A iniciativa “O Solo do Ano” pretende divulgar a diversidade e importância dos solos portugueses. A escolha do Solo do Ano 2024 recaiu sobre os “Solos da Região Demarcada do Douro”. O anúncio foi feito em celebração do Dia Mundial do Solo, dia 5 de dezembro.

A Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo (SPCS) promoveu, pela primeira vez em Portugal, a iniciativa “O Solo do Ano”, que pretende divulgar a diversidade e importância dos solos portugueses, bem como fomentar o seu conhecimento. O solo é um recurso vital para a sociedade: 95% dos nossos alimentos provêm do solo; o solo armazena três vezes mais carbono do que atmosfera; solos saudáveis regulam o ciclo da água, filtrando-a e armazenando-a, assegurando reservas de água potável e evitando cheias; solos saudáveis são guardiões de biodiversidade e constituem a base dos ecossistemas terrestres, de paisagens e ambientes culturais muito diversos.

No dia 5 de dezembro celebra-se o Dia Mundial do Solo, designado desde 2014 pelas Nações Unidas, como forma de divulgar a importância de um solo saudável e de defender a sua gestão sustentável. Neste dia, a SPCS anuncia a escolha do comité de peritos para o Solo do Ano 2024: os Solos da Região Demarcada do Douro.

O Alto Douro Vinhateiro é a mais antiga região demarcada do mundo, datando as primeiras demarcações de 1756. Atualmente, a Região Demarcada do Douro estende-se por cerca de 250 mil hectares ao longo do vale do Rio Douro, dos quais, cerca de 24 mil, constituem Património da Humanidade, outorgado pela UNESCO em 2001. Os Solos da Região Demarcada do Douro sustêm a paisagem do Vale do Douro e uma atividade económica que moldou a vida do Homem muito para além deste território. Esta relação é ainda mais admirável considerando a natureza dos solos da região, dominados por Leptossolos, solos muito delgados e pedregosos, geralmente em vertentes muito declivosas e longas. Destacam-se ainda os Antrossolos, solos profundamente transformados pelo Homem que, pela sua extensão e intrínseca ligação à cultura da vinha, são de particular interesse no que se refere à evolução das técnicas de preparação e de armação do terreno. Estes solos são a base da produção vitícola e da qualidade dos vinhos e a sua gestão sustentável constitui um desafio permanente da viticultura duriense.

Ao longo de 2024, a SPCS irá promover a divulgação e conhecimento sobre os Solos da Região Demarcada do Douro.


Mais informações sobre o Solo do Ano 2024:

Solos da Região Demarcada do Douro

O conhecimento dos solos de um território é essencial e fundamental para a identificação das suas potencialidades, limitações, riscos e ameaças a que está sujeito o recurso solo nas condições atuais ou perspetivadas de uso da terra.

O Alto Douro Vinhateiro é a mais antiga região demarcada e regulamentada do Mundo, datando as primeiras demarcações de 1756. A Região Demarcada do Douro (RDD) estende-se por cerca de 250 mil hectares ao longo do Vale do Rio Douro, dos quais 24.600 ha são abrangidos pelo estatuto de Património da Humanidade, outorgado pela UNESCO em 2001.

A morfologia da Região é acidentada e escarpada salientando-se: vales fortemente encaixados, com áreas aluvionares muito pouco representadas; vertentes muito declivosas e longas, de perfil retilíneo ou convexo; cumeadas aplanadas ou arredondadas, retalhos planálticos em regra de pequena extensão. A paisagem evidencia, pois, a importância da topografia enquanto fator decisivo na formação dos solos e do risco de erosão a que os mesmos estão sujeitos. O clima da RDD caracteriza-se, na sua maior parte, pela aridez mais marcada nos fundos de vale e em todo o Douro Superior. Caracterizando-se também pela intensidade das precipitações violentas, em episódios curtos e raros, mas de grande potencial erosivo.

Os xistos e os granitos são, maioritariamente e em sentido lato, os materiais originários dos solos desta Região cobrindo quase 90% da área, com influência muito nítida nas características dos solos, em particular na textura, na permeabilidade e na reação do solo.

Na RDD, de acordo com a Carta dos Solos do NE de Portugal (1991), salienta-se a dominância dos Leptossolos (60% da área) e a baixa representação de Cambissolos (12%), Fluvissolos (4%) e Regossolos (0,5%). Destacam-se, entre outros, os Antrossolos * (30%). Estes solos profundamente alterados pelo Homem, pela sua extensão e intrínseca ligação à cultura da vinha, são objeto particular de interesse no que se refere à evolução das técnicas de preparação e de armação do terreno, às características do perfil e à gestão sustentável do solo. Constituem o suporte fundamental da produção vitícola e da qualidade dos vinhos, enquanto desafios permanentes da viticultura duriense.

Comité de peritos para o Ano do Solo 2024: António Perdigão, Tomás Figueiredo e Manuela Abreu (coord.)

* NOTA: A taxonomia de solos, tal como as de outros recursos naturais, também é objeto de revisões frequentes pela comunidade científica. A designação ‘Antrossolos’, aplicada aos solos em socalcos ou em terraços, aquando da elaboração da Carta de Solos de Trás-os-Montes e Alto Douro (1991), não seria hoje aplicada à grande maioria desses solos. De acordo com a revisão mais recente (2022) da classificação internacional World Reference Base for Soil Resources (abreviadamente WRB), esses solos são agora incluídos no grupo ‘Regosols’, ao qual é adicionado o qualificativo ‘Escalic’ (do espanhol escalera, escada). Atualmente também é recomendado que sejam usados os nomes originais da WRB, isto é, sem tradução para outras línguas ou alfabetos. A Direção da SPCS.

Na galeria estão disponíveis mais imagens de solos e paisagens da Região Demarcada do Douro.

A SPCS agradece a colaboração de todos os que queiram disponibilizar imagens de solos e paisagens da RDD para divulgar em Galeria. Para o efeito as imagens devem ser enviadas para spsc@spscs.pt, com uma proposta de legenda (no mínimo indicando o local e ano) e com a indicação do autor/a das imagens.