O Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, no dia 23 de outubro foi palco do III Balanço de Campanha dos Frutos Secos, organizado pela Portugal Nuts – Associação de Promoção de Frutos Secos, em parceria com o CNCFS – Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos e o COTHN – Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional. O encontro reuniu vários protagonistas da indústria, oferecendo um espaço para conversas e discussões sobre o futuro dos frutos secos em Portugal.

Sendo a indústria de frutos secos relativamente recente em Portugal, sobretudo a amêndoa, com grande expansão nos últimos seis a sete anos, o que exige aprendizagem e adaptação constantes, para Tiago Costa, presidente da Portugal Nuts, o principal objetivo do Balanço de Campanha é a possibilidade de avaliar o desempenho da colheita, identificar detalhes e desafios a serem considerados, e, sobretudo, reunir produtores para definir estratégias conjuntas.

Um dos desafios fundamentais mencionados por Tiago Costa é a adaptação das variedades de amêndoa aos solos e climas locais, que variam significativamente. “Há muitas questões a considerar, desde a escolha das variedades mais adequadas para cada tipo de solo e localização, até a resistência a doenças e pragas, que diferem consoante a região e as condições meteorológicas”, observa. A indústria portuguesa baseou-se principalmente em variedades ibéricas de amêndoa, conhecidas pela sua casca dura, em contraste com as variedades americanas, que têm uma casca mais mole.

Investimentos na transformação e agregação de valor

Com a chegada de novas unidades industriais para descascar a amêndoa em Portugal, o setor vislumbra uma oportunidade de agregar ainda mais valor ao produto nacional. Segundo Tiago Costa, “a maior parte das indústrias estavam em Espanha, e muitas delas estão a instalar-se cá, precisamente para ter capacidade e historial local (…). Há uma série de novos investimentos que estão a acontecer nessas áreas e que estão também a ganhar projeção e inclusive pensa-se que depois o passo seguinte será também acrescentar valor, ou seja, em vez de ser só descasque passar também às outras fases de transformação, que passam por laminados, palitar (…)”. Duarte Correia, diretor da Portugal Nuts, também partilha da mesma visão. “Ao processarmos mais amêndoas em território nacional, aumentamos o valor agregado e fortalecemos a nossa posição no mercado externo”, sustenta o diretor-geral da Portugal Nuts.

“A amêndoa já contribui para a balança comercial portuguesa com mais de 50 milhões de euros por ano”.

Duarte Correia, realça que a amêndoa representa 90% da área de cultivo dos associados da Portugal Nuts, o que demonstra a relevância dessa cultura, fundamentando os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE): “A amêndoa portuguesa está a seguir o caminho do azeite, de produto importado, passou a ter uma produção autossuficiente e, agora, posiciona-se como exportadora. A amêndoa já contribui para a balança comercial portuguesa com mais de 50 milhões de euros por ano”, regista Duarte Correia.

Em 2022, a seca foi uma preocupação predominante, enquanto em 2023 o cenário foi inverso, com o excesso de chuvas na primavera e no início do verão. Essa situação trouxe desafios fitossanitários, e Duarte Correia sublinha a limitação de produtos em Portugal para o combate de pragas e doenças.

João Varela, técnico superior do Instituto Nacional de Estatística (INE) na área da agricultura e ambiente, foi um dos oradores da sessão. À nossa reportagem, o especialista destacou o vasto conjunto de dados disponíveis no INE sobre o setor de frutos secos, com especial foco na amêndoa. Essa informação, acessível no portal do INE, permite um acompanhamento detalhado da evolução da produção e comércio desses produtos.

Segundo João Varela, as estatísticas anuais mostram um forte dinamismo no setor da amêndoa, com crescimento sustentado na área plantada e nas quantidades produzidas.

“Os pomares demoram alguns anos a produzir, mas já observamos um aumento substancial na produção, que reflete o crescimento do setor nas nossas estatísticas de comércio internacional”, afirma. Entre 2016 e 2023, as exportações de amêndoa aumentaram mais de 50 milhões de euros, evidenciando o impacto económico do setor. O técnico adianta ainda a importância da divulgação dos dados do INE, que possibilita uma análise detalhada não apenas para produtores, mas também para decisores políticos. Esses dados são fundamentais para desenhar e avaliar políticas públicas, pois oferecem uma base sólida para a criação de estratégias ajustadas às necessidades (…).

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A Revista Voz do Campo, durante o evento esteve em direto no local.

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