A decorrer desde abril de 2023, o +VALORCER é um projeto financiado pelo PRR que tem como dinamizadores a ANPROMIS, a ANPOC, a Universidade Nova de Lisboa, a CONSULAI e o InnovPlantProtect e que tem vindo a trabalhar no sentido de potenciar a produção de cereais em Portugal através da introdução de novos processos, tecnologias avançadas e modernos métodos de otimização – ancorados, por exemplo, na adoção da tecnologia blockchain ou no desenvolvimento de modelos estruturados à medida da realidade agrícola nacional.

Na fase analítica do projeto, a recolha de informação junto das Organizações de Produtores e o estudo do mercado português permitiram concluir que um dos maiores desafios que os produtores nacionais enfrentam é a distância que existe entre a produção e o consumidor final – em particular devido às longas e complexas cadeias de transformação e abastecimento, que envolvem inúmeros intervenientes. Esta barreira impede os produtores de compreenderem as necessidades dos consumidores finais, tornando difícil o desenvolvimento de decisões estratégicas bem informadas e orientadas por dados. Por outro lado, é natural que os agricultores se questionem porque devem investir na melhoria dos processos sem uma compreensão clara dos benefícios que isso pode trazer. Afinal, os cereais são entendidos como commodities básicas e os produtores acabam por se concentrar essencialmente no aumento do volume de produção, pois esse indicador é visto como a principal (e, às vezes, única) maneira de aumentar as margens de lucro.

No entanto, o +VALORCER reconhece um potencial de valorização adicional dos cereais nacionais por via de pesquisas intensivas de mercado, inovação tecnológica e práticas sustentáveis. E, é neste contexto, que surge uma abordagem inovadora – a chamada Teoria dos Modelos Mentais – como ferramenta capaz de preencher eficazmente a lacuna entre produtores e consumidores.

A Teoria dos Modelos Mentais, ao promover a comunicação por meio de conclusões tiradas de infográficos estruturados, permite que os produtores entendam as necessidades dos consumidores e os benefícios que podem resultar da adoção de novos processos, incluindo benefícios financeiros. Ao mesmo tempo, esta abordagem também possibilita que os consumidores compreendam os desafios e etapas envolvidas na produção agrícola, favorecendo determinados métodos e, consequentemente, a valorização do setor cerealífero nacional.

Um modelo mental é uma espécie de mapa personalizado que a mente humana cria para dar sentido ao mundo. É o modo como organizamos informações, fazemos previsões, e entendemos como as coisas funcionam com base nas nossas experiências e conhecimentos. Podemos imaginá-lo como um guia interno que molda a maneira como as pessoas percebem e interagem com a sua realidade. No âmbito do +VALORCER, a aplicação de modelos mentais envolve uma exploração aprofundada do comportamento do utilizador (consumidor) e das tendências de mercado que, por sua vez, permitem a compreensão da dinâmica do mercado agrícola. Esta dupla análise possibilita a identificação de oportunidades de inovação e esforços de marketing e concluir, por exemplo, se estas se encontram alinhadas com as preferências do consumidor. Essencialmente, os modelos mentais facilitam uma melhor comunicação e tomada de decisão, fornecendo uma estrutura clara do entendimento compartilhado entre diferentes partes.

O processo de aplicação da Teoria dos Modelos Mentais envolve uma investigação aprofundada, distribuída por quatro etapas, sobre como diferentes grupos de pessoas tomam decisões.

Primeiro, é necessário identificar o que os especialistas da área pensam e o que a investigação atual sugere, bem como qual o entendimento geral da sociedade em cenários específicos – algo que pode ser feito por meio de entrevistas, conduzidas de forma científica, aos intervenientes no processo (neste caso, produtores agrícolas, consumidores, e especialistas em blockchain) de modo a incluir dezenas de testemunhos. Nesta fase são aplicados métodos especiais de análise de dados e esquemas de codificação, transformando estas entrevistas em mapas mentais que ilustram a cadeia de pensamento dos participantes.

Seguidamente, as primeiras conclusões são ampliadas com questionários de acompanhamento distribuídos por centenas de consumidores, de modo a obter uma compreensão mais profunda das conexões entre fatores significativos e indicadores relevantes para os grupos analisados e, por conseguinte, uma ideia da magnitude e direções gerais dos resultados (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de agosto/setembro 2024

Autoria: Tatiana Kireeva Affonso, Miguel Castro Neto, NOVA IMS, Nova Cidade Urban Analytics Lab