Trioza erytreae, também conhecida como psila-africana-dos-citrinos é uma praga exótica presente em Portugal continental desde 2014, quando foi identificada pela primeira vez no distrito do Porto, depois da sua introdução em Pontevedra, noroeste de Espanha, em agosto do mesmo ano. Apesar desta ter sido a primeira identificação em território continental, a sua presença era já conhecida desde 1994 no arquipélago da Madeira e desde 2002 nas ilhas Canárias (Cocuzza et al., 2017).

Não obstante, foi aquando da sua entrada em território continental europeu que esta praga mereceu um maior foco das autoridades fitossanitárias e científicas europeias, principalmente devido à sua potencial expansão para a bacia mediterrânica, mundialmente reconhecida como um dos principais centros de produção e troca comercial de citrinos (Dionisio et al., 2021). À data da redação, T. erytreae foi já identificada no litoral do Algarve, um testemunho da grande capacidade dispersiva deste inseto, agora presente em todo o litoral Oeste de Portugal continental (DGAV, 2024).

Este pequeno inseto picador-sugador tem como hospedeiros principais plantas do género Citrus, onde passa grande parte do seu ciclo de vida – ovo, ninfa e adulto – podendo, no entanto, resguardar-se durante os meses mais frios na vegetação arbustiva adjacente aos pomares (Cocuzza et al., 2017; Moran, 1968). De facto, T. erytreae prefere climas amenos e húmidos e a preferência das fêmeas em efetuar a postura nos rebentos jovens leva a um elevado grau de correlação das variações populacionais com o ciclo de rebentação das plantas hospedeiras (Green & Catling, 1971; Moran & Buchan, 1975). Relativamente aos estragos culturais diretos, o desenvolvimento das ninfas na página inferior das folhas leva ao aparecimento de galhas e à deformação foliar (Van den Berg & Thomas, 1991).

A redução de produtividade não é significativa

No entanto, a menos que estejamos perante densidades populacionais muito elevadas – como pode acontecer por exemplo em viveiros, em que as plantas apresentam um número elevado de rebentos jovens – a redução de produtividade consequente da alimentação e desenvolvimento deste inseto não é significativa (Tamesse & Messi, 2002). O problema surge quando T. erytreae transporta consigo, e transmite às plantas hospedeiras, a bactéria constritora do floema Candidatus libaribacter africanus, agente causal da doença de Huanglongbing, também conhecida como citrus greening disease. O bloqueio dos vasos floémicos pela bactéria leva invariavelmente ao ineficiente aporte de nutrientes para os órgãos reprodutores, reduzindo a produtividade e podendo levar à morte da planta. Trata-se de uma doença altamente destrutiva, responsável por grandes impactos económicos no setor em vários locais do mundo. Felizmente, esta bactéria não se encontra ainda em território europeu estando apenas circunscrita a África (Candidatus liberibacter americanus e Candidatus liberibacter asiaticus têm como vetor Diaphorina citri e estão presentes na América e Asia, respetivamente) (Dionisio et al., 2021). Não obstante, a presença e franca dispersão de T. erytreae na Península Ibérica preocupa as autoridades europeias pela proximidade geográfica e trocas comerciais com o continente africano, impondo assim a necessidade de controlar esta praga exótica.

Em Portugal, desde a identificação da praga, têm sido efetuadas monitorizações constantes ao longo do território e aplicadas medidas de contenção da sua dispersão através do estabelecimento de zonas demarcadas onde a presença de T. erytreae foi notada. A identificação destes focos constituiu o primeiro passo na contenção da dispersão, permitindo às autoridades competentes uma ação focada nas zonas demarcadas: impedindo a livre transação de plantas hospedeiras no interior e para o exterior dessas mesmas zonas; aprovação de locais de produção livres e de comercialização de citrinos e outras rutáceas; campanhas de sensibilização quanto a riscos e restrições aos movimentos das plantas hospedeira; recomendações para o transporte e comercialização dos frutos. Concorrentemente ao estabelecimento destas medidas, foram indicadas aos produtores práticas culturais com vista à redução e prevenção de ataques da praga nos pomares. Relativamente à proteção química, foi concedida uma autorização excecional de emergência para o combate à praga utilizando para isso produtos fitofarmacêuticos com base em azaridactina, óleo parafínico, óleo de laranja e piretrinas (DGAV, 2024).

Ainda que as medidas impostas permitam um maior controlo da dispersão da praga, estas foram insuficientes. Assim, ao abrigo dos princípios da proteção integrada, foi explorada a possibilidade de utilizar métodos alternativos de controlo com menor impacto ambiental. Destes, a proteção biológica, na sua modalidade clássica, tem sido o foco de maior atenção na resolução do presente problema.

A proteção biológica clássica compreende a utilização de insetos auxiliares – predadores ou parasitoides – endémicos do local de origem do inimigo da cultura. Ou seja, pretende utilizar os equilíbrios tróficos já estabelecidos no local de origem da praga, importando um inseto auxiliar de maneira a diminuir as populações da praga e estabelecer a médio prazo um equilíbrio entre as populações da praga e do auxiliar no novo local de atuação (Amaro, 2003).

Tamarixia dryi é um ectoparasitoide da família Eulophideae – família de insetos parasitoides da ordem himenóptera, bastante utilizados para o controlo de pragas – é o agente de controlo biológico mais abundante e eficaz no local originário de T. erytreae. Além disso, é altamente específico para T. erytreae, colmatando assim um perigoso risco inerente da introdução de um novo inseto num novo ecossistema, i. e. a disrupção das cadeias tróficas por potencial suscetibilidade de outros organismos ao invasor. T. dryi atua no organismo alvo através da inserção do ovo nas ninfas de T. erytreae, de onde emerge na forma larvar e se alimenta da mesma externamente até atingir a fase de pupa. É esta ação que torna o parasitoide tão eficaz, já que inviabiliza o desenvolvimento dos estados imaturos de T. erytreae, interrompendo assim uma fase crucial do ciclo de vida e reduzindo as populações (Urbaneja-Bernat et al., 2019) (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de fevereiro 2024

Referências: Consultar os autores.

Autoria: Joana Neto1,2*; Pedro Sousa1,*; Diogo Saraiva1; Ana Marques de Aguiar1,2

1GreenUPorto – Sustainable Agrifood Production Research Centre/Inov4Agro, Rua da Agrária 747, 4485-646 Vairão, Portugal;

2Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Rua do Campo Alegre s/n, 4169-007 Porto, Portugal.