É urgente promover a literacia alimentar e abraçar a tecnologia, equipando o agricultor para uma produção (ainda mais) sustentável

Foi no passado dia 20 de junho que se realizou, com o apoio da Abreu Advogados, o 1º Congresso CropLife Portugal. Um encontro que reuniu mais de 10 oradores, em 3 painéis dedicados a debater alguns dos maiores desafios ligados não só à atividade do setor agrícola, mas também à forma como as escolhas alimentares que fazemos podem contribuir, para a sustentabilidade do planeta. Entre especialistas em nutrição, representantes de organizações ligadas à segurança alimentar, representantes dos consumidores e entidades governamentais, a conclusão foi unânime: é urgente promover a literacia alimentar junto dos consumidores e disponibilizar aos agricultores soluções tecnológicas e inovadoras, que já existem e que podem, de forma efetiva, contribuir para a garantia de sistemas alimentares sustentáveis.

No momento de abertura, que ficou a cargo de Manuel Durães Rocha, Sócio da Abreu Advogados, e Felisbela Torres de Campos, Presidente da CropLife Portugal, foi dado o seguinte mote: a distância da sociedade face ao mundo rural, a necessidade de preservar e regenerar os recursos naturais, assim como a exigência de mudança dos sistemas de produção de alimentos num ambiente de muitas dúvidas, mitos e de um consumidor pouco crente na ciência, foram alguns dos desafios lançados à audiência pelos dois primeiros oradores, num dia rico em exemplos práticos de como é possível sermos ainda mais sustentáveis na forma como produzimos e consumimos alimentos.

Feita a abertura, “Ciência, Nutrição e Produção”, o primeiro de três painéis, tomou conta do Auditório da Abreu Advogados. Joana Sousa, Nutricionista e Professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, ficou responsável pela abertura da sessão, com uma reflexão dedicada à importância da dieta planetária na manutenção de sistemas alimentares sustentáveis. Isto porque, como a própria referiu «as escolhas alimentares podem, sem dúvida, ter um impacto muito positivo no ambiente e, por isso, é emergente alterarmos comportamentos, alterarmos padrões de consumo e, ao mesmo tempo, a produção poder acompanhar esta necessidade em termos de sustentabilidade do sistema alimentar». Joana Sousa juntou-se posteriormente a Domingos Santos, Presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas, Rita Rodrigues, Diretora de Comunicação e Relações Institucionais da DECO Proteste e Pedro Barraco, Diretor da Cadeia Agroalimentar da Mercadona e a conclusão não se fez tardar: nunca tivemos uma Europa tão segura a nível alimentar, uma base científica tão consistente e um consumidor tão cheio de dúvidas. É urgente combater a desinformação, ajudar o consumidor a basear as suas escolhas em fatores que influenciam a sustentabilidade dos sistemas agrícola (a sazonalidade, a produção local, entre outros). E isso só será possível com um trabalho estratégico, integrado e conjunto – entre produtores, especialistas, cadeias agroalimentares e entidades regulamentares – que através de uma linguagem simples, acessível e direta para comunicar com o consumidor, possam deixar claro que as opções que está a fazer são seguras e sustentáveis.

O segundo painel, dedicado ao tema da “Tecnologia e Inovação na Proteção das Plantas”, ficou a cargo de Manuela Tiramani, em representação da EFSA, Sandra Teles, da NOS, Paulo Lourenço e Margarida Moura, da Comissão Técnica de Homologação da CropLife Portugal, Bárbara Oliveira, da DGAV e João Roseiro, Coordenador do Grupo de Trabalho de Proteção das Culturas da Portugal Nuts. E também aqui as conclusões foram unânimes: a ciência não pára de trabalhar em soluções cada vez mais sustentáveis, as tecnologias já existem, disponíveis para serem utilizadas, pelo que a única coisa que falta é a aplicação de mecanismos e estratégias que viabilizem a sua adoção pelos agricultores. A comprovada segurança alimentar pode ser posta em causa se não forem priorizadas as necessidades das culturas, otimizando o trabalho em campo. Ou seja, é imperativo deixarmos de pensar na tecnologia e inovação como uma utopia a que dificilmente conseguimos chegar, porque ela está nos nossos dias e é real, e disponibilizar incentivos para a sua implementação e adoção – permitindo ao setor cumprir objetivos e alcançar metas, num contexto de desafios para o planeta e para a forma como se produzem alimentos.

