O souto dos 365 é um povoamento de castanheiros centenários existente na aldeia de Miguel Choco, freguesia de Trancoso (São Pedro e Santa Maria) e Souto Maior. Segundo se sabe, o nome deste souto advém da vontade dos seus proprietários de plantarem um castanheiro correspondente a cada dia do ano.
No âmbito protocolo de cooperação entre a UTAD e a Câmara Municipal de Trancoso, foi realizado o inventário dos castanheiros existentes, tendo-se inventariado 210 árvores (Figura 1).
Na sua maioria são castanheiros monumentais de grande porte, 145 dos quais têm um diâmetro à altura do peito (DAP) superior a 100 cm (Figura 2) (cerca de 100 a 150 anos) e destes 32 castanheiros apresentam um DAP superior 200 cm (cerca de 250 a 300 anos), tendo o maior de todos um DAP de 315 cm (cerca de 350 a 400 anos). Relativamente à altura, 80 árvores têm mais de 15 m de altura, tem a mais alta, 29,3 m.
Em relação ao seu estado sanitário, 150 árvores apresentam necessidades de intervenção, sobretudo pela presença de cavidades nos troncos.
De igual forma o espaço precisa de uma intervenção para limpeza do coberto vegetal, muito dele, de natureza arbustiva. Na sua maioria são castanheiros enxertados, aparentando a castanha produzida ser da cultivar Longal, embora se tenham encontrado algumas árvores produzindo uma castanha mais achatada com semelhanças bastante grandes com a cultivar Martaínha (Figura 3).
Figura 3. Castanhas aparentando semelhanças com a cultivar Longal (esquerda) e a cultivar Martaínha (direita)
Conforme se pode inferir do exposto, trata-se de um souto composto por um grande número de árvores monumentais, estimando-se que possa ter uma idade entre os 300 e os 400 anos. Pela sua antiguidade e dimensão, é um souto monumental que importa preservar, por constituir um património genético ímpar no nosso país e no contexto da Península Ibérica. Os estudos filogenéticos mostram que a domesticação do castanheiro na Península Ibérica, com a realização das primeiras enxertias, começou no século XV a XVI, havendo um núcleo de dispersão genética determinado a partir da região Central da Península. Este pool de dispersão genética, é caracterizado por uma castanha de forma mais alongada, do tipo da Longal.
Este souto, tem identidade e história que merecem ser valorizados, e uma monumentalidade única.
Desta forma reúne características suficientemente fortes para poder vir a ser um centro interpretativo do castanheiro, único no país. Para o efeito, será necessária uma intervenção qualificada sobre as árvores, limpeza do coberto vegetal, criação de espaços de passeio para os visitantes, colocação de placas identificadoras dos castanheiros, e construção de um pequeno espaço para receção dos visitantes. Este Centro Interpretativo, seria um museu vivo de divulgação da história e tradição ligada ao castanheiro, da biodiversidade que lhe está subjacente, bem como pela sua antiguidade local de estudo pela sua riqueza genética. Por outro lado, encerra em si, um enorme potencial paisagístico e fotográfico. Seria assim um local de grande atratividade para as populações escolares, e população em geral, podendo vir a constituir um local de referência nacional e internacional ajudando a promover o Concelho de Trancoso, como sucede com um Centro semelhante localizado em Marradi (Itália) (Figura 4).
Figura 4. Imagens de um Centro Interpretativo do Castanheiro e da Castanha localizado em Marradi (Itália), durante a visita dos participantes no VIII Encontro Europeu ali realizado
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Autoria: J. Gomes-Laranjo1, F. Sousa2, P. Fidalgo3 e P. Mateus4
1 Jose Gomes Laranjo, Coordenador do Protocolo TrancastNut
2 Fernando Sousa, Eng. Agrónomo e Bolseiro no protocolo TrancastNut
3 Pedro Fidalgo, Gabinete de apoio à Agricultura da Câmara Municipal de Trancoso
4 Paulo Mateus, Bolseiro no protocolo TrancastNut