Por: Marisa Costa, Vice-Presidente da APROLEP

PUBLICAÇÃO - REVISTA APROLEP N 28

Hoje ter uma formação académica por si só não é suficiente para fazer face às exigências do mercado de trabalho. A formação, seja ela profissional ou universitária, oferece conhecimentos técnicos, mas são as competências pessoais que fazem a diferença quando desempenhamos alguma função.

São várias as empresas, dos mais diversos setores, que promovem estágios de Verão para integrar jovens que frequentam ainda a formação académica. BPI, SONAE, MOTA & ENGIL, AUCHAN, NOVO BANCO são algumas das empresas que aderem a estas iniciativas.

Todos sabemos que nem sempre a teoria é passível de ser posta em prática e que o conhecimento teórico por si só não é solução para resolver os desafios das empresas. Por essa razão, considero fundamental que o setor agrícola crie um programa de estágios para potenciar o conhecimento académico de muitos jovens. Recordo-me de receber veterinários estagiários cujo único contacto com a produção de leite que tiveram foi na faculdade, nunca tinham passado um dia na vacaria, nunca tinham feito uma ordenha, nunca tinham dado colostro a um vitelo, nunca tinham sequer assistido a um parto.

Pela minha experiência como agricultora, são muitos os pais que gostavam que os filhos passassem alguns dias a trabalhar na agricultura para adquirirem mais conhecimentos, responsabilidade e terem contato com a terra, os alimentos, os animais. Nós que crescemos no campo sabemos o impacto positivo que o contato com a natureza tem nas nossas vidas.

Não estará na altura de abrir as portas das nossas quintas, campos e vacarias e integrar estes jovens durante alguns dias das suas férias de Verão? Pela minha experiência enquanto profissional, os estágios de Verão podem ser muito impactantes positivamente porque nos proporcionam um contacto com o contexto real de trabalho e permitem aplicar a teoria na prática e ajustar as expectativas relativamente ao mercado de trabalho e às tarefas que desempenharemos no nosso dia a dia enquanto profissionais. De todas as experiências destaco a possibilidade de interagirmos com profissionais de diversas áreas, uma vez que hoje as equipas são multidisciplinares e temos a possibilidade e oportunidade de criar sinergias, desenvolver outras perspetivas e debater com diferentes pontos de vista. Em 2009 e 2010 integrei o programa de estágiosPEJENE da Fundação da Juventude e estagiei no grupo INFOS e na MOTA & ENGIL. Foram experiências muito enriquecedoras porque me permitiram interagir com o mercado de trabalho, por outro lado esta experiência tornou-se ainda mais enriquecedora pela diferença de experiências proporcionada pelas duas empresas que me integraram.Todos nós que vivemos da agricultura temos necessidade de potenciar e alavancar o setor agrícola português e não tenho dúvidas de que criar programas de estágios será fundamental para alcançar esse objetivo.