As dinâmicas associadas aos fluxos de rebentação, variabilidade/intensidade de pragas, e todas as operações culturais que permitem ter algum controlo sobre estes processos assumem no caso dos citrinos níveis de especificidade e complexidade bastante elevados.

O fruticultor que for capaz de entender e antecipar-se nas múltiplas decisões, terá ganhos acrescidos quer em termos financeiros, como também em menor pegada ecológica. Neste artigo dá-se conta, para o caso da psila africana dos citrinos, da manifesta relação entre o estado fenológico da planta e a presença da praga. São apresentadas fotografias originais e resultados de ensaios efetuados no Campus de Vairão da Universidade do Porto entre 2017 e 2021.

Fluxos de rebentação por ano dos citrinos O surgimento da rebentação nova nos citrinos, apresenta fluxos anuais que, conforme referido em (Carvalho et al, 2000), embora estejam intimamente relacionados com as características genéticas, também são influenciados de forma notável pelos condicionalismos ecológicos locais e, em particular, pelas práticas culturais, especialmente pela rega, fertilização e poda. Assim, mesmo nos casos em que, como é normal acontecer, se verifica nos citrinos rebentação mais intensa na primavera, ocorrem também outras rebentações com graus de escalonamento e importância muito variável, no início do verão (em geral de pequena expressão) e no fim do verão ao início do outono, esta última mais expressiva e frequentemente com acentuada importância (Carvalho et al, 2000). Ainda sobre o número de fluxos Amaral (1982), citado por Carvalho et al (2000) refere que a rebentação está intimamente relacionada com as características genéticas das plantas, e é influenciada notavelmente pelos fatores ecológicos e, em especial, pelas práticas culturais, sendo geralmente em número de dois a quatro por ano, sendo três o número normal.

De acordo com a escala BBCH, um sistema de codificação dos estados fenológicos (Meier, 2001) que estabelece 10 principais fases de desenvolvimento das plantas (de zero a nove), a rebentação nova é descrita pelos estados um, dois e três. Uma escala desenvolvida para limoeiro por Cifuentes-Arenas (2018) detalha a fase de rebentação de V1 a V6 sendo V1 – gomo inchado, V2 – separação dos primeiros pecíolos basais, V3 – expansão das folhas, V4 – abertura total das folhas, V5 – folhas totalmente expandidas e V6 – endurecimento das folhas. Para esta classificação são tidos em conta o número de folhas, seu tamanho e disposição em torno do caule em desenvolvimento.

A observação e o registo cuidado permitem ter consciência do desenvolvimento e do ritmo de crescimento em cada situação concreta como pode ser apresentado em (Biosfera, 2022) e está ilustrado através de fotografias na Figura 1 (que mostram a evolução/crescimento de um rebento de citrino ao longo de 7 semanas) e Figura 2 (que mostram os estados fenológicos V1 a V6).

Com o objetivo de confirmar a existência de mais do que um ciclo de rebentação anual referido na bibliografia foi conduzido um ensaio de contagem e registo da rebentação nova em duas tangerineiras da variedade Setubalense, sujeitas às mesmas práticas agronómicas, ao longo de dois anos. O ensaio decorreu de janeiro de 2020 a dezembro de 2021 e consistiu na contagem, duas vezes por mês, do número de rebentos novos existentes num círculo de 56cm de diâmetro nas quatro orientações norte/sul/este/oeste. Os resultados são apresentados no Gráfico 1 estando na ordenada assinalado o número total de rebentos novos nas duas árvores nas quatro orientações cardeais. A forma das curvas de 2020 e 2021 é semelhante, no entanto existe um desfasamento entre elas, sendo esse desfasamento mais notório no primeiro fluxo (3,5 semanas) que no segundo fluxo (2 semanas), e a diferença atribuída às condições meteorológicas ocorridas. Estes registos confirmam a existência de um fluxo maior na primavera, um segundo no verão e, no ano de 2020, um 3.º fluxo no outono.

Relação entre a fenologia da árvore e a presença de psila De acordo com as publicações de DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária) verificou-se que a psila africana dos citrinos progrediu ao longo de toda a costa oeste de Portugal desde o norte, onde foi registada em 2014, no distrito do Porto (Aviso Agrícola – Circular n.º 3/2015), até ao distrito de Faro, onde chegou em 2021. Trata-se de uma praga que induz uma forte alteração visual nas plantas (Carvalho, 2018), conforme visível na imagem.

É uma questão unânime que a psila africana dos citrinos, Trioza erytreae, necessita de rebentação nova para se reproduzir e sobreviver. Nos estudos efetuados no Campus de Vairão entre 2017 e 2021, observou-se que as fêmeas colocam os ovos apenas nas folhas recém emergidas, muitas vezes ainda fechadas como pode ser observado na próxima imagem. Nesta imagem observa-se um ataque de intensidade máxima; o rebento encontra-se totalmente infestado de ovos e adultos da psila; estes severos ataques, identificados num pomar de produção de limões no norte de Portugal, estavam a conduzir à morte dos rebentos (secagem da extremidade dos caules ainda herbáceos); trata-se de um fenómeno raro de se observar.

O adulto inicialmente é de cor verde claro, tendo uma forma distinta daquela que terá quando for capaz de voar em que é bastante mais esbelto e de cor castanha (Aguiar et al, 2021). De acordo com Carvalho & Aguiar (1997) cada fêmea pode colocar até 2000 ovos e a longevidade do inseto adulto varia entre os 17 e 50 dias, a duração de cada geração varia entre 43 e 115 dias. Da eclosão dos ovos surgem as ninfas que podem ser observadas na página inferior das folhas novas já completamente crescidas. São essencialmente sedentárias, salvo quando perturbadas, protegendo-se nas galhas que se formaram como reação à sua atividade alimentar (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de março 2024

Autoria: Nuno M. Carvalho¹ , Ana Aguiar²

¹Engenheiro Agrónomo e Arquiteto Paisagista, pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

²GreenUPorto – Sustainable Agrifood Production Research Centre/Inov4Agro & DGAOT – Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Rua da Agrária 747, 4485-646 Vairão, Portugal. aaguiar@fc.up.pt