A agricultura sustentável tenta fazer o melhor uso das condições existentes, adaptando as culturas ao clima e ao solo e beneficiando de sinergias entre os seres vivos que compõem o sistema agrícola. O critério principal que permite identificar a agricultura sustentável é a integração dos bens e serviços dos ecossistemas no processo de produção.

A produção agrícola sustentável não deve ser vista apenas como uma forma de produzir alimentos com um impacto ambiental mínimo, mas as dimensões sociais e económicas são fulcrais para que uma agricultura adaptada às condições locais (em alteração contínua e exigindo mudanças) possa ser mantida a médio/longo prazo. A agricultura sustentável pretende produzir alimentos saudáveis num ambiente saudável.

Por isso torna-se importante registar e interpretar os dados climáticos em especial da insolação, temperatura e precipitação de cada agrossistema, avançar na sua modelação, avaliar os recursos das culturas através da análise de características relacionadas com a adaptação às condições agro-ecológicas, alterações climáticas e qualidade da produção. É também importante melhorar a eficiência hídrica através do desenvolvimento de tecnologias de irrigação relevantes e sustentáveis e proceder a alterações da configuração de sistemas de irrigação e monitorizar a programação/condução do balanço hídrico.

Por fim é também importante contribuir para a melhoria das características nutricionais da cultura fazendo a avaliação de indicadores-alvo de solo, do microbioma, fauna ou flora, mantendo e melhorando a qualidade do solo e, também, avaliar o equilíbrio e a saúde do solo/agrossistema, bem como monitorizar os agrossistemas e identificar e avaliar os serviços ecossistémicos, envolvendo nestes trabalhos uma componente de avaliação do microbioma e da sua biodiversidade (Ferrante et al., 2022).

Planos de Desenvolvimento Regional da Fruticultura, da Horticultura e a Estratégia de Desenvolvimento da Agricultura Biológica

Na Região Autónoma dos Açores, em particular, os Planos de Desenvolvimento Regional da Fruticultura, da Horticultura e a Estratégia de Desenvolvimento da Agricultura Biológica (Fig. 1) são peças fundamentais que têm contribuído para se caminhar no sentido de uma agricultura sustentável.

O estudo e modelação dos fatores climáticos bem como a avaliação do impacto das alterações das condições edfoclimáticas nas culturas aliado à melhoria da eficiência hídrica e melhoria das condições nutricionais das culturas são peças de um puzzle deveras importantes para o desenvolvimento sustentável da agricultura açoreana.

No entanto, a componente da proteção das culturas, a avaliação dos serviços ecossistemáticos e a formação dos técnicos e agricultores bem como o assegurar da segurança alimentar são também peças importante neste trabalho de adaptação para o estabelecimento de uma agricultura sustentável.

Os trabalhos desenvolvidos no âmbito dos projetos Cuarentagri e Fruiflymanage são exemplos das alterações que temos de operar na nossa agricultura

Esses trabalhos abarcam diversas vertentes como: a da monitorização das pragas com importância económica e em perigo de serem introduzidas; os ensaios de eficácia de métodos de deteção precoce na vertente biotécnica; a criação de redes de alerta para acompanhamento da evolução dos organismos que são praga chave de diversas culturas com importância económica;  a elaboração de planos de contingência; a realização de análises de risco das pragas; os ensaios de eficácia de instrumentos de deteção precoce de pragas, a criação e a utilização de uma plataforma de acesso “on-line” com toda esta informação sobre as pragas mais importantes das culturas; a emissão de folhas fitossanitárias e avisos agrícolas (…).

→ Leia o artigo completo na edição de dezembro 2023.

Agradecimentos: Todo o trabalho apresentado foi financiado pelos projetos Pervemac 2 (código MAC/1.1.a/049), Cuarentagri (código MAC 2/1.a/231) e Euphresco (Euphresco project  2017 F-236)

D. Lopes1*;
1CE3C- Centre for Ecology, Evolution and Environmental Changes/Azorean Biodiversity Group, CHANGE – Global Change and Sustainability Institute, Fac. de Ciências Agrárias e do Ambiente, Dep. de Ciências Agrárias, Rua Capitão João D’Ávila, 9700-042 Angra do Heroísmo, Terceira, Açores, Portugal
*David João Horta Lopes: david.jh.lopes@uac.pt