Com as várias preocupações do ponto de vista da falta de água, José Oliveira, presidente da AlgarOrange, detalha-nos em entrevista todos os pormenores das medidas colocadas pelo Ministério para o setor e as reivindicações que defendem.

Numa altura em que existe a problemática da escassez de água no Algarve, onde agricultura é a parte mais lesada com as medidas que neste momento estão a ser colocadas, qual a sua opinião relativamente a esta matéria?

Existe uma grande preocupação naturalmente, porque estamos dependentes se chover ou não chover, porque todas as medidas que possam ser tomadas no curtíssimo prazo, que pudessem levar a maior quantidade de água disponível para a agricultura, não existem. As medidas do PRR que estão previstas serem implementadas a começar pela dessalinizadora e passando pelo Pomarão, medidas substanciais que poderiam acrescentar cerca de 50 hectómetros cúbicos à quantidade de água disponibilizada para a economia do Algarve, só estarão, e se tudo correr bem, disponíveis no final de 2026. Estamos no início de 2024, no curto prazo ou no imediato, qual é que pode ser a nossa expetativa? Esperar novas fontes de água que possam acrescentar ao pouco que existe? Isto, naturalmente, deixa-nos preocupados porque pode chover ou pode não chover.

Mas, neste momento existe um plano de apoio por parte do Ministério da Agricultura…

Existe um plano para se trabalhar com o reaproveitamento das águas das ETARS que vai levar o seu tempo. Aquilo que está previsto nas obras, que se estão a fazer, é que durante 2024 ou no final de 2024 estejam disponíveis para utilização 2.5 hectómetros cúbicos. As obras que estão lançadas serão no sentido de se conseguirem 8 hectómetros cúbicos para 2025.

Foi anunciado um corte de 15% para consumo público, 15% para hotelaria, 15% para o golfe e 25% para a agricultura. Mas, temos setores da agricultura, cerca de 8000 hectares ou mais, que vão ter mais cortes. Por exemplo, os agricultores que regam pela barragem da Bravura há 3 anos que não recebem um litro de água. Portanto, em 2024 não vão receber nada porque a Barragem não tem água. Os agricultores do perímetro de rega do Sotavento, que estão ligados à Barragem de Odeleite, vão ter cortes de 50%.

Os agricultores ligados ao Perímetro do Barlavento ligados à Barragem de Odelouca vão ter cortes de 44%. Associados aos cortes do ano anterior, isto leva-nos, a que os cortes   ultrapassem para todos mais de 50%. Estamos a falar de cortes na ordem dos 70%.  Portanto quando foi anunciado os 25%, eu digo sempre isto, foi uma forma muito inteligente de comunicação.

Os cortes estão previstos serem aplicados a partir de março.

Neste sentido, o que vai acontecer? Vai haver pomares que vão deixar de ser regados?

Se não houver alterações substanciais, sim. Olhemos para o ano de 2024: estamos na campanha de produção de 2024 que começa no final de outubro e vai até outubro de 2025. Temos a laranja de Inverno que está a ser comercializada e com os cortes que já vinham a ser feitos, a produção baixou. A campanha de primavera com a Lane Late, também. Para a variedade do Verão, a situação vai ser mais complicada com calibres muito menores e com quantidades inferiores.

Tudo indica que vai haver 8500 hectares com cortes substanciais e que para 2025 certamente irão perder a produção e consoante a gravidade de falta de água, se chover ou não, a situação pode agravar-se.

Nota-se perfeitamente que o Algarve se tem expandido não só em termos de turismo, mas também no setor agrícola com novos pomares de citrinos, abacateiros, (…). Poderá haver um retrocesso?

Foi determinado, a proibição de novas áreas de regadio no Algarve. Isto vai inibir o aparecimento de novas áreas na agricultura do Algarve. Concordamos com esta situação se esta lógica se aplicar a todos os setores. E, aquilo que vemos é que ela não se aplica a todos os setores porque há licenciamentos para novos empreendimentos, hotéis (…) achamos que os esforços devem ser equitativos e que as medidas devem ser transversais. Não aceitamos que se deixe de fazer mais área de regadio e que se continue a licenciar na forma como se continua (…).

→ Leia a entrevista completa na Revista Voz do Campo: edição de fevereiro 2024