A anoneira (Annona cherimola Mill) (foto 1) pertence à família annonaceae e é nativa dos vales das terras altas da Cordilheira dos Andes, a altitudes entre os 1.300 e os 2.600 metros, abrangendo territórios do Chile à Colômbia, passando pela Bolívia, Peru e Equador.

Os Incas consideravam-na uma verdadeira jóia, chamando-a “cherimoya”, que significava “peito frio”, dado que o fruto seria considerado muito eficaz para tranquilizar e saciar as crianças de tenra idade.

De facto, a cultura da anoneira remontará a 2.500 aC., tempo em que já seria praticada pelos povos pré-incas. Porém, esta só chegou ao continente europeu muitos séculos mais tarde, através dos exploradores ligados à epopeia marítima dos descobrimentos, encontrando-se cultivada na Ilha da Madeira, segundo Carlos Azevedo Menezes na obra “Elucidário Madeirense”, desde “remota data”. Enquanto alguns autores referem que a primeira anoneira conhecida na Ilha resultou das sementes de um fruto trazido do Brasil, de acordo com outros, aquelas terão sido provenientes de frutos do Peru, por volta do ano 1600. A mais antiga referência escrita conhecida tem data de 1845, por Jane Wallas Penfolf que, em “Madeira flowers, fruits, and ferns, a selection of the botanical production of that Island”, escreve «várias tentativas têm sido realizadas para fazer chegar este delicioso fruto a Inglaterra, (…); o importador apresentou-o à mesa real, e foi altamente apreciado pela Rainha».
Garantidamente há tempo longínquo na Madeira, a anoneira adaptou-se aqui facilmente, por encontrar condições edafoclimáticas próximas das da área geográfica da sua origem, alcançando os 550/600 metros de altitude na costa Sul e os 250/280 metros na costa Norte da Ilha.

É uma árvore semicaduca, rústica se comparada com outras fruteiras, que atinge alturas entre 3 a 10m. O sistema radicular é superficial e ramificado. As flores são hermafroditas, o fruto é sincárpico (aglomerado de pequenos frutos) e cordiforme, cónico ou irregular, com a epiderme reticulada lisa ou com pequenas protuberâncias e de cor verde clara e o peso varia entre 100 e 3 000gr (foto 2). A polpa é doce a agridoce, branca, sumarenta e cremosa e com elevado valor nutricional e medicinal.
A temperatura ótima para o seu desenvolvimento é 18/25 ºC e a humidade relativa 60/80%, preferindo zonas com boa exposição solar e abrigadas do vento.

Na Madeira, o período de colheita é de setembro a junho e a produção média é de 22 ton/ha nos pomares comerciais que já utilizam as modernas técnicas de produção.

Os trabalhos de prospeção e melhoramento genético realizados pela Secretaria Regional de Agricultura e Pescas (SRAP), através da Direção Regional de Agricultura (DRA), nas últimas décadas do séc. XX conduziram à seleção de quatro variedades com caraterísticas de elevado interesse agronómico-comercial, identificadas como “Madeira”, “Funchal”, “Perry Vidal” e “Mateus I” (fotos 3a, 3b, 3c e 3d), o que contribuiu que o nome Anona da Madeira fosse reconhecido pela União Europeia como Denominação de Origem Protegida (DOP) em 2000, a primeira fruta regional a receber tal grau de proteção internacional. De referir também que as variedades Madeira e Mateus I estão inscritas no Catálogo Nacional de Variedades de Espécies Fruteiras desde janeiro de 2017.

Práticas culturais
A plantação da anoneira pode ser efetuada ao longo de todo o ano, utilizando plantas envasadas. Para um melhor aproveitamento do terreno, deverá ser efetuada em quincôncio, sempre que possível com orientação este/oeste e com afastamento na linha e entrelinha variando entre os 5×4 e os 4×4 metros.

Recomenda-se a condução em vaso para zonas planas e em eixo para zonas mais inclinadas, no entanto, ambas podem ser utilizadas em qualquer uma das situações. Por sua vez, a condução em vaso ananicante é a mais indicada para zonas muito ventosas.

A poda de frutificação deve realizar-se em todos os ciclos vegetativos, pois é fundamental para o pomar produzir em qualidade e quantidade e de forma sustentada ao longo dos anos. Permite um melhor equilíbrio entre as funções vegetativa e reprodutiva, melhora a distribuição da luz, regula o volume e a altura da copa, facilita o arejamento, melhora o tamanho e a qualidade dos frutos e torna a aplicação mais eficaz dos produtos fitofarmacêuticos, entre outras vantagens.

Autoria: Adelino Ornelas
Direção Regional de Agricultura – Madeira

Para ler na íntegra na edição n.º 213 (março 2018)

Subscreva a Revista Voz do Campo e mantenha-se atualizado todos os meses: