Introdução

Manter a tipicidade do produto é por isso fundamental e só pode conseguir-se com a utilização das variedades autóctones. Um conhecimento aprofundado das suas características culturais e a melhoria da sua performance produtiva é por isso obrigatório. Foi neste contexto que se candidatou a financiamento ao Alentejo 2020 a operação “OLEAVALOR – Valorização das Variedades de Oliveira Portuguesas”. A mesma decorre entre 1 de Julho de 2016 e 30 de Junho de 2019 sendo seu objetivo geral avaliar e melhorar o potencial produtivo das principais variedades regionais de oliveira (‘Galega vulgar’, ‘Cobrançosa’, ‘Verdeal Alentejana’, ‘Cordovil de Serpa’, ‘Azeiteira’, ‘Blanqueta’, ‘Carrasquenha de Elvas’), com vista à sua maior utilização em sistemas intensivos de produção.

Envolvendo a participação de quatro instituições do sistema científico e tecnológico nacional (Universidade de Évora/ICAAM, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária/Elvas, Instituto Politécnico de Portalegre/Escola Superior Agrária de Elvas, Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo/CEBAL), esta operação contribuirá para potenciar as infraestruturas de IC&DT da região, promovendo e tornando mais competitivos estes centros de saber, ao mesmo tempo que agiliza a sua articulação com as empresas. O trabalho de I&D a realizar, está apoiado numa componente de investigação fundamental e para isso recorre à utilização das mais sofisticadas técnicas de análise e diagnóstico, mas, foi também pensado de modo a que os resultados obtidos tenham aplicabilidade imediata no sector produtivo, procurando assim valorizar económica e socialmente a investigação desenvolvida.

1) Caracterização morfológica e agronómica das variedades.

O estudo realiza-se tanto na Coleção Portuguesa de Referência de Cultivares de Oliveira (INIAV/Elvas), como em olivais em diferentes sistemas de produção e pretende obter informação sobre o vigor, a produtividade, a incidência de pragas e doenças, a relação polpa/caroço, o índice de gordura na matéria seca, o índice de maturação à colheita e sua correlação com o índice visual de maturação.

Para averiguar da possível influência das práticas culturais nos azeites destas variedades, nas amostras de frutos colhidos ao longo da maturação, será feita a determinação do rendimento em gordura e do teor de humidade. Em azeites obtidos a partir destas amostras de frutos serão determinados os parâmetros de qualidade mais usuais (acidez total, índice de peróxidos, análise espetrofotométrica no ultravioleta e a estabilidade oxidativa).No final do estudo, pretende ter-se um conjunto de informações sobre as variedades em estudo que permitam complementar as fichas de caracterização agronómica e morfológica, a elaborar em conjunto com as restantes equipas do projeto, fornecendo informação valiosa aos olivicultores e às suas organizações quanto à adaptação, resposta às práticas culturais e às condições climáticas e de produção das variedades em estudo. Um dos entregáveis a disponibilizar no final do projeto será um manual de boas práticas de condução das variedades em estudo, em olivais intensivos de regadio na região Alentejo.

2) Simplificação dos processos de análise de infeções por vírus em oliveira e obtenção de resistência aos principais fungos causadores da gafa da azeitona (Colletotrichum spp.) e à bactéria Xylella fastidiosa

Ainda que muitas vezes ignoradas, as infeções virais nas plantas são frequentemente responsáveis por reduções significativas da capacidade produtiva e da qualidade da produção. Os testes atualmente existentes para identificação de vírus em oliveira são morosos, dispendiosos e permitem identificar apenas um número limitado de vírus em cada reação. Assim, o primeiro objetivo desta linha de trabalho é desenvolver um teste rápido, simples e que permita a deteção em simultâneo dos vários vírus que reconhecidamente tenham um impacto significativo na produtividade da planta ou na qualidade do azeite.

Relativamente ao outro objetivo, a obtenção de resistência aos principais fungos causadores da gafa da azeitona (Colletotrichum spp.) e à bactéria Xylella fastidiosa, não sendo provável que as empresas de agroquímicos venham a resolver estes problemas, especialmente o da gafa (já tiveram tempo suficiente para isso e não o fizeram), resolvemos tentar uma nova abordagem, baseada em ferramentas de genética e biologia molecular, para tentar ajudar na sua resolução.