Para o terceiro e último painel desta sessão ficou reservada uma conversa dedicada ao tema “Agricultura, um recurso finito – a resposta política” que contou com a abertura de João Cardoso, Diretor Executivo da CropLife Portugal. Um momento de resumo onde se concluiu que: a televisão e a internet continuam a ser as fontes preferenciais de procura de informação do consumidor em matéria de riscos alimentares e a desinformação vai fazendo o seu caminho. Em contrapartida, os mais recentes dados da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) confirma a continuidade da segurança dos alimentos na união europeia com 96,3% das amostras a respeitar os limites máximos de resíduos.. Ou seja, é urgente encontrar uma forma eficaz de comunicar segurança, inovação, tecnologia e sustentabilidade junto do consumidor, tornando-o parte deste triplo desafio que todos enfrentamos – o de tornar acessível as dietas saudáveis; o de melhorar a sustentabilidade dos sistemas alimentares e o de garantir meios de subsistência aos agricultores.

Uma reflexão que antecedeu a última mesa-redonda, moderada pela Jornalista Joana Petiz, Diretora Editorial do Sapo, que juntou Álvaro Mendonça, Presidente da CAP, Emília Cerqueira, Presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas, Nuno Serra, Secretário-Geral da CONFAGRI e Manuel Durães Rocha, Sócio da Abreu Advogados. Neste painel, as políticas agrícolas e o contexto europeu estiveram em destaque: por um lado, é preciso olhar para as assimetrias entre estados-membros e ter muita atenção às decisões políticas que são tomadas no ecossistema europeu. é urgente que as políticas do Pacto Ecológico Europeu sejam desenvolvidas com base em estudos de impacto adequados sobre a economia, a produtividade, a vida dos agricultores e o território; A regulamentação deve permitir, cada vez mais, desbloquear e colocar novas soluções úteis no mercado ao invés de levantar barreiras que impedem a disponibilização de ferramentas aos agricultores. A falta de sensibilidade para a realidade do campo da parte das entidades regulamentares e políticas torna o trabalho dos agricultores particularmente complicado – acima de tudo pelo desfasamento total que existe entre aquela que é a realidade diária dos consumidores(de constante disponibilidade de alimentos nas prateleiras dos supermercados) e a realidade do campo.

O encerramento da sessão ficou a cargo de João Cardoso, que aproveitou o momento para relembrar que «dia 20 de junho, além da data do nosso primeiro congresso é também dia mundial dos refugiados, uma condição que toca muitos dos pontos que aqui falámos e que vão desde a disponibilidade alimentar até às necessidades básicas do ser humano. Todas as nações têm uma responsabilidade em permitir uma vida melhor à população mundial e no setor da proteção das plantas este papel é ainda mais fundamental – 40% da produção mundial de alimentos é perdida para pragas e doenças e se nós não existíssemos, provavelmente, esse número seria ainda maior. Assim, é necessário tornar acessível alimentos, água, saúde e meios de subsistência económica para todos nós. A agricultura, acima de todos os setores, tem este poder de fixar populações, de gerar riqueza local, de gerir paisagens, de transformar algo em alimentos úteis para a nossa saúde, no fundo, é um setor a acarinhar por qualquer nação que se queira inclusiva, sustentável e próspera. No dia de hoje, ficou bem patente o caminho a seguir, as ferramentas e soluções existem e estão prontas a equipar os nossos agricultores, com a capacidade de atrair jovens, gerar riqueza e promover uma verdadeira sustentabilidade. Assim, termino com um apelo: pensarmos na agricultura do futuro. Agora é hora de agir».