A figueira-da-índia [Opuntia ficus-indica (L) Miller], proveniente da América central, desde que foi introduzida na Península Ibérica no século XVI passou a ocupar um lugar de destaque na sociedade, tanto a nível botânico como a nível económico e agrícola (Blasco, 2014).
Atualmente é possível encontrar plantas do género Opuntia em todo o país. Os cladódios podem ser utilizados na alimentação de pequenos ruminantes, principalmente em períodos do ano em que há reduzida qualidade e quantidade de pastagem. Em condições áridas e semiáridas, a reduzida qualidade das forragens, a insuficiente oferta de alimentos e a falta de água estão entre os principais fatores que afetam diretamente a produção animal (Tegegne et al., 2007).
Nos últimos anos tem havido um aumento de interesse por diferentes espécies do género Opuntia pelo importante papel que desempenham em zonas áridas e semiáridas. Geralmente, o principal recurso económico dessas regiões são os animais, predominantemente caprinos, devido aos seus hábitos de consumo e à sua capacidade de adaptação a regiões com baixa precipitação e baixa disponibilidade de alimento (Andrade-Montemayor et al., 2011). As alterações nos padrões climáticos estão a levar ao aumento da desertificação, resultando numa diminuição das áreas de pastoreio, que são muitas vezes insuficientes face à procura. Consequentemente, os caprinos e os ovinos enfrentam uma escassez de nutrientes cada vez maior quando explorados em regiões com clima marcadamente mediterrânico, com verões quentes e secos como acontece no Centro e Sul de Portugal. Estes animais dependem muitas vezes de subprodutos e resíduos de baixa qualidade (palhas e restolhos) e de suplementos alimentares dispendiosos. A O. ficus-indica está bem adaptada a estas zonas e caracteriza-se por subsistir em condições de seca, chuvas irregulares e solos pobres sujeitos a erosão.
Apresenta elevada digestibilidade e boa palatibilidade
Embora seja considerada um alimento pobre em fibra bruta e proteína bruta, apresenta elevada digestibilidade in-vitro (Silva e Santos, 2007) e boa palatabilidade (Suñigiga, 1980), fornecendo energia altamente digestível, água e sais minerais. Quando combinada com uma fonte proteica, poderá constituir um alimento completo. Para ser utilizada na alimentação animal, é fundamental que os cladódios tenham poucos ou nenhuns espinhos, uma vez que a utilização de variedades com espinhos que se alojam no aparelho gastrointestinal dos animais pode provocar feridas e posteriormente desenvolver infeções bacterianas (Felker, 2001). Tendo em conta os aspetos referidos anteriormente, os animais podem fazer pastoreio direto mas controlado ou os cladódios podem ser distribuídos à manjedoura. Neste último caso, os cladódios devem ser cortados manualmente ou mecanicamente, em pedaços de 5-10 cm para facilitar a preensão do alimento e aumentar o seu consumo (pedaços mais pequenos para ovinos e caprinos), para diminuir a seletividade do alimento e para reduzir sobras.
Este trabalho teve como objetivos determinar a composição nutricional dos cladódios de 5 ecótipos nacionais e 2 cultivares de Opuntia ficus-indica e formular um regime alimentar maximizando a utilização dos cladódios na alimentação de ovelhas em lactação. Foram analisados cladódios de um ano colhidos de plantas cultivadas num campo experimental da ESA-IPCB. Para a instalação do campo experimental, foram previamente colhidos cladódios maduros de O. ficus-indica de quinze plantas de cinco ecótipos diferentes (A – Portalegre; B – Arronches; C – Cacela-a-Velha; D – Monforte da Beira; E – Idanha-a-Velha) do Centro e Sul de Portugal e foram incluídas duas cultivares (Bianca e Gialla), para termo de comparação (…).