A terra é tratada “como um ser vivo” por João Valente, rosto da Monte Silveira Bio, empresa familiar da Beira Baixa centrada em culturas de regadio, baseadas numa agricultura de precisão, produção de gado bovino, ovino e suíno.
Esta exploração agrícola está em modo biológico desde 1999, localizada em Malpica do Tejo – Castelo Branco.
No total da área de exploração na Monte Silveira Bio, contabilizam-se cerca de 1000 hectares em terras da Beira Baixa, sendo que metade estão ocupado por floresta constituída por montado de azinho e sobro, “o remanescente está reservado a culturas de regadio, onde são produzidos os cereais, as leguminosas e as ferragens”, explica o representante da empresa, João Valente, que acrescenta: “Entre 1999 e 2000 já estávamos certificados para os produtos biológicos que estamos a produzir.” Três variedades de feijão, grão de bico e xíxaro constam na lista das principais leguminosas da Monte Silveira Bio, enquanto o trigo mole, a aveia e o centeio ocupam lugar de destaque na vertente dos cereais. A maioria dos produtos é para consumo humano, no caso das leguminosas é cem por cento, daí que haja uma preocupação acrescida por parte da empresa.
A seleção das leguminosas e forragens é feita de acordo com os tipos de solo
“É preciso ver a exploração como se fosse um ser vivo, onde todas as culturas se complementam”, sublinha João Valente. “Por exemplo, no outono – inverno são plantadas as leguminosas que têm como finalidade preparar a terra para uma cultura de primavera – verão, ou seja, nas estações do ano mais frias, a opção recai em culturas que ajudam a fixar o azoto no solo e funcionam como um herbicida natural em substituição dos produtos químicos”, continua. Na opinião do nosso entrevistado, estas são as razões pelas quais a seleção das leguminosas e forragens é feita de acordo com os tipos de solo, informação essa obtida através da agricultura de precisão realizada por meio de análises frequentes dos solos, com o intuito de obter a constituição dos mesmos, bem como os respetivos níveis de pH, uma vez que são registadas mudanças de ano para ano.
As principais culturas desta exploração agrícola são o tremoço, grão-de-bico, feijão-frade e fava, com caminhos diferentes, umas para multiplicação de sementes, em parceria com a empresa Sementes Vivas, que segundo apurámos, está a resultar numa boa procura de fava e tremoço para o mercado de sementes. A Monte Silveira Bio produz também millet, cultura muito importante pela sua capacidade de adaptação às alterações climáticas. “Estamos a reativar a produção de cártamo, uma oleaginosa que já se produziu bastante em Portugal, para utilizar em misturas de culturas de cobertura”, conta-nos João Valente.
A defesa do modo de produção que ainda levanta algumas dificuldades
Quanto a dificuldades, elas são sentidas mais no setor pecuário, “por não haver estruturas que nos permitam fazer o desmantelamento e embalamento das carcaças para conseguirmos valorizar peça a peça, não há estruturas na região e as que existem a nível nacional estão muito longe”. Temos outro problema a nível das sementes, que é o facto de não haver uma estrutura que nos ajude na parte de limpeza, calibração, seleção e embalamento, para fazermos isto na nossa exploração seria um grande investimento, para já incomportável, lamenta o empresário. Entretanto Diogo Pinho, coordenador científico e de projetos da empresa, junta-se à nossa conversa e sublinha a defesa do modo de produção levado a cabo na Monte Silveira Bio, que se traduz por toda uma preocupação em “trabalhar para um solo saudável a funcionar de forma normal”. A título de exemplo refere que “quando se passa uma grade e se lavra o solo, se está a destruir toda a rede microbiológica da fauna e flora” (…).
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