A mesa-redonda “Resiliência Hídrica: É Possível?”, realizada no âmbito das Jornadas da FENAREG, proporcionou um debate profundo sobre os desafios da gestão da água em Portugal. Moderada por Ana Velez, fundadora da VALKIRIAS Consultores, a sessão contou com a participação de especialistas de diferentes áreas: Gonçalo Tristão (FENAREG), Álvaro Beleza (SEDES), Rogério Ferreira (DGADR) e José Pimenta Machado (APA).
Ana Velez iniciou os trabalhos destacando o momento decisivo em que o país se encontra. “Estamos num momento de viragem, um momento crítico para a criação de uma estratégia nacional e de um plano para a água e regadio”, afirma. Entre as questões colocadas aos especialistas, destacaram-se: Como garantir a resiliência hídrica em Portugal? Como enfrentar os desafios demográficos na agricultura, como o envelhecimento dos agricultores e a falta de rejuvenescimento? Como transformar a água num motor de desenvolvimento económico e social sustentável.
Gonçalo Tristão, presidente do COTR e diretor da FENAREG, destacou o momento decisivo que Portugal enfrenta em relação à gestão hídrica, realçando a relevância do relatório produzido pelo Grupo de trabalho “Água que Une”. De acordo com o diretor da FENAREG, o momento é de viragem.
“O momento de viragem é este. É olhar para o relatório e pedir ao Governo que se responsabilize, que atue e decida”, destaca.
“Para nós, FENAREG, é motivo de grande satisfação ver que o trabalho que temos realizado ao longo dos anos está agora a ser seguido pelo novo Governo (…). Já há algum tempo que a FENAREG estuda a estratégia nacional para o regadio”, afirma. Gonçalo Tristão ressalta a necessidade de avançar com obras estruturais como a construção de novas barragens, o balteamento de algumas já existentes e a interligação de bacias hidrográficas, uma questão que ele considera de vital importância para o país.
O diretor da FENAREG sublinha também que a FENAREG mantém uma grande expectativa quanto à disponibilização de fundos para obras que não são apenas voltadas à agricultura, mas que trazem vantagens também para o território em termos sociais e económicos. “A expectativa é grande de que, de facto, isto mude e que finalmente haja algumas decisões”, considera.
Já Álvaro Beleza, presidente do Conselho Coordenador da SEDES, trouxe a visão de que a água é um recurso essencial para a soberania e o futuro de Portugal.
“A água é um dos valores mais essenciais para a autonomia portuguesa, para o crescimento económico e para a nossa identidade como país. Temos que cuidar bem da nossa água, mas também tomar decisões”, declara.
Álvaro Beleza defendeu a necessidade de solidariedade entre o Norte e o Sul do país, através do transporte de água das regiões mais ricas em recursos hídricos para as mais vulneráveis. “Precisamos de transportar água do Norte, que tem maior disponibilidade no inverno, para as barragens do Sul, garantindo capacidade no verão (…). Espanha implementou este modelo há 30 anos (…) portanto nós estamos 30 anos atrasados”, afirma.
A integração de soluções inovadoras, como a dessalinização, também foi apontada como essencial.
“Mais do que decidir, é tempo de fazer. Não estamos a inventar nada (…) estamos a replicar soluções que funcionam, respeitando os ecossistemas e enfrentando as alterações climáticas”, considera Álvaro Beleza.
Para Rogério Ferreira, diretor-geral da DGADR, o foco deve estar na eficiência do uso da água: “Hoje, nestas jornadas, foi consensual a importância de uma estratégia nacional que valorize a agricultura e concentre todos os esforços em prol da eficiência, da resiliência e do novo modelo de governação, que possa servir todos os setores que da água dependem estruturalmente”.
José Pimenta Machado, presidente da APA, destacou a capacidade de mobilização do setor e a necessidade de um trabalho conjunto. “Temos que acabar com as tensões entre o ambiente e a agricultura. Faz sentido trabalharmos juntos, com espírito de equipa, para garantir água para a agricultura, garantir água para os ecossistemas (…) melhorar o caudal de água”, afirma. O presidente da APA elogiou a colaboração entre os Ministérios do Ambiente e da Agricultura, que considera um passo positivo para a concretização de uma estratégia nacional. “Há um novo paradigma de trabalho conjunto, um exemplo que pode trazer benefícios para o território e o setor”.
→ Leia este e outros artigos completos na reportagem das XV Jornadas da FENAREG na Revista Voz do Campo – edição de janeiro 2025, disponível no formato impresso e digital.
Assista em vídeo a alguns momentos do encontro: