Autoria: Joana Costa1,2 e António Portugal1,2
1Universidade de Coimbra, Center for Functional Ecology, Laboratório Associado TERRA, Departamento de Ciências da Vida, Coimbra, Portugal
2Laboratório de Fitossanidade, Instituto Pedro Nunes, Coimbra, Portugal;

Xylella fastidiosa é atualmente a principal ameaça aos setores agroambientais e florestais na União Europeia, sendo a bactéria classificada como organismo prejudicial e referenciada pela Organização Europeia de Proteção de Plantas como organismo de quarentena dado o seu elevado potencial destrutivo.

A deteção da bactéria esteve confinada ao continente americano até diversos focos terem sido reportados em território europeu desde 2013, nomeadamente em Itália, França, Alemanha e Espanha. Em 2019, foi detetada em Portugal, tendo sido estabelecidas, desde então, 18 zonas demarcadas em diversas regiões do Continente.

X. fastidiosa é o agente causal de diversas doenças com grande impacto económico e agroambiental e para a qual não existem métodos curativos disponíveis. Esta bactéria coloniza dois habitats distintos: o xilema de plantas hospedeiras e o intestino anterior de insetos picadores/sugadores que se alimentam do xilema. A transmissão por insetos não requer um período de incubação no vetor e a bactéria é transmitida de forma persistente, sendo os adultos o principal meio de disseminação para novos hospedeiros.

A gama de hospedeiros desta bactéria abrange 563 espécies segundo a EFSA, incluindo plantas ornamentais, silvestres e agroflorestais, espontâneas e infestantes. As plantas suscetíveis, dada a sua diversidade, podem ser encontradas em locais públicos e privados, zonas urbanas, áreas agrícolas e povoamentos florestais. De destacar, pela sua expressão no nosso território e pelo seu valor económico, a vinha, o olival, o amendoal e os citrinos, entre outras. No entanto, existem diferenças significativas na suscetibilidade entre hospedeiros, uma vez que a bactéria não parece causar doença em muitas destas espécies, sendo a colonização frequentemente assintomática durante muito tempo após a inoculação, podendo, no entanto, servir como reservatório de inóculo.

Os sintomas dependem da combinação entre a planta hospedeira, a subespécie de X. fastidiosa em causa e fatores abióticos. Os sintomas estão associados à oclusão dos vasos xilémicos das plantas. Incluem geralmente queimadura, murchidão e queda das folhas, clorose ou bronzeamento ao longo da margem da folha e nanismo. As infeções podem conduzir à morte das plantas infetadas. Os sintomas aparecem geralmente em apenas alguns ramos, mas com o evoluir da doença acabam por afetar toda a planta e podem ser confundidos com outros causados por outros fatores bióticos ou abióticos, sendo necessário a realização de análises laboratoriais para confirmar a deteção da bactéria.

A deteção de organismos nocivos de quarentena, como a bactéria X. fastidiosa, só pode ser realizada por Laboratórios Oficias designados pela DGAV e acreditados pelo IPAC segundo o referencial normativo NP EN ISO/IEC 17025:2018, cumprindo com o Regulamento (UE) n.º 2016/2031. Os métodos de isolamento não são recomendados para a deteção de X. fastidiosa devido ao crescimento lento da bactéria. Por conseguinte, a deteção baseia-se em testes moleculares específicos, nomeadamente PCR em tempo real e PCR convencional, descritos e validados em normas internacionais. A utilização da metodologia de sequenciação de múltiplos loci permite obter dados relevantes que devem ser determinados aquando da deteção de X. fastidiosa por forma a rastrear a origem do material infetado em caso de interceção ou surto, bem como definir a lista de hospedeiros suscetíveis (…).

→ Mais desenvolvimento na edição de agosto/setembro 2023: