A abelha melífera (Apis melífera L.) tem sido ameaçada por diferentes fatores, tais como pesticidas, alterações climáticas, má nutrição, espécies invasoras tais como o predador Vespa velutina, a bactéria causadora da loque americana Paenibacillus larvae, e principalmente, o ácaro parasita Varroa destructor (vulgarmente conhecido como varroa), que é apontado como umas das mais importantes ameaças para a abelha melífera a nível global.

A varroa enfraquece as abelhas ao alimentar-se do corpo adiposo, o qual desempenha um papel importante na imunidade, detoxificação, e sobrevivência ao inverno. A nível individual, existem diversos efeitos descritos, tais como redução da longevidade reduzida, menor peso e capacidade de aprendizagem das abelhas parasitadas. A nível da colónia, existe uma maior frequência de enxameação e menor probabilidade de sobrevivência ao inverno. Mais importante do que o efeito direto nas abelhas é o facto da varroa poder transmitir vários vírus, sendo o vírus das asas deformadas o mais importante e conhecido dos apicultores. Para além do vírus das asas deformadas, a varroa pode ainda transmitir o vírus da paralisia lenta e o vírus da paralisia aguda, todos eles muito nocivos para as abelhas.

A varroose é a doença das abelhas com maior prevalência a nível nacional

Em Portugal, à semelhança do resto da Europa, a varroose é considerada uma doença endémica e que causa elevados prejuízos à apicultura. Os dados da Direção Geral de Alimentação e Veterinária mostram que 37% dos apiários rastreados em Portugal em 2020 estavam infestados, fazendo com que a varroose seja a doença das abelhas com maior prevalência a nível nacional. Para apoiar os apicultores foi criado um programa sanitário apícola, onde se estabelecem medidas de sanidade veterinária para a defesa contra as doenças das abelhas, existindo uma seção apenas direcionada para a varroose designada por “plano de luta contra a varroose”.

A forma mais comum usada pelos apicultores para controlar a varroa é através do uso de acaricidas, sejam eles sintéticos ou orgânicos (e.g., à base de timol ou ácido oxálico). Os acaricidas sintéticos podem ser piretróides (tau-fluvalinato e flumetrina), formamidinas (amitraz) ou organofosfatos (cumafos). Em Portugal não há nenhum medicamento homologado para tratamento da varroose que tenha como base o cumafos. A utilização intensiva e repetida dos acaricidas sintéticos tem levado ao aparecimento de resistências um pouco por todo o mundo.

Os primeiros casos de resistência a acaricidas sintéticos foram descritos em 1991. Desde então, as resistências estão amplamente difundidas por todo o mundo. A monitorização da resistência aos diferentes acaricidas é de extrema importância porque permite estimar a eficácia dos tratamentos e planear uma estratégia informada de controlo da varroose.

Existem vários mecanismos de resistência descritos e podem estar relacionados com alterações no local de ação do acaricida ou na quantidade que chega ao local de ação através de mudanças na penetração, ativação ou metabolização do composto. A base molecular de alguns dos mecanismos de resistência da varroa aos piretróides e ao amitraz foi descrita recentemente (Benito-Murcia et al., 2022; Hernández-Rodríguez et al., 2021).

Não há nenhum tratamento disponível para os vírus

Ao contrário do que acontece com a varroa, para os vírus não há nenhum tratamento disponível. Em Portugal continental, não é conhecida a distribuição e prevalência dos vírus mais importantes das abelhas. No entanto, compreender a distribuição e disseminação das doenças é essencial ao desenvolvimento de estratégias adequadas ao seu controlo e contenção.

O projeto de investigação “MITE: Varroa e vírus transmitidos: MonItorização de muTações e dEsenvolvimento de ferramentas moleculares inovadoras”, recentemente aprovado para financiamento pelo Programa Apícola Nacional, pretende verificar se existem em Portugal populações de varroa resistentes aos piretróides e ao amitraz, e em caso afirmativo estudar a sua distribuição geográfica. Adicionalmente, o MITE pretende contribuir para a modernização do setor apícola através do desenvolvimento de ferramentas moleculares inovadoras.

Para garantir o êxito do projeto MITE e assim contribuir na luta contra a varroa, contamos com a colaboração dos apicultores. Para tal, solicitamos a colheita de pelo menos 5 varroas por colónia, num mínimo de 3 colónias por apiário.

Passos para a participação no projeto MITE

As varroas podem ser colhidas usando a técnica da sua preferência, como o teste do açúcar (https://www.youtube.com/watch?v=4fltUA4XyAU), o easycheck (https://www.youtube.com/watch?v=ZicsCFkq0Ns), ou o teste à criação (colheita a partir da criação fechada). Alternativamente, pode recolher as varroas no estrado sanitário, desde que estas estejam frescas e tenham caído recentemente (aproximadamente 24 horas).

Aos colaboradores interessados, disponibilizaremos tubos contendo álcool e um envelope pré-pago para facilitar o envio para o nosso laboratório, no Instituto Politécnico de Bragança. Caso tenha interesse, dúvidas ou sugestões pedimos que entre em contacto com as investigadoras responsáveis Dora Henriques (dorasmh@ipb.pt) ou Alice Pinto (apinto@ipb.pt), ou que preencha o questionário disponível em https://forms.gle/RNNoUagL3jb7gyD26.

Para obter mais informações, visite o site https://mite.ipb.pt.

Autores:

Dora Henriques1,2*, Carlos A.Y. García 1,2, Ana R. Lopes1,2, José Rufino Amaro2,3, Maíra Costa1,2, Marta Coelho4, Raquel Martín-Hernández5, Mariano Higes5, Federação Fenapícola, M. Alice Pinto1,2*.

Autores correspondentes: Dora Henriques (dorasmh@ipb.pt) e M. Alice Pinto (apinto@ipb.pt). 1 CIMO, Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Sta. Apolónia, 5300-253 Bragança, Portugal. 2 SusTEC, Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Sta. Apolónia, 5300-253 Bragança, Portugal. 3 Research Centre in Digitalization and Intelligent Robotics (CeDRI), Instituto Politécnico de Bragança, Bragança, Portugal. 4 Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Sta. Apolónia, 5300-253 Bragança, Portugal

5Laboratorio de Patologia Apicola, IRIAF—Instituto Regional de Investigacion y Desarrollo Agroalimentario y Forestal, Centro de Investigacion Apicola Y Agroambiental (CIAPA), Consejeria de Agricultura de La Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha, Camino de San Martin S/N, 19180 Marchamalo, Spain

Referências:

Benito-Murcia, M., Botías, C., Martín-Hernández, R., Higes, M., Soler, F., Perez-Lopez, M., … & Martinez-Morcillo, S. (2022). Evaluating the chronic effect of two varroacides using multiple biomarkers and an integrated biological response index. Environmental Toxicology and Pharmacology, 94, 103920. doi: 10.1016/j.etap.2022.103920

Hernández-Rodríguez, C. S., Moreno-Martí, S., Almecija, G., Christmon, K., Johnson, J. D., Ventelon, M., vanEngelsdorp, D., Cook, S. C., & González-Cabrera, J. (2021). Resistance to amitraz in the parasitic honey bee mite Varroa destructor is associated with mutations in the β-adrenergic-like octopamine receptor. Journal of Pest Science, 1–17.

Agradecimentos:

Este trabalho foi financiado pelo programa apícola nacional 2023-2017. Os autores agradecem também à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT, Portugal) pelo apoio financeiro através dos fundos nacionais FCT/MCTES (PIDDAC) ao CIMO (UIDB/00690/2020 e UIDP/00690/2020) e à SusTEC (LA/P/0007/2020).

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