A sustentabilidade e o futuro das empresas num mundo afetado pelas alterações climáticas foram o mote para debate no Fórum da Garantia Mútua que decorreu durante a Feira Nacional de Agricultura no Auditório do Centro Nacional de Exposições (CNEMA), em Santarém, no passado dia 5 de junho, e que contou com mais de centena e meia de participantes.António Gaspar, presidente da Comissão Executiva da Agrogarante, na intervenção de abertura da sessão, explicou a razão de ser do Fórum, referindo que “para descarbonizar a economia nacional, o país precisa de desenvolver competências e ferramentas ajustadas a um desígnio coletivo e para o qual dispõe de uma baliza temporal de cerca de três décadas”.
Futuro do financiamento para as empresas
“Finanças Sustentáveis: o futuro do financiamento para as empresas” foi o tema da intervenção de Sofia Santos, economista especializada em financiamento verde, climático e sustentável enquanto oradora principal, que sucedeu a António Gaspar no palco e que foi atentamente escutada por todos quantos estiveram presentes na sessão.
Com uma clareza de discurso, Sofia Santos explicou a relação entre finanças sustentáveis e as PME, as novas regras de financiamento e as exigências que decorrem do cumprimento das novas regras. “Com Portugal a ser um dos países europeus mais expostos a riscos climáticos, e porque o clima é um risco financeiro – com os bancos a ter de incorporar os riscos climáticos nas suas análises – é crítico que as empresas evidenciem a sua aptidão ambiental”, salientou a economista na sua apresentação. Sofia Santos foi mais longe e apontou um conjunto de respostas possíveis das PME. “Não há tempo a perder. O futuro da Europa depende da saúde do planeta. Os países da UE estão empenhados em alcançar a neutralidade climática até 2050, cumprindo os compromissos assumidos no âmbito do Acordo internacional de Paris. Temos apenas 27 anos e há muito para fazer”, concluiu a economista.
Percursos de inovação e transformação tendentes à sustentabilidade
O debate que sucedeu à sua intervenção e que contou com a moderação de Marco Fernandes, CEO da Garval, foi a oportunidade para que quatro representantes de empresas de diferentes setores pudessem partilhar informação sobre os percursos de inovação e transformação tendentes à sustentabilidade.
José Sequeira, chairman da Lacticínios do Paiva, S.A., a primeira empresa do setor dos lacticínios com certificação ambiental, explicou a profunda transformação da empresa – fundada em 1933 – com os investimentos feitos na construção de uma ETAR, com introdução da ETAR no novo sistema de arejamento e ainda na instalação de painéis fotovoltaicos. “A nossa empresa assumiu um compromisso com a sustentabilidade, por isso se efetuaram tão vultuosos investimentos. Estamos focados na certificação ambiental”, destacou José Sequeira.
José Mário Leite, CFO da Resiway, explicou que o negócio da empresa é o epítome da economia circular. “Na Resiway entram 37 mil toneladas de resíduos e sub-produtos que dão origem a produção de gás a partir de biomassa”, referiu. “Damos ao resíduo um destino de valorização, assegurando o encaminhamento para o fluxo de tratamento mais adequado. Assim, a Resiway elimina as preocupações logísticas associadas à gestão de desperdícios, de forma sustentável e mediante processos amigos do ambiente. Queremos que a natureza tenha uma segunda vida”, concluiu José Mário Leite.
Seguiu-se Pedro Soares David senior partner na Core Capital, uma sociedade gestora de capital de risco orientada para as PME, e que é também sócio da Grow Mush, uma pequena empresa, localizada em Vila Flor, no distrito de Bragança. A Grow Mush, tal como o seu nome indica, cultiva cogumelos e, a partir desta cultura, produz adubos orgânicos e orgânico-minerais. “Uma empresa verde com a grande ambição de diminuir a importação de composto para a agricultura em Portugal, diminuindo a pegada ecológica deste tipo de produtos” explicou.
Já Eliseu Frazão, fundador e CEO da Fravizel – Metalomecânica e Engenharia deu a conhecer o caminho de 30 anos de busca continua de melhoria de processos e inovação da empresa. A Fravizel “procura proteger o meio ambiente com a redução de emissões, com a introdução práticas de economia circular no seu processo produtivo e ainda com a utilização de tecnologias protetoras do ambiente”, salientou.
A importância para os negócios do instrumento garantia mútua
Depois de um período de perguntas e respostas, os quatros oradores foram inquietados pelo moderador, Marco Fernandes, com a questão que se impunha num evento promovido pelo Sistema Nacional de Garantia Mútua: o instrumento garantia mútua foi importante para os vossos negócios? A resposta foi transversal, com os empresários a reconhecer o papel relevante da garantia mútua sempre que houve necessidade de financiamento em vários projetos.
O encerramento da sessão esteve a cargo de Carlos Oliveira, administrador executivo da Agrogarante.