A pecuária de precisão representa um avanço significativo na forma como hoje pode ser feita a monitorização e a gestão de efetivos pecuários, incorporando tecnologias inovadoras para melhorar a eficiência, a produtividade e o bem-estar animal. Entre essas tecnologias, o uso de veículos aéreos não tripulados – drones na monitorização de efetivos em campo tem se destacado como uma nova e promissora solução.
À semelhança da Agricultura de Precisão, o conceito de Pecuária de Precisão baseia-se no uso de sensores e tecnologias digitais para a recolha e análise de dados em tempo real, permitindo decisões de maneio mais informadas e precisas.
Nesse contexto, os drones constituem verdadeiras plataformas capazes de serem equipadas com diferentes tipos de sensores, proporcionando imagens aéreas detalhadas e em conjunto outras informações valiosas sobre os animais e as suas condições de vida. Em sistemas extensivos de produção, são vários os desafios com que se defrontam os criadores face à presença em campo dos seus animais: conhecimento da sua localização, qual a sua preferência/atividade nas zonas de pastoreio, qual a condição da pastagem num determinado momento, qual a carga animal (número e tipos de animais por espécies, raças ou idades), qual a condição de bem-estar desses animais, qual o risco de existência na proximidade de predadores ou zonas que ponham em risco a sua presença, são alguns exemplos. A visão aérea oferece uma perspetiva ampla e detalhada da condição do rebanho, a deteção precoce de comportamentos atípicos ou lesões tornando o maneio mais eficiente e sem necessidade de perturbar os animais. Estes sistemas podem operar de forma isolada ou combinada com recurso a modelos de inteligência artificial potenciando ainda mais a sua utilização.
O uso de um drone nestas missões passa essencialmente pela captação ou gravação de imagens. Para captar imagens é por um lado preciso entender o comportamento dos animais e por outro lado o tipo de equipamento a utilizar. Dessa forma, o plano de voo e a estratégia usada para captação tem que levar em conta a rotina do animal, tipo de área da parcela e exploração, e o modelo de sistema de produção.
No que respeita ao tipo de drone, existem no mercado essencialmente equipamentos de asa fixa e asa rotativa cujas características de utilização podem ser resumidas no quadro abaixo.
A facilidade de manobra em tarefas de monitorização e identificação dos animais em campo, o tipo de utilização em parcelas de relativa dimensão (até 30 – 40 ha) e distâncias de até 4-5km do sistema de rádio controlo, assim como o preço de custo mais acessível; podem justificar a escolha mais frequente dos modelos de asa rotativa para este tipo de missões.
Ainda assim e dependendo do objetivo que se pretenda na tarefa a realizar, a utilização destes instrumentos passa obrigatoriamente pelo tipo(s) de sensor(s) que equipam:
– Sensores Ópticos e Câmaras RGB são normalmente os de menor custo, permitem a captura de imagens de alta resolução no espectro da radiação visível; podem ser usadas para contar animais, fotografar ou gravar os seus movimentos ajudando na deteção de comportamentos anormais, lesões ou manifestações de comportamentos reprodutivos;
– Câmaras Multiespectrais permitem a análise da vegetação, identificando áreas de pastagem de alta e baixa qualidade, além de avaliar o vigor vegetativo da cultura;
– Câmaras Térmicas, são úteis para monitorizar diferenças de temperatura podendo ser utilizadas em avaliações de stresse térmico, ou simplesmente na identificação da presença de animais em períodos noturnos, em zonas de bosque ou sob coberto de montado;
– LiDAR (Light Detection and Ranging) utilizado para mapear a estrutura do terreno e a topografia, auxiliando na gestão da pastagem e na identificação de áreas potencialmente inacessíveis para o gado.
Com base nesta tecnologia a utilização prática dos drones passa por auxiliar na localização e identificação de animais perdidos, controlo de predadores, movimentação de animais, avaliação das áreas de pastoreio ou até mesmo pela distribuição de suplementos alimentares, neste caso com recurso a equipamentos com dispositivos para transporte e aplicação.
Com a capacidade de sobrevoar grandes áreas de forma rápida, os drones podem ajudar no controlo reprodutivo e na identificação de fêmeas em cio, economizando tempo e recursos valiosos que, de outra forma, seriam gastos na busca manual.
O drone pode funcionar como um “cajado voador”. A utilização do drone pode ser treinada com os rebanhos para facilitar à distância a movimentação dos animais através das áreas de pastoreio e ajudar a mudá-los de cercas. Neste tipo de aplicação é o próprio equipamento que empurra e conduz os animais. O drone paira a baixa altitude sobre o gado, que foge dele. No entanto, o facto dos animais não parecerem ter medo do som do drone faz com se movam suavemente numa direção determinada. A existência de portadas com comando remoto facilita este tipo de tarefas pois ao abrirem facilitam a orientação dos animais na passagem entre parcelas.
Quando equipados com sensores multiespectrais os drones podem realizar vários tipos de missões de controlo do estado vegetativo das culturas através do uso de indicadores vegetativos como o NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada). O cruzamento desta informação com a obtida pelos sensores RGB (espectro visível) permite de forma expedita a avaliação da qualidade e disponibilidade da pastagem e a deteção da presença dos animais (…).
→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de abril 2024
Autoria: Luis Alcino da Conceição
Professor no Instituto Politécnico de Portalegre Coordenador do Centro Nacional de Competências InovTechAgro