O Algarve enfrenta uma situação de seca que deixou de ser, desde há alguns anos, conjuntural para passar a ser estrutural.

Pedro Valadas Monteiro (PhD) | Diretor Regional de Agricultura e Pescas do AlgarveA Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAP Algarve) tem instalada uma rede de 14 estações agrometeorológicas, distribuídas por todo o território, onde faz observações dos vários parâmetros climatéricos, nomeadamente a precipitação, desde há mais de duas décadas, o que nos permite construir séries temporais de registos suficientemente longas para habilitarem a estabelecer um padrão de comportamento fidedigno, do qual podemos inferir que desde o seu início até agora houve uma redução, em termos médios da precipitação acumulada no Algarve, de quase 10 por cento (para menos).

Barragem da Bravura, desde o ano passado que não fornece água para a agricultura (e golfes), mas apenas para uso doméstico

Ressalta também que nos últimos 4 a 5 anos se assistiu a uma alteração (meramente conjuntural?) na sua distribuição geográfica, ou seja se antes a zona do Barlavento era mais bafejada pela chuva, de então para cá a situação inverteu-se e o Sotavento apresenta níveis anuais de precipitação acumulada superiores. O exemplo mais paradigmático reside na barragem da Bravura, que atualmente tem níveis de armazenamento a rondar os 13% e desde o ano passado que não fornece água para a agricultura (e golfes), mas apenas para uso doméstico. Nas demais grandes barragens, o total de armazenamento acumulado está aquém dos 50%.O aquífero de Querença – Silves é o maior do Algarve e de enorme importância para a mais significativa mancha citrícola regional

Também a situação nos principais sistemas aquíferos do Algarve, onde desde finais de 2018 vigora em sete deles uma moratória à emissão de novos títulos de captação, tem vindo a registar uma tendência de degradação dos parâmetros observados, seja em termos de quantidade (com níveis piezométricos abaixo do percentil 20 em extensas áreas) quer crescentemente também qualidade (variáveis que frequentemente estão interligadas), onde se inclui o aquífero de Querença- Silves (com maiores problemas na sua zona de descarga, crítica para tamponar o avanço da cunha salina), que é o maior do Algarve e de enorme importância para a mais significativa mancha citrícola regional.

O volume armazenado ao nível das principais barragens do Algarve é mais de 7% inferior (em cerca de 36 hectómetros cúbicos) àquilo que tínhamos em igual período do ano anterior

De relevar que, de acordo com a informação constante no Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve (PREH Algarve) à data da sua elaboração, a agricultura algarvia dependia, para o abastecimento de rega, em 26% de águas superficiais (que maioritariamente integram os 3 aproveitamentos hidroagrícolas públicos do Algarve, a saber, o do Sotavento e o de Silves, Lagoa e Portimão e o do Alvor, no Barlavento) e no remanescente de captações subterrâneas, maioritariamente privadas e individuais. Ao dia de hoje, o volume armazenado ao nível das principais barragens do Algarve é mais de 7% inferior (em cerca de 36 hectómetros cúbicos) àquilo que tínhamos em igual período do ano anterior, já também de seca, situação que evidentemente traz constrangimentos severos e importa em desafios muito complexos de gerir por parte de atividades como a hortofruticultura que no Algarve dependem em larga extensão, por força do clima mediterrânico seco que nos caracteriza, do fornecimento artificial da água, principalmente nos meses de estio.

Poderá ser um contributo importante o recentemente anunciado simplex para facilitação da construção de pequenas charcas sob determinadas condições

Mesmo o comportamento das espécies ditas de sequeiro, como sejam as típicas do pomar tradicional algarvio, mas também a pecuária extensiva ou a apicultura, são hoje em dia já fortemente impactadas pela pouca disponibilidade de água que existe naturalmente no solo e principalmente para estas últimas atividades poderá ser um contributo importante o recentemente anunciado simplex para facilitação da construção de pequenas charcas sob determinadas condições (…).

→ Leia a entrevista completa na edição de julho 2023: