A agricultura no séc. XXI tem grandes desafios para superar: continuar a produzir alimentos em quantidade face ao crescimento da população mundial (espera-se 10 biliões em 2050), com qualidade alimentar face aos atuais critérios de exigência nos hábitos de consumo, e de forma sustentável reduzindo o consumo dos recursos naturais, tal como o Fósforo (P) de rocha mineral (“Rock phosphate”).

Cerca de 30–40% da produção agrícola da terra arável mundial é limitada por P, recorrendo-se ao uso massivo de fertilização fosfatada. Um dos maiores problemas desta fertilização mineral é a adsorção rápida do fosfato inorgânico às partículas do solo (Ca; Al; Fe), ficando cerca de 70 a 90% da sua absorção indisponível às plantas. Esta limitação representa uma redução na eficiência desta adubação, levando a excessiva aplicação de fertilizantes fosfatados para garantir a disponibilidade de P nas culturas e garantir a produtividade desejada. Actualmente, estima-se que foram aplicados 46 milhões de toneladas de adubos fosfatados em 2020 (FAO). Como resultado, o P acumula-se em solos agrícolas atingindo níveis acima dos limites desejáveis, como em alguns solos na Europa. O uso excessivo de fertilizantes fosfatados podem alterar o pH do solo, a capacidade de troca catiónicas, etc.; e ainda toda a componente viva do solo (bactérias, fungos, nemátodes, minhocas, raízes de plantas, etc.) e consequentemente a biodisponibilidade de P.

Além dos custos indiretos relacionados com o impacto ambiental negativo nos solos, os custos diretos relacionados com fertilização fosfatada estão associados ao preço do P mineral, que é um recurso finito e não renovável, cujas reservas estão a esgotar-se rapidamente. Poucos países têm reservas de “rock phosphate”: Marrocos, China, Argélia, Síria, África do Sul e Rússia. Portanto, produzir alimentos será mais dispendioso e comprometerá a segurança alimentar, devido à acumulação de metais pesados oriundos dos próprios adubos fosfatados de fraca qualidade.

Com o intuito de melhorar a disponibilidade de P no solo e contribuir para uma agricultura mais sustentável, investigadores têm proposto a introdução de microrganismos do solo que naturalmente participam no ciclo biogeoquímico do P desbloqueando o P retido no solo, quer solubilizando o P inorgânico quer mineralizando o P orgânico. Simultaneamente, estas bactérias solubilizadoras de P (BSP) estabelecem relações sinergísticas com as plantas na sua rizosfera, estimulando o crescimento através da produção de fitohormonas e outros metabolitos que induzem o crescimento e a floração. Comercialmente esses microrganismos são incluídos nos Biofertilizantes de base microbiana.

→ Leia o artigo completo na edição de janeiro 2023 da Revista Voz do Campo.

Autor:
Patricia Correia
Asfertglobal