❝ José Martino – CEO Espaço VisualSolo saudável, camada superficial da terra, constituída por matéria mineral desagregada, de pequenas dimensões e/ou maiores dimensões, cuja composição é rica e equilibrada em nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas, envolvida por partículas de matéria orgânica, de maiores e menores dimensões, estável no tempo, com teor acima de 3%, fonte de carbono e nutrientes para que a sua vida microbiana seja equilibrada, o microbioma do solo, ecossistemas de seres que se alimentam, reproduzem-se e vivem no solo, como sejam, fungos, bactérias, algas, nemátodos e até ácaros, formando uma biodiversidade de milhões de seres microscópicos, invisíveis a olho nu, os quais, pelos respetivos equilíbrios controlam de forma natural os agentes patogénicos, micróbios que causam prejuízos nas plantas, seja no sistema radicular, seja no colo (zona de transição entre as raízes e o tronco) seja na copa, a parte aérea da planta, junto como os outros constituintes do solo: água e ar.

O solo saudável possui caraterísticas físicas favoráveis para as plantas devido às propriedades da matéria orgânica, como sejam, distribuição e disposição das partículas do solo e respetivos interstícios que não impedem a circulação do ar, o fornecimento de oxigénio às raízes, solos com capacidade para a retenção da água para que as raízes se possam aprovisionar sem limitações, ao mesmo tempo, são solos com facilidade de infiltração superficial da água das precipitações, chuva, granizo, neve, etc. mantém a circulação do excesso de água, seja em profundidade para alimentação das toalhas freáticas, seja de forma lateral para solos vizinhos, alimentação de cursos de água, ribeiros, rios, etc. (solos que quando sujeitos a precipitações de grandes quantitativos de água, acima da respetiva capacidade de retenção e circulação, após a paragem do afluxo de água rapidamente a deixam escoar, passa o encharcamento temporário e o ar volta ao solo).

De forma natural há tendência para a diminuição da matéria orgânica do solo devido às condições naturais dos climas mediterrânicos e às alterações climáticas (AC), há naturalmente temperatura média do ar elevada ou sobrelevada, respetivamente, implica aumento da atividade microbiana no solo, consequentemente, oxidação, destruição, mineralização, diminuição do teor de matéria orgânica no solo, este fenómeno designa-se tecnicamente por desertificação. As AC provocam maior erosão, perda de matéria orgânica por arrastamento do solo pela água das cada vez mais frequentes fortes precipitações atmosféricas concentradas em períodos temporais restritos.

Agricultura sustentável é aquela que ao longo do tempo, respeita o solo, sobretudo ao nível da manutenção ou incremento do teor de matéria orgânica, conforme este é igual / superior a 3%, ou inferior, respetivamente, sem o depauperar em nutrientes, sem o contaminar com elementos químicos nocivos (e.g. metais pesados, etc.), assim como, interferindo o menos possível com o ecossistema onde o solo se insere, fazendo tudo isto, gastando menos água e nutrientes por unidade de produto, com contaminação mínima do ar, sendo capaz de criar valor económico para o agricultor e para a comunidade onde geograficamente se localiza.

O homem pode adotar e promover práticas de gestão sustentável do solo para o manter saudável quando, repõe pela aplicação de corretivos orgânicos o que retira pelas colheitas, maximiza a reciclagem dos resíduos vegetais, pratica mobilização mínima do solo, utiliza equipamentos que compactam o menos possível a superfície do solo, mantém o solo coberto com vegetação ou pedaços de plantas impedindo a incidência da luz solar direta na sua superfície, rotações de culturas utilizando leguminosas (colocar no mesmo solo, a mesma cultura, com intervalo mínimo de 3 anos. As leguminosas captam de forma natural o azoto da atmosfera), manter barreiras naturais ou sebes na envolvente das parcelas, respeito pela biodiversidade do ecossistema onde se insere, etc.

A forma como se aplicam e conjugam estas e outras técnicas levam a diferentes modos de agricultura, na minha perspetiva, sustentável, embora umas mais que outras reclamam benefícios ambientais, como sejam, agricultura biológica, produção integrada, agricultura regenerativa/agricultura conservação, intensificação sustentável, agricultura de precisão e agroecologia. Na minha opinião, cada uma delas com as suas vantagens e inconvenientes, quando promove efetivamente como seus resultados, os solos saudáveis, promove a sustentabilidade da agricultura, porque previne naturalmente, pragas e doenças, devido a promoverem plantas nutricionalmente equilibradas e resistentes a agentes microbianos, e promove equilíbrio adequado a determinado nível de equilíbrio entre os fatores de produção e as produções obtidas, nas vertentes, económica, ambiental e social.

→ Leia este e outros assuntos na edição de agosto/setembro 2023: