As doenças do lenho da videira (DLVs) são um conjunto de micoses de etiologia complexa, com impacto nos órgãos lenhosos da videira, que conduzem à redução do fitness da planta e, em alguns casos severos, à sua morte (Azevedo-Nogueira et al., 2022).

Estudos realizados durante longos períodos revelaram uma redução permanente na produção (quantitativa e qualitativa) das videiras infetadas por DLVs em comparação com plantas sãs, demonstrando-se que existe um impacto positivo quando a proteção preventiva das infeções de DLVs é adotada, tanto a curto como a longo prazo (Fontaine et al., 2016).

Apesar dos avanços científicos e tecnológicos alcançados ao longo das últimas décadas, no campo, o diagnóstico das DLVs foca-se sobretudo na observação visual dos sintomas nos órgãos da planta em determinadas épocas do ano consideradas mais propícias ao seu aparecimento (Azevedo-Nogueira et al., 2022; Fontaine et al., 2016; Gramaje et al., 2018).

Consequentemente, controlar e evitar a contaminação por DLVs nas vinhas assenta sobretudo no conhecimento detalhado das parcelas/vinhas/ regiões que estão sob pressão de inóculo mais elevada, de forma a que sejam implantadas as medidas de proteção que permitam mitigar a propagação destes fungos (Gramaje et al., 2018). As várias prospeções realizadas em Portugal sobre a incidência destas doenças têm sido, maioritariamente, restritas a uma determinada região e têm revelado que Esca/Botriosferiose e Pé Negro/Doença de Petri são as DLVs mais frequentemente diagnosticadas nos vinhedos adultos e jovens, respetivamente (Patanita et al., 2022; Rego et al., 2006; Reis et al., 2020). Outras doenças do complexo DLVs, como por exemplo, Eutipiose, surgem esporadicamente e com uma distribuição muito localizada (Guerin-Dubrana et al., 2019). Nesse sentido, no início do projeto TrunkBioCode sentiu-se a necessidade de reavaliar a incidência das DLVs nas diferentes regiões vitícolas de Portugal Continental (Fig. 1).

Figura 1. Sintomas associados a doenças do lenho da videira: cloroses entre nervuras nas folhas, varas necrosadas, cachos mumificados e necroses no lenho

Os resultados apurados na prospeção e identificação laboratorial realizada ao longo de 2021 e 2022 (Fig. 2) revelaram que na região vitivinícola do Douro a maior percentagem (aproximadamente 69%) de fungos patogénicos identificados estava associada a Botriosferiose. Foi diagnosticada em plantas de idades diversas, e em castas comummente cultivadas na região tais como a Touriga Nacional, a Touriga Franca ou Aragonez. A Botriosferiose foi igualmente dominante nas regiões de Lisboa (aprox. 66%), Vinhos Verdes (aprox. 76%), Algarve (aprox. 67%), Bairrada (aprox. 51%) e Dão (aprox. 63%). Na Península de Setúbal (aprox. 66%) e no Alentejo (aprox. 44%) detetou-se uma maior incidência de patógenos associados à Esca. A região vitivinícola do Tejo foi a que apresentou uma maior percentagem de infeção causada por fungos responsáveis pela Escoriose (aprox. 42%), seguindo-se de Botriosferiose (aprox. 37%). O Pé-negro e a Eutipiose foram pontualmente detetados, sendo que a Eutipiose surgiu com um valor máximo de 4% no Alentejo e o Pé-Negro registou 9% de incidência na Península de Setúbal (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de agosto/setembro 2024

Autoria: Filipe Azevedo-Nogueiraa,b, Ana Gasparc , Helena Rodrigues Gonçalvesd, Rute Amarob, Ana Margarida Fortesb, David Gramajee, Paula Martins-Lopesa,b*, Cecília Regoc

a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Escola das Ciências da Vida e do Ambiente, Vila Real, Portugal
b BioISI – Instituto de Biosistemas e Ciências Integrativas, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, 1749-016, Lisboa, Portugal
c LEAF – Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food-Research Center, Associated Laboratory TERRA, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal.
d REQUIMTE, Instituto Superior de Engenharia do Porto, 4200-072 Porto, Portugal;
e Institute of Grapevine and Wine Sciences (ICVV), Spanish National Research Council (CSIC), University of La Rioja and Government of La Rioja, 26007 Logroño, Spain

* autor correspondente: plopes@utad.pt