A cultura do espargo verde em Portugal não é uma cultura nova. Relatos antigos já falavam na cultura desta hortícola no nosso país, principalmente o espargo selvagem que podíamos encontrar nas zonas raianas.

Mais recentemente existiram ensaios desta cultura nas maceiras junto ao litoral. Também se utilizavam os espargos para os arranjos ornamentais, aliás podíamos encontrar os valores de conta de exploração nas antigas tabelas dos projetos de investimento.

Mais recentemente e fruto da alteração dos nossos hábitos alimentares, do surgimento da cozinha gourmet e de novas tendências alimentares, o espargo surgiu como uma cultura interessante para as nossas explorações.

O espargo é uma cultura perene, que pode ficar no solo entre 13 a 15 anos e sempre estreme, ou seja, sem estar consociada a nenhuma outra cultura.

Os solos para esta cultura não devem ser pesados nem encharcados, devem ter um PH entre 5,5 e 6,5 e ter bons teores de matéria orgânica.

Deve ser feita uma boa preparação do solo, com uma lavoura cruzada profunda, uma boa gradagem e uma despedrega.

A época de plantação ocorre entre Março e Maio, dependendo muito de como correr a Primavera, pois a retirada das garras dos viveiros também depende das condições edafo-climáticas que acontecem nesta altura. As garras são muito sensíveis aos teores de humidade no solo.

O número de garras por hectare ronda as 27.000, com um compasso de 1,5 x 0,25 metros, podendo plantar-se em linhas simples ou linhas duplas.

Deve-se fazer uma análise ao solo de modo a sabermos a qualidade do mesmo e em função dessa análise corrigir com matéria orgânica e adubo de fundo.

Em termos de como plantar, podemos fazê-lo em vala ou rego, com uma largura de 50 cm por 25 cm de profundidade. Podemos colocar alguma matéria orgânica a num nível inferior cobrindo com alguma terra. Depois de colocar a garra sempre com o núcleo virado para cima cobre-se novamente com terra, fazendo-se logo de imediato uma rega de modo a compactar o solo.

Plantação das garras em vala (rego)

Também podemos fazer a plantação em camalhão, opção sempre válida para terrenos pesados e bastante húmidos. Aqui a largura do camalhão também ronda os 50 cm se for em linha simples com 1,5 metros entre linha.
Existem vantagens e desvantagens em qualquer das opções ficando sempre a decisão final a ser feita pelo empresário e o seu consultor.

Em condições ideais de plantação, os espargos começam logo a emergir passados 15 dias e as condições ideais são de 10ºC a nível do solo e 20ºC de temperatura exterior.

O aproveitamento da produção depende de serem garras de 1 ou 3 anos. Se forem garras de 1 ano só começa a aproveitar ao 3º ano se forem garras de 3 anos pode-se logo aproveitar no ano de plantação.

O ciclo de produção inicia-se quando as condições ideais existirem (10º e 20ºC), emergindo os espargos logo em seguida, que varia entre meados de Fevereiro nas zonas mais a sul do país e meados de Março no norte de Portugal. Esta entrada em produção influencia os preços, pois quanto mais cedo entrar em produção melhor são os preços de mercado.


Início da campanha (março)

A época decorre durante 10 a 12 semanas, terminando em meados de Junho. Esta decisão é devido a vários motivos, o preço do espargo é muito baixo, a garra precisa de acumular energia para o próximo ano e também o excesso de calor que já existe em Junho leva a que o espargo espigue muito cedo não tendo aceitação no mercado.
O espargo deve ter cerca de 25 cm para ser apanhado. Como em condições ideais o espargo cresce entre 12 a 15 cm devemos nesta época passar pela plantação duas vezes por dia. O corte deve ser limpo de plano e entregue o mais homogéneo possível.
Após o fim da produção o espargo tem de fazer o ciclo normal, ou seja o crescimento, a floração e a frutificação. Com o aparecimento do frio a planta começa a ficar seca procedendo-se ao corte junto ao solo perto do final do ano quando começam a aparecer as primeiras geadas.


Espargueira (julho)

A água é muito importante para a cultura, mais ainda nas zonas mais a sul do país, no norte com a probabilidade de ocorrência de maior pluviosidade o risco é menor. Sabe-se que nos 3 primeiros anos é muito importante ter boa disponibilidade de água no solo. Em função disto escolhe-se a melhor opção de rega.

Em termos de pragas e doenças e em virtude da cultura nas nossas explorações ainda ter pouco tempo não são conhecidas muitas adversidades nesta matéria, no entanto as lesmas e caracóis, os ratos, o alfinete (em casos de instalação da cultura em campos que tiveram a cultura do milho à pouco tempo) e o escaravelho são os principais inimigos da cultura. A ferrugem também pode vir a ser frequente. Outro problema que também tem surgido é o vento pois pode partir as plantas e estas não fazerem o ciclo normal e impedir o acumular de reservas na garra.

Devemos corrigir o solo com adubações, uma logo após o fim da campanha (fim de Junho) e outra antes de começar a aparecer o espargo (princípio de Fevereiro).

Produto acabado

O grande problema da cultura é o controlo de infestantes. Poucas substâncias ativas se podem utilizar e em solos com bastante humidade, altos teores de matéria orgânica e o calor potenciam um grande aparecimento de todo o tipo de infestantes que, competem com o espargo, são focos para o aparecimento das lesmas e caracóis, impedem um bom desenvolvimento de espargo com a diminuição da luz incidente, são um obstáculo ao crescimento perfeito do espargo, absorvem humidade e também podem prejudicar o sistema de rega com as suas raízes.

Em relação às produtividades, tudo depende do profissionalismo do empresário. Produções entre 5 e 6 toneladas são possíveis, dependendo muito das temperaturas ideais para a saída do espargo do solo. Baixas temperaturas e dias de chuva na Primavera podem influenciar em muito as produções finais.

AUTORIA: Rui Madeira Pinto
Cooperativa Agrícola de Felgueiras

→ Artigo publicado na edição de novembro de 2018.

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