Identificar-se-ão nos fungos da gafa e na bactéria da xylella os genes de patogenicidade responsáveis pela manifestação dos sintomas das doenças nas plantas. Estes genes clonar-se-ão em vetores virais atenuados que serão transmitidos às plantas por infiltração/pulverização. Conseguir-se-á deste modo que as plantas reconheçam dos produtos da atividade dos genes e desenvolvam a capacidade de proceder ao seu silenciamento, promovendo assim a sua autoproteção.

Figura 4– Observação sob luz UV de ensaios de silenciamento de genes utilizando GFP (Green Fluorescent Protein) para otimização de um vector VIGS (Virus-induced gene silencing). (A) – O gene inoculado não era supressor de silenciamento, (B) O gene inoculado é supressor de silenciamento, pode observar-se a fluorescência verde ao redor da zona inoculada.

3) Limpeza sanitária e propagação

O conhecimento atual permite afirmar que a difusão dos vírus em plantas de oliveira é um processo lento, apresentando-se normalmente isentos de vírus os rebentos do ano, o que facilita o processo de limpeza sanitária.

A limpeza de clones da cultivar ‘Galega vulgar’ foi já conseguida com sucesso pela equipa de trabalho, através da cultura in vitro das extremidades de rebentos do ano e o mesmo procedimento será agora efetuado para as outras cultivares em estudo neste projeto. Pretende-se assim conseguir plantas com certificação varietal e sanitária, que possam ser utilizadas para disponibilizar material vegetativo de qualidade superior aos viveiristas interessados.

Relativamente à multiplicação, a existência de cultivares de oliveira com dificuldade de enraizamento por estaca semilenhosa, em contraste com outras onde esse enraizamento é fácil, é uma verdade inquestionável. Na proposta de trabalho que apresentamos, pretende compreender-se a regulação genética do processo de enraizamento, identificar os genes responsáveis pelas diferenças observadas e obter informação sobre os seus mecanismos de regulação trancricional e pós-transcricional. Silenciar estes genes nas cultivares de fácil enraizamento para verificar se essa capacidade é perdida, e, se assim for, aumentar a sua expressão nas cultivares de difícil enraizamento, é o objetivo final desta linha de trabalho.

4) Caracterização química de azeites

É frequente ouvir referências às virtudes e à elevada qualidade do azeite produzido pelas cultivares de oliveira Portuguesas, quando comparado com o produto obtido a partir de cultivares não autóctones, recentemente introduzidas, ainda que na verdade não existam dados concretos que, ao nível da análise química/organolética, suportem estas afirmações. Confirmar ou refutar estas alegações, é um dos objetivos desta linha de trabalho.

Atualmente, a caracterização elementar do azeite, que será obtida na linha de trabalho 1, anteriormente descrita, é suficiente para a definição, por exemplo, do valor comercial do produto, mas, a verdade é que, tanto novas diretivas comunitárias, como a maior informação do consumidor, relativamente às propriedades nutricionais do azeite, à complexidade dos perfis aromáticos de cada variedade ou à sua estabilidade durante o processo de armazenamento, obrigam a uma maior informação sobre as características químicas do produto. Assim, está também prevista a análise da composição fenólica, volátil e em ácidos gordos de cada uma das variedades em estudo.

A caracterização da fração fenólica dos azeites monovarietais tornou-se de extrema importância após a aprovação da Directiva Europeia referente à capacidade protetora contra a oxidação lipídica exercida pelos polifenóis do azeite. Os compostos fenólicos do azeite, tais como a oleuropeína e seus derivados, hidroxitirosol e tirosol, encontram-se fortemente associados a benefícios para a saúde, nomeadamente:

  • Forte poder antioxidante;
  • Proteção das lipoproteinas de baixa densidade (LDL) contra danos oxidativos;
  • Ajudar a manter o colesterol HDL nos níveis normais;
  • Ajudar a manter a pressão arterial nos níveis normais;
  • Propriedades anti-inflamatórias;
  • Contribuir para o melhoramento do sistema respiratório;
  • Ajudar a manter o bom funcionamento do sistema gastrointestinal (…).

Leia o artigo completo publicado na n.º edição 204 (maio 2017).

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