“A Agroglobal tem-se afirmado como um evento de excelência para que as empresas do setor se possam afirmar, realizar contactos, negócios e abrir caminhos para outros mercados”

Nos próximos dias 5 a 7 de setembro, a tão esperada Agroglobal vai mesmo acontecer no CNEMA pela primeira vez. Paulo Fardilha, o diretor geral do evento, confiante nesta edição dá-nos a conhecer o modelo (que se mantém) e todos os indicadores do que será a Agroglobal 2023.

Quais as principais diferenças entre a Agroglobal deste ano e as edições anteriores?

As principais diferenças são, até 2021 a Agroglobal era realizada numa exploração agrícola adaptada para a realização do evento. Agora no CNEMA temos um espaço para eventos que teve de criar condições para a parte demonstrativa e dinâmica da Agroglobal. Julgo que estão criadas as condições para que as “coisas” aconteçam.

Qual vai ser a área e o modelo desta edição? Quais são as expetativas?

Vamos ter cerca de 12 hectares afetos à área de exposição, algumas demonstrações e mais 60 hectares de culturas extensivas. Decorrerão em simultâneo demonstrações de máquinas agrícolas e florestais.

O modelo que estamos a preparar vai ser muito idêntico ao anterior. Não faz sentido romper com um modelo que deu provas de sucesso. Adaptámos as condições existentes para o efeito. Ao nível das expetativas, são muito elevadas, tendo em conta a projeção das últimas edições e agora a realização no CNEMA em Santarém.

A pouco mais de um mês, como estão a correr os preparativos? Qual tem sido a adesão das empresas?

Os preparativos estão a correr bem e dentro dos prazos. Este evento começou a ser preparado no terreno no início do ano para que em setembro esteja tudo pronto.

A adesão das empresas tem sido muito boa, a apresentarem uma dinâmica de fazer acontecer neste novo espaço. A visita das empresas ao CNEMA, para acertarem os últimos pormenores da forma como vão participar, tem surpreendido pela positiva. As inscrições irão fechar no final de julho, há ainda um número significativo de empresas com processos de formalização em curso. Ultrapassámos em junho os 200 participantes com processo de inscrição formalizado.

 

Relativamente aos ensaios*. Em que moldes vão decorrer? Qual é a área e as culturas?

Relativamente aos ensaios, temos as culturas permanentes, vinha, olival, amendoal, aveleiras, nogueiral, pomares de macieiras e de pereiras, instaladas em parcelas no recinto exterior do CNEMA. Neste recinto temos ainda uma pequena mostra da floresta, este ano pouco desenvolvida, com eucaliptos, pinheiros, sobreiros, castanheiros e carvalhos.

Fora do recinto, a cerca de 3 minutos de “suttles”, que irão estar disponíveis para os profissionais que nos visitam, temos milho, tomate, pimento, arroz e cânhamo.
As culturas permanentes totalizam cerca de 3 hectares e as culturas extensivas, anuais, ocupam uma área com cerca de 40 hectares.

Nestas áreas além das culturas poderemos observar máquinas em demonstração, mobilização de solos, tratamentos fitossanitários, aplicação de fertilizantes, colheita e armazenagem.

 

Para além da área de exposição, ensaios, qual é o programa da Agroglobal? Os colóquios/seminários/debates fazem par- te? Se sim, quais os temas principais?

Para este ano estamos a preparar uma série de eventos em auditórios, cujos temas já estão fechados, estando agora em fase de definição dos intervenientes. Os programas definitivos serão divulgados no final de julho. Iremos ter nos auditórios, durante a Agroglobal, a Conferência Internacional dos Cereais, com divulgação europeia, o Congresso Ibérico Agropecuário, o prémio de Jovem Agricultor e o PEPAC. Como temas setoriais e da ordem do dia, iremos abordar, a escassez de água, carbono, sustentabilidade, transformação digital, o olival e os frutos secos. Ainda estão dois temas por fechar.

