ponto de partida os transversais a todas as fruteiras (…).

Autoras →

Justina Franco1,2, Filomena Gomes1,2
1 Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior Agrária de Coimbra, Bencanta,
3045-601 Coimbra, Portugal.
2 Centro de Estudos de Recursos Naturais Ambiente e Sociedade (CERNAS), Instituto Politécnico de Coimbra, Bencanta, 3045-601 Coimbra, Portugal.
orcid.org/0000-0003-0897-8700

Agradecimentos:
Os trabalhos de investigação foram financiados pelo do projeto PDR2020 -784-042742 “Programa de Conservação e Melhoramento Genético do Medronheiro”.

Referências bibliográficas:
CEVRM. (2013). Inovação em pomares de medronheiro e medronho não destilado. Almodôvar.
Gomes, F. (Coordenação) (2017). Manual de boas práticas para a cultura do medronheiro. Coimbra: IPC; ESAC; CERNAS.
Natividade Vieira, J. (1937). Sôbre a poda das árvores de fruto. Estação Agronómica Nacional.

→ Leia o artigo completo na edição de junho 2023 da Revista Voz do Campo: