A Teileriose Tropical é uma doença hemoparasitária causada pelo protozoário Theileria annulata. Este parasita é transmitido por carraças e afeta a produção de bovinos na Europa, Ásia e África, podendo causar quebras de produção e aumentar a taxa de mortalidade e morbilidade dos animais parasitados, resultando em perdas económicas para as explorações.

As estratégias de controlo desta doença podem incluir a sua prevenção e o tratamento dos animais afetados. O tratamento envolve a administração de fármacos, cuja eficácia é questionável, ou o abate dos animais afetados. A prevenção, por sua vez, poderá ser baseada no controlo de carraças, do meio ambiente e do animal. O uso de acaricidas para controlo de carraças é o método mais utilizado, embora apresente inúmeras limitações associadas ao seu custo e ao aumento das resistências a estes produtos. Por outro lado, sabe-se que existem diferenças de resistência a T. annulata entre os animais, que pressupõe também a existência de diferenças nos mecanismos imunológicos desenvolvidos pelos hospedeiros em resposta a este protozoário, pelo que o conhecimento da variação genética e dos mecanismos fisiológicos que levam a essas diferenças. Ciclo de vida de T. annulata (Adaptado de Andrade et al., 2019) fenotípicas é de extrema importância para o desenvolvimento de métodos complementares de controlo, como o aumento da resistência genética dos animais ao longo das gerações. Assim sendo, a utilização de animais resistentes poderá ser uma estratégia sustentável capaz de minimizar o impacto da Teileriose Tropical. Atualmente, existem vários estudos que sugerem que bovinos de raças autóctones de regiões endémicas são mais resistentes que os bovinos de raças não autóctones.

Nos últimos anos, o desenvolvimento das tecnologias de sequenciação de ADN e de genotipagem de marcadores moleculares, por exemplo de SNP’s (Single-nucleotide polymorphism), permitiram a utilização de métodos de seleção assistida por marcadores e a possibilidade de realização de estudos de associação genómica ampla (Genome-Wide Association Studies – GWAS) de forma a detetar genes/marcadores genéticos que possam ter evidências de associação com a resistência bovina a esta doença. Esta tecnologia, permite identificar, numa fase precoce da vida dos animais, aqueles que apresentam superioridade genética, ou seja, os animais que geneticamente são mais resistentes à infeção pelo parasita.

Neste sentido, realizou-se um trabalho académico em que um dos objetivos foi identificar marcadores genéticos (SNP’s) e genes e/ou regiões genómicas que possam estar associados à resistência à Teileriose Tropical em bovinos das raças autóctones Alentejana e Mertolenga.

O referido trabalho incidiu sobre a genotipagem de 96 amostras de animais de cada raça (Alentejana e Mertolenga), selecionadas de um total de 843 amostras em estudo. A seleção das amostras foi feita com base no resultado positivo e negativo das amostras para a presença ou ausência de ADN do parasita (T. annulata), respetivamente. No caso da raça Alentejana foram genotipadas 30 positivas e 66 negativas, e para a raça Mertolenga 48 positivas e 48 negativas, sendo que as amostras positivas foram consideradas suscetíveis e as amostras negativas foram consideradas resistentes à doença. A preparação das amostras e a análise dos resultados foi realizada no Laboratório de Genética Molecular do Instituto Nacional da Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de março 2024

Adaptado de: Valente D, Serra O, Carolino N, Gomes J, Coelho AC, Espadinha P, Pais J, Carolino I. A Genome-Wide Association Study for Resistance to Tropical Theileriosis in Two Bovine Portuguese Autochthonous Breeds. Pathogens. 2024 Jan 12;13(1):71. doi: 10.3390/pathogens13010071. PMID: 38251378; PMCID: PMC10819359.

Autoria: Diana Valente 1,2,3, Inês Carolino 1,4

1Centro de Investigação Vasco da Gama, Escola Universitária Vasco da Gama, 3020-210 Coimbra, Portugal

2Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Quinta de Prados, 5000-801 Vila Real, Portugal

3Centro de Ciência Animal e Veterinária, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Quinta de Prados, 5000-801 Vila Real, Portugal

4Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Polo de Inovação da Fonte Boa—Estação Zootécnica Nacional, 2005-424 Santarém, Portugal