A viticultura contemporânea tem testemunhado mudanças expressivas, impulsionada pela tecnologia, um processo que une a experiência dos viticultores, com conhecimento gerado e transmitido nos espaços de inovação e impulsionado pelas empresas de tecnologia.

O uso de tecnologia está envolvido na recolha massiva de dados em tempo real, permite uma compreensão aprofundada do ambiente específico de cada vinha, e auxiliam os viticultores na otimização da gestão das vinhas, na melhor tomada de decisão e também na adaptação inteligente a condições climáticas variáveis.

Neste artigo iremos brevemente discutir o uso prático de dados e informações microclimáticas aplicados na viticultura. Estes dados obtidos dentro da parcela produtiva, permitem a obtenção de informações locais e precisas das condições reais produtivas e possibilitam uma compreensão aprofundada do ambiente e condições específicas de cada vinha. A capacidade de ajustar as práticas vitícolas, com base em dados específicos de cada parcela, melhora significativamente a resiliência da viticultura e, por conseguinte, a qualidade das uvas e a produção de vinho.

Monitorização microclimática

Como exemplo de uma monitorização microclimática surge a rede de pilotos tecnológicos implementadas no âmbito do projeto ‘DigiFarm2all: Sustentabilidade e Democratização da Agricultura 4.0’*. O projeto, liderado pelo SFCOLAB, tem como objetivo democratizar a digitalização da agricultura e promover a sua literacia. Para isso, encontram-se instalados 17 pilotos tecnológicos de custo acessível, de norte a sul de Portugal continental. Destes, 7 estão instalados em vinhas comerciais, abrangendo as regiões vitivinícolas do Douro, Vinhos Verdes, Bairrada, Lisboa e Alentejo.

Os pilotos tecnológicos são compostos por um sistema personalizável de sensores de baixo custo SOFIS (Smart Orchard Fertirrigation System) desenvolvido pelo SFCOLAB, e integram sensores meteorológicos (velocidade e direção do vento, pluviómetro, radiação, temperatura e humidade atmosférica) e sensores do solo (temperatura, humidade e condutividade elétrica). Os sensores de baixo custo foram previamente calibrados e validados com sensores de referência em parceria com o INIAV– Estação Vitivinícola Nacional. A escolha destes sensores em concreto tem como objetivo o de aprimorar a gestão da rega e da fitossanidade, com a implementação de modelos de previsão e análise de risco de pragas e doenças na vinha, baseado no conhecimento já existente e na experiência da ADVID e CoLAB Vines&Wines, no que diz respeito à utilização de dados, obtidos através de sensores, como suporte à vitivinicultura.

Do dado à informação

Os pilotos tecnológicos visam, entre outras funções, difundir a importância dos dados microclimáticos (Imagens acima). Estes dados, em primeira instância, são utilizados no cálculo direto de índices de interesse para a viticultura, nomeadamente:

I) Horas de frio são calculadas a partir do tempo em que a temperatura do ar é inferior a 7.2°C; as horas de frio influenciam a quebra de dormência, regulação da floração, produção de uva e resistência a doenças (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de março 2024

*O Projeto ‘DigiFarm2all: Sustentabilidade e Democratização da Agricultura 4.0’ tem a referência PRR-C05-i03-I-000108 e é financiado pelo Plano de Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Autoria: Livia Pian¹ , Nelson Machado², António Pinto², Raúl Estevinha¹ , Jucilene Siqueira¹ , André Duque¹ , José Silvestre³ , Cátia Pinto¹

¹ Associação SFCOLAB – Laboratório Colaborativo para a Inovação Digital na Agricultura

² ADVID – CoLAB Vines&Wines

³ Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV)