Os resultados do Recenseamento Agrícola de 2019 (INE, 2021) vieram mostrar as grandes transformações ocorridas na última década no olival português.

Verificou-se que a área de olival aumentou 12,3%, atingindo os 377.234 ha. No entanto, esse aumento não foi igual para as diferentes tipologias de olival, pois o olival tradicional, exclusivamente constituído por variedades tradicionais portuguesas, sofreu uma redução significativa (-13,0% de área nos olivais com 61 a 100 oliveiras/ha; -6,2% da área nos olivais com menos de 60 árvores/ha), tendo o olival intensivo (101 a 300 oliveiras/ ha) praticamente mantido a sua superfície (+0,1% de área), enquanto o olival em sebe (mais de 1500 oliveiras/ha), quase exclusivamente constituído por variedades estrangeiras, teve um crescimento quase exponencial (+358,7% de área), o mesmo sucedendo ao olival de alta densidade (+67,1% para os olivais com 301 a 700 oliveiras/ha; +198,2% para os olivais com 301 a 700 oliveiras/ha).

Estes olivais modernos concentram-se no Alentejo (96% da área do olival em sebe), são plantados maioritariamente em terras limpas, antes ocupadas por culturas arvenses ou hortícolas industriais, mas também onde existiam olivais tradicionais ou olivais intensivos com variedades tradicionais portuguesas. As consequências destas mudanças na composição do olival português são várias e de grande impacto: drástico aumento da produção de azeite (mais de 220.000 t em 2021); mais de 70% do azeite nacional produzido no Alentejo; diminuição da proporção de azeite de variedades portuguesas frente a um aumento continuado da quantidade de azeite de variedades estrangeiras que constituem os olivais em sebe. Poderá estar em causa a continuidade de alguns azeites DOP bem como o carater diferenciado dos azeites portugueses.

Valorização das variedades de oliveira portuguesas

Em 2014, um conjunto de entidades públicas do sistema de I&D (Politécnico de Portalegre, Universidade de Évora, INIAV) decidiu reunir esforços para tentar encontrar soluções que permitissem inverter o declínio das variedades de oliveira portuguesas. Foram identificados os problemas a resolver: adaptação das variedades portuguesas à condução em sebe; aumento da produtividade das variedades por seleção de genótipos superiores; melhoria das técnicas culturais para aumentar produções e reduzir custos; aumento da resistência às principais pragas e doenças (em particular à gafa), valorização dos azeites por possuírem compostos benéficos diferenciadores. Enquanto não se obtêm genótipos superiores das principais variedades, que possam ser conduzidos em sebe, o que resolveria o principal problema com que se defrontam as variedades portuguesas e que consiste na falta de mão de obra para a colheita e no custo elevado desta operação, decidiu-se apostar na melhoria da realização das técnicas culturais. No projeto OLEAVALOR, foram acompanhados, 10 olivais com 6 variedades tradicionais portuguesas (‘Galega vulgar’, ‘Cobrançosa’, ‘Cordovil de Serpa’, ‘Blanqueta de Elvas’, ‘Carrasquenha’, ‘Azeiteira’). Dos resultados deste projeto concluiu-se que há muito a fazer para melhorar a eficiência de realização de algumas operações culturais no sentido de reduzir custos e aumentar a produtividade, o que se traduzirá num aumento da rentabilidade destas variedades. Foi decidido focar os esforços de alteração das práticas junto dos agricultores em 3 dessas operações: a poda; a rega; a determinação do momento da colheita. Através do projeto GESCERTOLIVE, foram realizadas perto de 20 ações de disseminação do conhecimento, sobre estas 3 operações culturais, junto de diversas organizações de olivicultores do Alentejo (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo, edição de outubro 2023.

Autoria:
Francisco Mondragão-Rodrigues1,2, Mariana Paulo1 & Elsa Lopes3
1-Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal,
2-MED – Mediterranean Institute for Agriculture, Environment and Development, Universidade de Évora, Portugal,
3-Depar- tamento de Fisiologia, Universidad de Extremadura, Badajoz (Espanha).

Referências:
Lopes, H.; Fabrião, M. & Oliveira, I. (2003). Guía de Rega 1.4. Monitorização da agua no solo – Sensores “Watermark”. COTR. Beja
INE (2021). Recenseamento agrícola – Análise dos principais resultados- 2019. Insti- tuto Nacional de Estatística, I.P. Lisboa