Introdução: Com pouco mais de 380.000 ha de superfície, o olival português já conseguiu ultrapassar os 1.000 milhões de euros de exportações de azeite em 2023. Esta situação seria totalmente impensável há pouco mais de duas décadas, quando o olival português ainda era um olival maioritariamente tradicional, com um grande peso do sequeiro nos olivais em produção. No início dos anos 2000, a produção de azeitona andava nas 200.000 a 300.000 t/ano, o que tornava Portugal num país deficitário em azeite, tendo de importar mais de metade do azeite necessário para o consumo nacional. No entanto, a “revolução” do olival já estava em marcha, fruto de investimentos estrangeiros na região Alentejo, mais propriamente naquilo que viria a ser a área de regadio do empreendimento de fins múltiplos de Alqueva. Tinha começado a plantação de olival intensivo de maior densidade e de olival em sebe (geralmente conhecido por “superintensivo”), em regime de regadio, com variedades melhoradas altamente produtivas. Vinte anos depois, com apenas mais 10% de área de olival produzimos mais 200% de azeite. Passamos de produtividades médias de 500-600 kg de azeitona por hectare para mais de 2400 kg/ha, dando origem a produções anuais de 700.000 a 900.000 t de azeitona (mais de 1.350.000 t, em 2021). Tudo isto só foi possível devido a uma profissionalização de grande parte do setor, recorrendo a uma olivicultura muito intensiva, de regadio e baseada em variedades altamente produtivas, e, mais recentemente, apoiada na utilização muita inovação e tecnologia.

Aplicações de tecnologia e inovação nos olivais

Na primeira década de vida dos “olivais modernos” (2000-2010), os aumentos de produção de azeitona por hectare deveram-se sobretudo ao incremento natural das produções unitárias com o avançar da idade de milhares de hectares de novos olivais, até à sua estabilização no “ano cruzeiro”, cerca de 6 a 8 anos após a plantação. Atualmente, apesar de ainda se verificar este fenómeno, embora o seu contributo já seja menor, é aqui que começa a ter maior peso é o aumento da produtividade por maior uso de fatores de produção. No entanto, a necessidade de uso eficiente destes fatores (água, fertilizantes e pesticidas agrícolas) obrigou, na última década (2014-2024), ao recurso a sensores e a técnicas inovadoras de monitorização do estado dos olivais. No início, surgiram as sondas de medição do teor de humidade do solo para apoio à gestão da rega, muito impulsionadas pela “medida 7.5 – Uso eficiente da água”, do PDR2020. As análises de terra, foliares e de água tornam-se mais rotineiras, fruto da obrigatoriedade da sua realização periódica para recebimento das ajudas aos modos de produção sustentáveis, como por exemplo a Produção Integrada, dando origem a fertilizações calculadas para cada parcela, e não uniformes para toda a exploração, como era hábito anteriormente. Começava a ser adotada a “Olivicultura de precisão”, que só se efetivou, já com alguma expressão no Alentejo, muito recentemente, com a determinação da variabilidade nos olivais e a aplicação diferenciada de fatores de produção com base nessa variabilidade.

O conceito de olivicultura de precisão, baseia-se na existência de variabilidade entre parcelas de olival, justificando o tratamento diferente dessas parcelas. A situação teórica ideal seria, inclusivamente, tratar de forma diferente a variabilidade dentro da parcela, que nalgumas situações têm dezenas de hectares de superfície. Sendo exequível em culturas arvenses, como numa seara de trigo, isso já não possível (de forma economicamente viável) numa parcela de olival. O objetivo deste conceito é aplicar apenas a quantidade (de água, de adubo, de pesticida, etc.) necessária no sítio onde é necessária, e no momento adequado (em que é necessária). As vantagens em termos de redução de custos e de menor impacte ambiental são evidentes (só se aplica aquilo que é preciso onde é preciso).

Atualmente, ainda antes da plantação do olival,  é frequente efetuar um levantamento da condutividade elétrica do solo, com sensores arrastados (figura 1) por trator, moto 4 ou veículos todo-o-terreno, o que nos permite logo definir zonas com diferentes texturas do solo (diferentes percentagens relativas de areia, limo e argila) que possibilitarão a definição de diferentes setores de rega, onde a gestão da água será diferenciada, com dotações, duração da rega e intervalos de rega adequados a cada solo. Feita a plantação e instalado o sistema de rega são instaladas sondas de monitorização da humidade do solo (sondas capacitivas, tensiómetros, sondas TDR ou sensores WATERMARK) ou, ainda pouco frequentes, sensores de fluxo de seiva, colocados nos troncos das oliveiras. Assim, é logo possível gerir a rega de modo eficiente, nas parcelas/setores de rega onde é necessário aplicar mais água, aplica-se, nas parcelas onde se deve regar menos, reduzem-se as dotações, poupando água e energia, reduzindo custos. As análises de terras, foliares e de água permitem ajustar a fertilização a cada parcela em função dos níveis de fertilidade pré-existentes e da produção potencial esperada de cada variedade. Mais uma vez, será possível aplicar diferentes quantidades de fertilizantes, obtendo-se também reduções de custos e reduzindo os riscos de contaminações por adubos. A nível fitossanitário, a monitorização das pragas e doenças com recurso a armadilhas e recolha periódica de material vegetal para análise posterior, permitem também a possibilidade de tratar umas parcelas/variedades e outras não, consoante a estimativa de risco decorrente da informação recolhida nesses dispositivos e nas estações meteorológicas automáticas que fornecem as variáveis ambientais.

Figura 1 Sensor de levantamento da condutividade elétrica do solo

Vantagens e inconvenientes da olivicultura de precisão

A mais recente fase da aplicação do conceito de “Olivicultura de precisão” corresponde à utilização de informação recolhida por deteção remota, através de satélites (ex. SENTINEL-2) ou de drones com câmaras multiespectrais (Figura 2), que fornecem imagens de diferentes índices de vegetação, geralmente o NDVI (Normalized Difference Vegetation Index). Torna-se assim possível, monitorizar largas extensões de olival, sem ter de percorrer todo o terreno, com importantes economias de tempo e dinheiro, sobretudo de mão-de-obra. Esse tipo de imagens de uma parcela de olival, recolhidas periodicamente, apresentam geralmente diferentes “manchas” de cor (diferentes valores de NDVI) (Figura 3) e permitem monitorizar o vigor vegetativo das oliveiras, detetando-se zonas (manchas) com baixo vigor que poderão corresponder a problemas nutritivos, de falta de água ou de ataque da folhagem da oliveira por uma praga ou doença (…).

 

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Autoria: Francisco Mondragão-Rodrigues1,2,3

1Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal, 2VALORIZA, Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal, 2MED – Mediterranean Institute for Agriculture, Environment and Development, Universidade de Évora, Portugal.