Em paralelo irão decorrer sessões técnicas promovidas por di- versas empresas participantes, com apresentações de novas soluções para as áreas em que operam.

Contamos que esta edição da Agroglobal, seja marcada por alguma projeção internacional. Além dos eventos europeu e ibérico, que já referi, iremos ter a visita de uma missão empresarial do Brasil. Estamos ainda a contar com a participação de várias empresas angolanas e um fórum cujo tema será divulga- do oportunamente.

Serão três dias muito intensos e com muita atividade nos auditórios.

 

Na sua opinião, qual a importância deste evento para o setor? Que impacto este certame tem?

Julgo que Portugal tem vindo nos últimos anos afirmar-se neste setor, como um país na linha da frente, ao nível tecnológico, das boas práticas agrícolas e do bem-estar animal, da sustentabilidade, da boa gestão e aproveitamento dos fundos disponíveis, etc… Apesar de tudo isto o setor sofre muito com as estratégias e decisões políticas, que muitas vezes são desadequadas ou a sua implementação chega muito tarde.

A dimensão do nosso mercado, torna-nos aos olhos das multi- nacionais como um distribuidor regional, sem qualquer poder de decisão.

Por outro lado, Portugal tem também problemas de escala ao nível da dimensão das empresas agrícolas. Hoje temos empresas com dimensão considerável, mas com muitas par- celas dispersas por várias regiões, nomeadamente no olival e mais recentemente no setor dos frutos secos.

Neste contexto entendo que a Agroglobal, tem-se afirmado como um evento de excelência para que as empresas do setor se possam afirmar, realizar contactos, negócios e abrir caminhos para outros mercados. Não estamos a aproveitar o nosso relacionamento privilegiado com Angola e Moçambique.

Os processos de internacionalização são muito importantes para as empresas portuguesas poderem crescer. A Agroglobal poderá ser um ponto de partida e colaborar com as empresas nesse processo com alguns mercados.

 

Para terminar, uma mensagem para o setor agrícola e para a Agroglobal 2023?

Principais preocupações do setor: produzir alimentos para uma população mundial que não para de crescer e com padrões de consumo cada vez mais exigentes; Escassez de água e alterações climáticas; Guerra e constante reorganização geopolítica mundial.

Principais desafios: para o mundo em geral, com a globalização, todos querem ter como adquirido o acesso às necessidades básicas de satisfação. Com sociedades que se dizem democráticas, mas cada vez mais hierarquizadas e estratificadas, julgo que conseguir um nivelamento equilibrado, será o principal desafio.

Para Portugal, empresas de maior dimensão, ou seja, tem de ha- ver uma concentração no setor. Apostar mais na sustentabilidade, transformação digital e em processos efetivos de internacionalização, seja de empresas portuguesas, ou funcionarmos como plataforma para que algumas multinacionais, que nos veem como um mercado regional, tenham acesso a outros mercados onde temos relações privilegiadas.

Como sabemos, alguns já iniciaram esses processos, o vinho, olival, frutas, legumes, mas têm de ser acelerados e em mais áreas do setor.
Outro tema de extrema importância para o setor, é a comunicação. Não temos sabido passar a mensagem do nosso papel na sociedade, cada vez mais urbana e menos rural. Somos nós que produzimos alimentos!

Estamos integrados no mercado europeu, com regras e apoios necessários, mas desajustados à nossa realidade. O setor tem de saber lidar com estes constrangimentos, mas ao mesmo tempo definir estratégias empresariais autónomas a longo prazo.

Por último, neste encontro de profissionais do setor, a cada dois anos, se a Agroglobal conseguir dar contributos para encontrarmos as soluções a estes desafios. Então, o esforço e a colaboração de todos as nove edições de AGROGLOBAL, terão valido a pena!

Nas páginas da edição de agosto/setembro da Revista Voz do Campo fique a conhecer algumas culturas instaladas nos campos demonstrativos da Agroglobal através de diferentes estratégias de várias empresas.

→ Mais desenvolvimento e outros assuntos na edição de agosto/setembro 2023: