O Monte Silveira, uma exploração de 700 hectares localizada na região de Castelo Branco, na Beira Baixa, tem-se afirmado como uma verdadeira referência na agricultura regenerativa em Portugal e na Europa. A herdade, que é gerida pela mesma família há gerações, tem vindo a evoluir ao longo do tempo, adotando práticas sustentáveis e inovadoras que visam não apenas a produção de alimentos biológicos, mas também a recuperação e regeneração do solo e ecossistema. Recentemente, o Monte Silveira tornou-se uma das primeiras explorações agrícolas de grande escala a obter a Certificação Regenerativa Biológica (Regenerative Organic Certification – ROC), um reconhecimento que vai além da agricultura biológica tradicional ao focar-se em práticas que restauram a saúde do solo, protegem a biodiversidade e promovem o bem-estar animal e a justiça social.

A exploração tem-se destacado como um exemplo de pioneirismo na agricultura regenerativa e pela gestão do sistema agrosilvopastoril de montado de sobro e azinho, que combina o pastoreio rotativo e o equilíbrio delicado deste hotspot de biodiversidade. Este sistema promove uma relação sinérgica entre as várias espécies de gado – bovinos, suínos, caprinos, ovinos e equinos – e a vegetação nativa, recriando o ciclo natural dos ecossistemas, o que resulta em inúmeros benefícios ambientais, como o aumento da fertilidade do solo, a melhoria da retenção de água e o sequestro de carbono.

O pastoreio rotativo, uma prática central no Monte Silveira, envolve a movimentação regular dos animais por diferentes parcelas, permitindo que a vegetação se recupere e que o solo se enriqueça com os nutrientes naturais resultantes da presença do gado. Este sistema de gestão promove a regeneração do solo e a sua resiliência, ajudando a combater a erosão e a degradação, ao mesmo tempo que contribui para a mitigação das alterações climáticas, através do aumento da captura de carbono e água. Além disso, a diversidade de espécies animais favorece a criação de um ecossistema mais equilibrado, onde as várias espécies interagem e complementam-se, promovendo uma maior biodiversidade e saúde dos ecossistemas.

Certificação Regenerativa Biológica: Um Compromisso com o Futuro

A Certificação Regenerativa Biológica (Regenerative Organic Certification – ROC) é um dos mais altos padrões globais de sustentabilidade na agricultura, englobando três áreas fundamentais: saúde do solo, bem-estar animal e justiça social. O Monte Silveira, ao obter esta certificação, reforça o seu compromisso de criar um modelo agrícola que vai além da simples sustentabilidade, visando a regeneração ativa dos recursos naturais. A ROC exige práticas que não só mantêm o status quo, mas que efetivamente restauram e revitalizam os solos, a biodiversidade e as comunidades locais.

O reconhecimento pela ROC também coloca a exploração na vanguarda de um movimento crescente que vê a agricultura como uma solução para a crise climática. Ao focar-se no sequestro de carbono através de práticas como a lavoura mínima e a utilização de culturas de cobertura, o Monte Silveira não só melhora a saúde do solo, mas também contribui para a redução dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera. A adoção destas práticas regenerativas é uma resposta à necessidade urgente de combater a degradação dos solos e a perda de biodiversidade, desafios enfrentados por muitas explorações agrícolas convencionais em todo o mundo.

Práticas agrícolas para a Regeneração do Solo

O Monte Silveira tem vindo a implementar um conjunto de práticas agrícolas que são centrais para a regeneração do solo e a melhoria da sua resiliência. Uma dessas práticas é a lavoura mínima, que evita o revolvimento excessivo do solo, protegendo a sua estrutura e os organismos vivos que nele habitam. A lavoura mínima reduz a erosão e ajuda a manter a humidade do solo, promovendo assim uma maior retenção de água e resistência às secas. Além disso, esta prática permite que o solo se torne um reservatório de carbono, contribuindo para a redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Outra técnica utilizada é o uso de culturas de cobertura, que são plantadas entre os cultivos principais para proteger e enriquecer o solo. Estas culturas evitam a erosão, melhoram a disponibilidade de nutrientes, aumentam a matéria orgânica e estimulam a biologia do solo, tornando-o mais fértil, funcional e resiliente. O uso de compostagem biológica, incluindo a técnica tradicional japonesa Bokashi, é outra das práticas que enriquece o solo, promovendo a reciclagem de nutrientes e a criação de um ambiente saudável para as plantas. O Bokashi é um método de compostagem que utiliza microorganismos eficientes para decompor matéria orgânica de forma rápida e eficaz, resultando num composto rico em nutrientes e benéfico para a saúde do solo.

Estas práticas não só aumentam a produtividade das culturas, mas também garantem que o solo se mantém saudável e fértil a longo prazo, criando um ciclo virtuoso de regeneração que beneficia tanto o meio ambiente como a exploração agrícola.

Bem-Estar Animal: Pastar para Regenerar

O bem-estar animal é outro dos pilares fundamentais da Certificação ROC, e no Monte Silveira este é um aspeto central da gestão da exploração. O gado é criado em sistemas de pastoreio rotativo, que permitem que os animais vivam em condições que mimetizam o seu comportamento natural. Estes sistemas baseados em pastagens proporcionam aos animais uma dieta natural e equilibrada, ao mesmo tempo que promovem a saúde do solo e das plantas. O pastoreio rotativo ajuda a manter a biodiversidade das pastagens e evita o sobrepastoreio, permitindo que o ecossistema se regule de forma natural.

Justiça Social: Promover a Equidade no Campo

Um dos aspectos que distingue a Certificação Regenerativa Biológica é o seu foco na justiça social, garantindo que os trabalhadores das explorações agrícolas certificadas recebem salários justos e trabalham em condições seguras e dignas. No Monte Silveira, este compromisso é evidente no tratamento dos trabalhadores, que são parte integrante do sucesso da exploração. A herdade promove um ambiente de trabalho inclusivo e equitativo, onde os direitos dos trabalhadores são respeitados e valorizados.

Além disso, a justiça social estende-se às comunidades locais, que são diretamente beneficiadas pelas práticas sustentáveis da exploração. O Monte Silveira colabora ativamente com fornecedores e parceiros locais, fomentando a economia circular e apoiando o desenvolvimento rural. Ao criar empregos e incentivar práticas justas e éticas, a exploração contribui para o fortalecimento das comunidades rurais e para a criação de um sistema alimentar mais justo e equitativo.

Investigação e Inovação: Um Laboratório Vivo

O Monte Silveira não se limita a seguir práticas agrícolas tradicionais, mas vê-se como um verdadeiro laboratório vivo de inovação, onde novas técnicas e abordagens são constantemente testadas e desenvolvidas. A herdade participa em 16 projetos de investigação nacionais e internacionais, em parceria com universidades e centros de investigação, que têm como objetivo o desenvolvimento contínuo de práticas agrícolas inovadoras. Estes projetos focam-se em áreas como a regeneração do solo, a conservação da água, a biodiversidade e o bem-estar animal, e os resultados obtidos são partilhados com outros produtores, contribuindo para a disseminação de práticas regenerativas.

Ao trabalhar em estreita colaboração com a comunidade científica, o Monte Silveira está na vanguarda da investigação agrícola regenerativa, aplicando os mais recentes avanços científicos para melhorar a produtividade e a sustentabilidade da exploração. Estas parcerias permitem testar e aperfeiçoar novas técnicas que podem ser replicadas globalmente, contribuindo para a criação de um sistema agrícola mais sustentável e resiliente.

O Futuro da Agricultura: Inspirando uma Nova Geração

O Monte Silveira não é apenas uma exploração agrícola – é um modelo de inspiração para outros agricultores e para a sociedade em geral. Ao demonstrar que é possível combinar a produção agrícola com a regeneração dos recursos naturais, a herdade oferece um exemplo tangível de como a agricultura pode ser uma força positiva na luta contra as alterações climáticas e na preservação do meio ambiente. A exploração tem como objetivo inspirar outros produtores a adotar práticas regenerativas e a contribuir para a criação de um sistema agrícola mais sustentável e justo. A longo prazo, o Monte Silveira procura expandir o seu impacto, não só através da produção de alimentos biológicos de alta qualidade, mas também através da educação e da formação de novos agricultores. A herdade está empenhada em partilhar o seu conhecimento e experiência com a próxima geração de agricultores, ajudando-os a adotar práticas regenerativas que protejam e restaurem o planeta para as futuras gerações.

Em suma, o Monte Silveira representa um marco na agricultura regenerativa, não só em Portugal, mas em toda a Europa. Ao obter a Certificação Regenerativa Biológica (ROC), a herdade demonstra o seu compromisso com a criação de um modelo agrícola que não só sustenta, mas que também regenera os recursos naturais. Através de práticas inovadoras e sustentáveis, o Monte Silveira promove a saúde do solo, protege a biodiversidade, garante o bem-estar animal e defende a justiça social.

O Monte Silveira é um exemplo claro de como a agricultura regenerativa pode ser uma solução eficaz para os desafios ambientais e sociais que o mundo enfrenta. Ao integrar a produção agrícola com a regeneração dos ecossistemas, esta herdade demonstra que é possível criar um futuro mais sustentável e próspero, inspirando agricultores, investigadores e consumidores a trabalhar em conjunto para restaurar e preservar o planeta.

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