ll Parte – Introdução: Portugal tem 3 novas variedades de feijão rasteiro (Phaseolus vulgaris L.)

1. Introdução: Na continuação do artigo anterior “Portugal tem 3 novas variedades de feijão rasteiro (Phaseolus vulgaris L.): I Parte – Seleção e Melhoramento Genético” procedeu-se à inscrição no Catálogo Nacional de Variedades (CNV) das 3 variedades de feijão selecionadas (Fv4, Fv11 e FV14).A candidatura foi efetuada em 2021 e em 2022 foram aprovadas adquirindo os nomes de BELATRI (Fv4), ELGROU (Fv11) e ELPRI (Fv14). O proponente desta candidatura é a Ground e o INIAV é o obtentor e o responsável pela seleção de manutenção das mesmas.

A Ground é uma empresa de negócios inicialmente lançada pela atividade de comércio internacional de produtos alimentares. A empresa procura fornecer soluções comerciais em operações financeiras de “commodities”, “trade finance”, transporte marítimo, “marketing” e produção industrial. É composta por oito funcionários, com experiência, motivação e um vasto conhecimento nos mercados africanos de produtos de grande consumo.

Devido às competências técnicas e conhecimento de comércio agrícola, a Ground apresenta-se hoje como uma entidade que gera valor significativo na área. É uma marca que abrange diferentes áreas de comercialização dedicando-se, entre outros, ao desenvolvimento de projetos de inovação e investigação agrícola. A Ground Agro iniciou a sua atividade em agosto de 2014, através do Eng.º José Ramalho (atual Sócio-Gerente). O primeiro projeto da Ground Agro é o que está apresentado neste documento e desenvolve a seleção e certificação de semente de feijão pinto para consumo humano.

1.1. Criação de valor da Ground Agro

O ecossistema da produção e consumo de feijão em Portugal são favoráveis ao desenvolvimento da cultura no país, como já se analisou. Há, contudo, ainda um fator que é relevante para analisar a cadeia de valor do projeto da Ground Agro, bem como a sua efetiva criação de valor para os “stakeholders” que é a vantagem competitiva da produção em Portugal, face aos atuais exportadores (Canadá e EUA).

Neste sentido, a Ground tem um excelente posicionamento no mercado da exportação de produtos alimentares de Portugal, uma vez que este é o seu negócio principal, atualmente. Em setembro de I.II.III.IV: 2022, estima-se uma vantagem competitiva logística de cerca de 15% do custo do feijão para a maioria dos mercados importadores na costa oeste africana, segundo o Engº. José Ramalho, Sócio-Gerente.

Enquanto entidade que se dedica ao desenvolvimento de projetos de inovação e investigação agrícola, a Ground Agro espera alcançar uma elevada capacidade de liderança durante todo o processo de abastecimento de feijão. Nesta vantagem, destaca-se a posição privilegiada nas variedades que certificou no Catálogo Nacional de Variedade, como descrito no capítulo seguinte. Esta vantagem no aprovisionamento de feijão, a partir de diferentes origens, conciliando o desenvolvimento do processo interno com o caudal de importação, permite um melhor controlo de “stocks” e de processos, de modo a alcançar poupanças em processos logísticos.

Para os agricultores, a Ground Agro pretende promover, de acordo com as diretivas para o meio ambiente e sustentabilidade, a integração, no plano de culturas anual, uma opção de cultura economicamente interessante, como opção agrícola. Esta cultura utiliza apenas de 3,5 meses de solo e complementa com uma opção diferente às culturas habituas com a vantagem de oferecer uma alternância. Além disso, a introdução de uma leguminosa na rotação de culturas é importante para a restituição de nutrientes no solo e para a fixação de azoto. Este processo está subdesenvolvido em Portugal, apesar da sua importância uma vez que a maioria do solo não é particularmente rico.

Por outro lado, o acesso dos agricultores portugueses a sementes certificadas viabiliza a produção local a um preço mais baixo. Assim, com produção local disponível gera-se toda uma vantagem competitiva que se reflete num “lead time” mais rápido da operação de comercialização e consumo com um produto mais fresco. Reduz-se a dependência da importação com todo o custo e risco associado para clientes e consumidores. Para os mercados importadores de feijão pinto da costa oeste africana, o desenvolvimento da produção em Portugal, oferece a possibilidade de adquirirem feijão com um tempo de espera (produto em transito) substancialmente mais reduzido, também com reflexo no custo e frescura da produção. A acrescentar a estas mais-valias económicas, cada vez será mais importante a introdução desta cultura para a redução da pegada de carbono, poupança ambiental que um transporte em distâncias menores tem para o ecossistema mundial.

A avaliação dos riscos efetuada pela empresa contempla também todos os setores da cadeia de produção. Os agricultores deverão começar a trabalhar com rentabilidades iniciais ainda reduzidas, devido à necessidade de introduzir o produto no mercado a preços competitivos (…).

Autoria:

RODRIGUES C(2*); RAMALHO J(2); BARCELOS C(1) e DUARTE I(1)
(1) Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P. (INIAV) Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Biotecnologia e Recursos Genéticos | Apt. 6, 7350-901 Elvas, Portugal
(2) GROUND –SAPORIL BUSINESS DYNAMICS, Lda
Av. D. CARLOS I, nº 44, 4º andar | 1200-649 Lisboa, Portugal
* autor correspondente: catarinamprodrigues9974@gmail.com

Bibliografia
Afonso, S. M. E. (2010). Caracterização físico-química e actividade antioxidante de novas variedades de feijão (Phaseolus vulgaris L.). Instituto Politécnico de Bragança, 44.
Ci, E. D. E. (2011). Descompactação do Solo , Preparação da Cama da Semente e Enterramento de Resíduos.
Coorientador, F. C., & Coimbra, T. (2019). Licínio Manuel Cardoso Afonso A agricultura de precisão na cultura do milho A agricultura de precisão na cultura do milho.
Ferreira, A. L. (2015). Estudo de cultivares de feijão (Phaseolus coccineus L..) como potenciais porta-enxertos na cultura do feijão-verde (Phaseolus vulgaris L..). 70.
Gabriel, V., Pereira, C., Gris, D. J., Marangoni, T., Pires, J., Azevedo, K. D. De, & Grzesiuck, A. E. (2014). Revista Brasileira de Energias Renováveis, v. 3, p. 32-42, 2014. 32–42.
https://dre.pt/dre/detalhe/decreto-lei/116-2017-108125021

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