O ano de 2023 vai ser um ano de baixa produção de cereja, pois a taxa de vingamento foi baixa, sendo globalmente um aspeto transversal a todas as cultivares e que se observa nas principais regiões de produção, nomeadamente, Beira Interior, Resende e mesmo na região do Vale do Jerte (Espanha).

Apesar de não haver um sistema contínuo de monitorização da produção, pode tomar- -se como exemplo 2 cultivares monitorizadas em 2022 e 2023 – ‘Sweetheart’ e ‘Satin’ através da observação de ramos marcados de acordo com a Figura 1.

Figura 1- Ramos de cerejeira, composto por uma parte com 2 anos, onde se localizam os esporões, e a parte terminal, só com um ano, apenas com gomos foliares

Os resultados obtidos na região da Beira Interior, com as mesmas plantas monitorizadas em 2022 e 2023, indicam que a taxa de vingamento em 2023 apresentou uma redução de 77% e 72% comparativamente a 2022, respetivamente para a ‘Sweetheart´ e ´Satin’ (Quadro 1). Para a cultivar ‘Symphony’ a redução do vingamento foi de 100%, não existindo qualquer fruto quando o comportamento habitual desta cultivar é de uma taxa de vingamento elevada pois trata-se de uma cultivar autofértil, e, da minha experiência ao longo de 10 anos de exploração, sempre apresentou elevada produção.Que causas podem estar na origem deste comportamento generalizado? Uma baixa taxa de vingamento que é transversal à maioria das cultivares e às diferentes regiões? Tentar identificar possíveis causas é o objetivo deste artigo pois que, tentar entender esta situação, pode preparar-nos para o futuro.

Conceitos

O termo vingamento significa a transformação da flor em fruto. Na cultura da cereja o vingamento do fruto só ocorre quando há polinização, que corresponde à chegada de pólen ao estigma da flor, seguida de desenvolvimento do tubo polínico ao longo do estigma da flor, culminando com a fertilização, que corresponde ao encontro dos dois gâmetas, gâmeta masculino que vai no tubo polínico e gâmeta feminino que está no ovário da flor. O vingamento do fruto depende assim da polinização, germinação do tubo polínico e fertilização. Todas estas fases decorrem durante a plena floração. Para haver polinização é preciso que as anteras estejam deiscentes, ou seja, que libertem o pólen, e que haja insetos que transportem esse pólen. Os insetos são agentes de polinização e, portanto, têm de estar ativos durante a floração. Do pólen que chega ao estigma apenas 40% a 60% germina (Sutyemez, 2011), e dá início à formação do tubo polínico, sendo a concentração de açúcar no estigma um fator que influencia a taxa de germinação. O desenvolvimento do tubo polínico está dependente não só da compatibilidade das cultivares, como da temperatura e pode demorar entre 2 a 4 dias (Sutyemez, 2011), dependendo dessa compatibilidade e ainda das condições meteorológicas que ocorrem durante essa fase (…).

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Autora:
Maria Paula Simões
Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Castelo Branco | Escola Superior Agrária