A Escola Profissional Agrícola Quinta da Lageosa é um dos principais atores para responder aos desafios do território onde está inserida (Covilhã). Falo de um território ameaçado pelas alterações climáticas e pelo despovoamento. É a conjugação destes dois fatores que tornam esta área muito exposta. A ideia do fundador desta Escola foi precisamente formar jovens promotores da ruralidade, agricultores que transformassem a região e, se este desígnio era válido há 70 anos atrás, hoje é uma questão de sobrevivência”, afirma em entrevista Agostinho Duarte Ferreira, o diretor da Escola.

Qual a importância do ordenamento do território onde a Escola se insere?

A questão dos incêndios dos últimos anos documentam precisamente que é o ordenamento do território, com estabelecimento de um mosaico paisagístico, combinando agricultura com floresta, que nos permite responder a este flagelo. Não há outra forma de fazer isso, porque em combate puro e duro, não temos capacidade para responder a essa situação.

Vimos isso no último verão, em que toda a nossa área florestal foi percorrida pelo fogo e não houve ninguém que lhe fizesse frente. Foram as áreas de pasto e um ou outro povoamento com menor vegetação sob coberto, que atenuaram a intensidade do fogo e permitiram de facto um combate mais eficaz feito com os assistentes operacionais, assistentes técnicos, amigos e antigos alunos que estavam de serviço ou vieram ajudar no combate. Podemos afirmar que validámos as nossas aprendizagens, tendo sido sempre esse o nosso pensamento. O fogo faz parte das nossas vidas e, como ensinamos aos nossos alunos, não é combatendo que se enfrenta o fogo, mas antes fazendo uma gestão do próprio território e criando mosaicos paisagísticos onde a capacidade de carga térmica de cada uma dessas zonas é reduzida. Parece-me que esta modernidade, ou pós modernidade, se esqueceu que na base de todas as civilizações está a agricultura. Até o digital depende da agricultura! Infelizmente, parece-me que uma parte substancial da população pensa que os bens alimentares são produzidos numa fábrica, situada atrás das grandes superfícies, onde uma máquina qualquer sintetiza os alimentos de que necessitamos. As civilizações do passado e as atuais necessitam da agricultura, uma área que hoje está a ser ameaçada por muitos fatores, incluindo os climáticos.

O que deve ser tido em conta para minimizar os efeitos das alterações climáticas?

Há muito a fazer, desde mudanças nos nossos hábitos diários à conceção de novos modelos de desenvolvimento. No caso concreto destes territórios, a floresta e a conservação da água deveria ser uma prioridade. Deveríamos estar já a fazer um conjunto de operações, desde reter a água, gerir bem este recurso e não o menosprezar. Uma coisa e outra estão intimamente relacionadas, pois são as florestas que retêm a água e cerca de 40% da pluviosidade resulta das florestas. Por outro lado, e ao mesmo tempo, temos que tornar os nossos sistemas de regadios mais eficientes, encontrar novas culturas e novas plantas mais resistentes à seca, bem como desenvolver modelos de agricultura mais sustentáveis.

OFERTA FORMATIVA: www.quintadalageosa.pt

Relativamente aos recursos hídricos, o uso eficiente da água ainda é um termo muito teórico e deveríamos escrever na parede do nosso escritório que amanhã a água vai faltar. Seria também importante ter no campo, ensaios para descobrir as diversas variedades de toda a fileira agroflorestal mais resistentes à seca. Felizmente, temos no nosso território esta Escola e três instituições de ensino superior, sendo uma delas dedicada à fileira agroflorestal. Só falta mobilizá-los neste domínio (…).

→ Mais desenvolvimento na edição de junho 2023 da Revista Voz do Campo

→ Subscreva a nossa revista em: https://lnkd.in/efjcuqFi